sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Só não relincha por pura modéstia

A coletiva no Parque São Jorge já caminhava modorrenta, a passos de mamute. Aquele silêncio desconfortável entre uma pergunta e outra, um climinha de fim de feira pairando no ar, o técnico Mano Menezes falando baixo e pausado como que a mostrar que estva doido para cair fora dali. Neste cenário naturalmente bocejante, surge, do nada, um ser que eu não sei quem foi, e solta a pergunta mais burocrática que alguém poderia ter vomitado ali, naquela ocasião: "Quem irá desequilibrar o clássico: Ronaldo ou Adriano?". Merece aplausos inflamados, essa pessoa. Ela mostrou que a inutilidade de tais eventos pós-treino pode ser ainda maior do que se cogita. Afinal, ali era o lugar certo para soltar essa pérola: as coletivas sempre são uma congregação de lugares-comuns, e a competição para ver qual jornalista faz a pergunta mais estúpida ou redundante é acirradíssima. A criatura responsável por tal indagação estava em absoluto piloto automático; não buscava, nem em sonho, uma maior reflexão sobre o esporte e nem sobre a postura dos times e seus atletas, não intencionava arrancar do técnico algo que os outros não fariam, sequer cogitava sacudir o ambiente com algo mais provocativo ou inteligente (coisas que deveriam constar do manual de atuação de qualquer jornalista que honre sua profissão). Não: ele, preguiçoso, preferiu soltar a questão que todos já haviam feito e ainda farão até a hora do prélio, apenas para marcar sua presença e dar espaço para o próximo. E, sem a menor sombra de dúvida, sua matéria no jornal, na Net ou na TV, horas depois ou no dia seguinte, será tão banal quanto sua paupérrima retórica. Tadinho do Mano, que ainda trata com educação tal corja de presepeiros.

São esses os profissionais que as faculdades aprovam e os veículos empregam? Pessoas que não conseguem sair da superfície, possuem asco pelo questionamento, atentedem aos mandos e desmandos corporativistas de seus empregadores e fazem cara de bolacha quando entrevistam alguém? Depois reclamam que Muricy e Maradona destrata essa gente... Chamar esses repórteres esportivos de cavalgadura é ofender os eqüinos. Chicote neles, para tomarem vergonha!

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

"Futebol Idiota - Daily uma Porrada" - seu diário inconformado


$ - “Ronaldo está motivado para enfrentar o Flamengo”. Essa é a manchete que está, durante toda essa semana, sendo atolada nas goelas de quem queira engolir – e não faltam aqueles que, certamente, vão comprar. Nos jornais, nos portais da rede e, claro, nos programas “esportivos” dos canais televisivos: se ele vai jogar mal ou bem, não importa, pois sua motivação pré-vendida já justificará sua “grandeza”. Como já disse o Bury aqui, não é o time do Corinthians que conta, somente “Ele”. Mas o que assusta nesse bombardeio, propositalmente incessante, e que Goebbels aplaudiria, é exatamente a idéia de que um jogador milionário, consagrado, experiente, precisa de algo a mais do que vestir a camisa do clube para estar motivado em campo. Houve uma época, não tão distante, em que outro Ronaldo – este sim, um eterno ícone deste mesmo clube – era, com razão, achincalhado pela sua gente quando falhava contra um Novorizontino, em um jogo de turno pelo Campeonato Paulista. Aquilo, sim, era cuidar do que é seu, cobrar o amor puro do torcedor para receber de volta bom futebol em campo. Essa deve ser a única motivação de um player. Outros motivos podem engrandecê-la mais ainda, mas não são necessários. Assim eles vão construindo a mentira, seja para encobrir o sentimento dos verdadeiros flamenguistas, que nunca poderão esquecer que este embaixador da ONU prometeu a carreira toda vestir a camisa que dizia amar desde criança, e como o Tio Patinhas, deixou a sedução de algumas moedinhas douradas significar mais do que sua palavra; pode ser falta de coragem para analisar o medíocre quadro do futebol; além de que, não nos esqueçamos, há sempre a necessidade de valorizar o “produto” que gera rios de dinheiro para as mídias que compraram o futebol. São incontáveis motivos que explicitam uma única verdade: sob esta alma obscura e falsa, o futebol vai acabar de vez, em breve.


$ - O dia 4 de dezembro vem chegando, e com ele o momento mais importante da Copa do Mundo. Sim, desde que transformaram o mundial de futebol na maior vitrine de um esporte que só serve para vender, a definição das chaves e grupos é o fator decisivo para que possamos desenhar o futuro da competição, no mínimo, até as quartas de finais. Como se não bastasse aumentar o número de seleções - justamente quando o nível do futebol despencou - desta feita entupiram o certame com asiáticos, africanos, e polinésios. Quanta emoção em campo veremos! Faz-me-rir!


$ - O que normalmente me traria uma sensação inexplicável de celebração e gozos, tem hoje enfeito contrário. O jogo entre Atlético do Paraná e Botafogo, dois times que brigam entre si para se manterem na primeira divisão do Mentirão, tem tudo para abarcar mais uma avalanche de cruel parcialidade a favor daquele que pagar mais aos proprietários da bola. Socorro antecipado!


$ - Neste sítio, Bury discorreu, com muito carinho e conhecimento, a respeito da medonha atitude de alguns players brazucas nas “comemorações” do título da Copa das Confederações deste ano. Ao inverterem o lado de suas jaquetas, os fantoches exibiram seus nomes às lentes ávidas por putaria e desrespeitaram a própria seleção brasileira e seus heróis do passado – ainda que os mesmos teimem em vomitar como seus ídolos. Graças aos citados em questão, mais uma nova tendência teve início e, certamente, não deve ter fim. Na final do Mundial sub-17, os garotinhos suíços fizeram o mesmo no momento em que recebiam o troféu, após derrotarem os anfitriões nigerianos. Agradeçam, pois, a Julio César, Dani Alves – com seu nome engomado e modernizado -, ao correspondente divino Kaká, entre outros modelos da arte prostituída. A moda já pegou! Ah, moleque!

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Saudades daquilo que não vi

Meu camarada Fred, que vez ou outra comenta aqui neste humilde blog (e de quem já ouvi sandices absurdas em relação ao Ronaldo, mas eu perdôo), esteve recentemente na Argentina, em um tour de force pelos estádios de Buenos Aires e, in loco, conferiu algumas partidas nas canchas do país do futebol. Fanático pelo Independiente de Avellaneda, maior ganhador da Taça Libertadores da América, ele postou em seu álbum no Orkut algumas fotos da mitológica dupla Ricardo Bochini-Daniel Bertoni, verdadeiros heróis do povo rojo que tanto fizeram pelo clube na década de 70, e vê-los com seus cabelos desgrenhados e camisas simples me fizeram pensar na distância que vai daqueles para estes de hoje. Se Bertoni e Bochini eram os ídolos da massa, é porque não se distanciavam dela; eram parte indissociável de um todo: torcida, jogadores e clube. Os hinchas faziam a arquibancada pulsar; os craques em campo davam o sangue por aquela gente; a instituição tornava-se ainda maior por contar com quem honrasse seu escudo, tanto no gramado quanto fora dele. O futebol exibia ali toda a sua vocação de esporte mais popular do mundo porque quem o praticava como profissão também vinha do pueblo. Mesmo geniais como eram, a dupla se confundia com todos aqueles loucos que berravam seus nomes e comemoravam seus gols porque eram exatamente como eles. Estavam ali representando seus iguais, e dispostos a trazer alguma alegria a eles no final de uma sofrida semana de trabalho.

Mas, se algum tempo atrás poderíamos tomar uma cervejinha com Serginho Chulapa ou Sócrates depois de treinos de seus respectivos times, em algum boteco nas imediações de seus CTs, o que encontramos hoje é uma distância cada vez maior, e tão mais proposital quanto absurda, entre jogadores e torcedores. Estes primeiros agora são totens intocáveis, escondidos em carros blindados e transformados em verdadeiros bonecos de cera nessas patéticas entrevistas coletivas; os segundos, apenas potenciais consumidores dos produtos da marca para a qual torce. Isso, não são mais times, são marcas. Ouvimos muito por aí "a marca Corinthians", "a marca Flamengo", "a marca Grêmio"... Vemos, dessa forma, vigorar um grotesco sectarismo nas arquibancadas do mundo, já que a transformação de clubes em empresas encarece merchandising e ingressos e elitiza o que sempre possuiu alma orgulhosamente popular. Assim, não existe mais quem acompanha o futebol, e sim quem o consome. Esses é que são valorizados pela ordem atual: os que vão aos jogos dispostos a deixar seu carro em um estacionamento próximo, pagam entradas nas cadeiras cativas para a namorada ou à família, envergam camisas oficiais compradas em shoppings ou via Web a preços exorbitantes, comem nos restaurantes montados dentro do estádio... Se não quiserem se deslocar, podem adquirir o pay-per-view de algum canal por assinatura. Sangue, suor e lágrimas? Não mais. O conforto é a regra vigente - para quem pode pagá-lo, lógico.

E os atletas também embarcaram nessa. No recente campeonato sub-20, pude ver a mudança estampada nos rostos da molecada: muitos dos que ali estavam, na seleção brasileira ou em outras presentes ao certame, eram evidentemente bem-nascidos, filhos de uma elite que, por tanto tempo, repudiou a grosseria e as perspectivas pouco alvissareiras inerentes à carreira e ao mundo futebolístico. Hoje, colocar o filho numa escolinha representa um investimento. Pais vibram internamente com a possibilidade de um filho tornar-se "craque" bem sucedido. Não à toa, muitos dos que ali corriam já estavam bem encaminhados a clubes como Inter de Milão e Barcelona. O pragmatismo dos "planos de carreira", usuais em empresas de grande porte, atinge de forma incisiva o jogo, cada vez mais mecanizado e impessoal. Portanto, relembrar mestres como "El Bocha", com seu visual tosco, alma operária e grande, enorme, gigantesco talento, é relembrar também uma representação pura do futebolista que se perdeu nas cruéis alamedas do tempo. Precisamos, mais do que nunca, dessa agridoce nostalgia.

sábado, 21 de novembro de 2009

Calma, Sir Bill Shankly. Garanto que são apenas passageiras aberrações

Diretamente do canal televisivo que vendeu a alma do futebol, mais um capítulo do lixo que é uma arte apodrecendo: o efeito do Eclipse perambulou ontem no Pacaembu, triste e covardemente, como sempre.
No primeiro tempo do jogo entre Corinthians e Náutico, Ronaldo errou um passe – desses que o “craque” vêem fazendo aos montes neste embrionário e patético Campeonato Brasileiro – que deveria chegar até um tal de Edno, em posição de arremate. O “narrador”, claro, preferiu culpar a ineficiência do lance ao segundo. Como já afirmei aqui, “Deus” não erra, não peca. Ainda na primeira metade do prélio, o “comentarista/especialista” da era monetária que envergonharia Charles Miller soltou uma daquelas pérolas que me obrigou a visitar o banheiro, às pressas: um atacante do time “mandante” fora tocado na entrada da área, perdeu um pouco de seu equilíbrio, mas mesmo assim desferiu o chute à meta contrária, sem render o esperado gol. Para o tal súdito da ignorância/manipulação pré-estabelecida, a vantagem concedida no lance fora mal arbitrada porque ‘o atleta não chutou como deveria’. Ora, pois crianças! Ou um camarada desse não sabe nada de futebol, ou sabe tudo sobre futebol modernista! Se o jogador arrematou, não houve falta – talvez falta de categoria. A falta ocorre quando um jogador é impossibilitado de jogar. A quantos gols assisti de meus ídolos em posição parecida como aquela? Uma porção suculenta, e muitos espetaculares. Coisas de um passado que fica cada jornada mais distante. Respiremos fundo, pois o pior ainda está por vir. Este que chamam de Fenômeno anotou um bom ponto de cabeça – como fora o do Náutico no primeiro tempo - para empatar o placar, no início da etapa final de jogo. Minutos depois – vencendo a costumeira apática marcação imposta por mais alguns de seus fãs de carteirinha – quase repetiu a festa num chute cruzado, e no décimo minuto desferiu um chute para fora, após um corte num defensor qualquer. Pronto! Foi o bastante para que brilhasse o lado mágico do Eclipse. O mesmo “especialista”, fomentador de ocas opiniões, vomitou algo do tipo ‘... Já valeu o ingresso!’. Naquele mesmo estádio público devo ter assistido avantes do nível de um Luizão, por exemplo, ter feito mais do que aquilo incontáveis vezes. O nível do jogo despenca à velocidade da luz, e não porque os tempos mudam. No caso do futebol, sabemos que ele vem sendo transformado em detrimento da arte. E numa cancha dessas sempre há espaço para mais pérolas, se me permitem o infame trocadilho bilíngüe. Um carrinho de um jogador visitante fora desferido no gramado molhado pela chuva paulistana, provocando aquilo que já sabemos que os “jogadores” modernos adoram, ou seja, esfregar a bunda no chão. Evidentemente que a turminha dos microfones só foi notar que o salto do corintiano fora tão visível que - até mesmo pro nível deles - obrigaria uma explicação no replay do lance, e assim ela veio: ‘ O jogador forçou a queda, sim. Mas o carrinho, por si só, já caracteriza a falta’. Alguém aí se lembra da chamada publicitária da Nike ‘Diga não ao carrinho’? Não é coincidência, amigos. Pobres de Gamarra, Marcelo Djian e Franco Baresi, eles estavam errados! E eu, apavorado, tinha uma vez mais a prova de que eles querem, no mínimo, mudar um esporte perfeito por excelência. E teve muito mais!
De repente, uma falta é marcada perto da área do Timbu. Elias – ex-Juventus da Mooca e Ponte Preta – se aproxima de Ronaldo que se preparava para bater na bola – e durante esta temporada o Eclipse o vem fazendo de maneira bisonha para quem viu Marcelo Surcin, Neto, Francescoli, entre outros tantos cobradores. Visivelmente, o meio campista estava a instruir o bissexual companheiro sobre o que deveria ser feito: um toque para trás e o meia chutaria para virar o placar para o alvinegro. ‘Um abraço no ídolo!’, urrava de um murcho tesão o “narrador” após o gol concretizado. Sinais de uma mórbida criação, o fã que instruía um ídolo em campo num lance dos mais banais. Faz-me rir! Como a esta altura do circo, Ronaldo já estava nas nuvens – obscuras, há que se dizer – foi julgado como normal o avante perder mais um de seus gols absolutamente feitos, por tentar encobrir o arqueiro rival, quando um simples chute bastaria para decretar a vitória de seu time. Eu disse, de seu time! Alguém aí ainda se lembra do valor verdadeiro disso? ‘Ele pode, tem crédito. É um dos maiores de todos os tempos’, evacuou o “especialista”. Só se for um dos maiores desde que a emissora que o emprega comprou o esporte que tanto amamos – e olha lá! E o crédito de seu preciosismo inútil e egoísta custou caro. Com dois gols nos minutos finais, o time pernambucano fechava o placar definitivamente, em derrota para o time do “genial atacante”. Para mim, foi uma derrota bem maior do que apenas os números eletrônicos apontavam. Todos seguimos perdendo graças a esta nova ordem futebolística. Menos, claro, os falsos eclipsados deuses da bola. Que lástima.
Foi tudo tão bizarro que, desta feita, o score complicava temporariamente um dos escretes cariocas – que, do nada, voltaram a deitar e rolar nos bastidores, onde cada vez mais, se decide o destino desta arte que nunca morrerá de fato. Segue a dança, certamente errônea, na República da Putaria, que por hora chamam de Brasil. Socorro!

Nota: Foi vergonhoso, sim! Como dependente químico do futebol que sou, fiquei puto e decepcionado com o lance. Mas não foi obra do acaso. La Mano de Diós (a canhota, como não?) de Henry vem aí para assombrar os brazuquetes de Teixeira e Cia. Aguante que a Copa da África está logo aí, como diria meu xará borracho! FFF = 666

domingo, 8 de novembro de 2009

O Reich midiático em ação

Ronaldinho Gaúcho ($$$) aplicou um elástico no zagueiro da Lazio, dentro da área inimiga, no jogo de hoje. Ele estava mal em campo, em especial no segundo tempo, mas o tal lance levantou os narradores/comentaristas, que viram ali, salivando, o lampejo de brilhantismo que esperavam do nosso "craque". Só que houve um detalhe interessante neste lance: na sequência, ele saiu com bola e tudo. Não houve a continuidade da jogada, já que, depois de fazer o drible, o campo tinha acabado, e o atleta, na afobação egoísta de mostrar que é habilidoso, irreverente e "artístico", não se apercebeu desse fato. Seria uma situação de jogo como qualquer outra, até mesmo um tanto ridícula, não fosse a sensacional intervenção do VT: nos replays (uns 3 ou 4 seguidos), a televisão simplesmente cortou a bola saindo, e, interessada somente em pirotecnia e não em efetividade, mostrou o malabarismo como se tivesse sido realmente uma grande jogada. É o tipo de manipulação escrota e aparentemente inofensiva que serve para dar tempero aos banais programas de esportes, mas que não pode passar despercebida porque são muitos os interesses em ver o jogador "reabilitado" perante a opinião pública: o da Nike, e do próprio Milan, que não querem ver o investimento vultoso que ainda fazem no sujeito escoar pelo ralo; o da FIFA, que não gostaria de ver o detentor de dois prêmios seus de melhor do mundo se revelar um preguiçoso embuste; o da CBF e das redes de TV que possuem os direitos da transmissão da Copa, necessitadas de um chamariz maior para a despersonalizada seleção que irá à África ano que vem, e por aí vai. É gente muito graúda envolvida - e o asco provocado por tal repeteco é que o corte da saída da bola possui todo um assustador contorno político, no sentido mais desgraçado e imundo que isso possa ter. Joseph Goebbels, o manda-chuva da propaganda nazista, não disse que uma mentira repetida muitas vezes torna-se realidade? Aí está o replay de um simples lance futebolístico a nos mostrar, na prática, que isso realmente acontece. Coisa para meter medo no mais cético dos seres.

Depois, ele levantou-se, rindo como sempre. Não se vê felicidade nesse sorriso: vê-se nervoso, pressão, incômodo, vontade de sumir. Ronaldinho Gaúcho, tido por muitos analistas como a renovação da alegria no esporte mais popular do mundo, se vê cada vez mais acuado dentro do rótulo que lhe impuseram - mas o mantém, mesmo que com evidente mal-estar e falsidade. Sua postura robotizada em campo hoje em nada difere da de um executivo engravatado de seus patrocinadores, por exemplo, que bate ponto e trabalha enfurnado em um escritório. O futebol modernista reduziu jogadores a papéis estritamente burocráticos na manutenção de seu papel de "estrelas", e exige que torcedores engulam VTs demoníacos disfarçados de angelicais como se fossem verdade absoluta. Sinceramente, já não sei mais o que fazer.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Ensaio sobre a cegueira

Aleluia: alguém resolveu dizer um pouco da verdade sobre o Brasileirão - e veio de onde eu menos esperava, a mesa-redonda da fraquíssima ESPN Brasil (aliás, alguém aí ainda tem paciência com esse tipo de programa?). Não, não foi o Trajano: coube a Márcio Guedes, colunista carioca que dificilmente ultrapassa a linha do medíocre, dizer que o campeonato possui um nível técnico horroroso, e que, se é equilibrado, é porque se nivela por baixo. A declaração, claro, passou batida entre os outros articulistas, dedicados em nos fazer acreditar no contrário; mas eu não a deixei escapar - até porque, se (com motivos) Guedes é alvo fácil de chacota, com seu provincianismo e parcialidade levemente bairrista (como a maioria dos da velha escola), naquele momento ele mostrou-se honesto como ninguém ali poderia sequer se dispor. E, entre aqueles que se recusam a enxergar para esfregar areia em nossas vistas, tornou-se, ao menos por um instante, o famoso Rei de um olho só.

Ah: assisti ao clássico do domingo na casa do Toro, e a transmissão da Band foi pior do que esperávamos - e olha que já aguardávamos uma total catástrofe. Com a trupe mambembe de Luciano, Neto e Godói, o gol se banaliza: qualquer tento anotado é um "golaço". O segundo de Ronaldo foi comum, e contou até com falha do goleirinho verde, que foi ao lance sem a menor vontade de abafar o atacante. Mas, para o trio, chegou a rivalizar com os gols de Laudrup contra o Uruguai e Maradona ante a Bélgica, ambos no Mundial de 86. Vimos uma bijuteria, e eles a transformaram em um diamante. Só que o pior foi a descarada e ignominiosa manipulação dos números: mesmo quando o 9 corinthiano chutava em cima dos zagueiros, isso era computado como um disparo a gol. A bola não chegava nem perto da meta palmeirense, mas a estatística se alimentava disso. Quando foi feita a comparação com Vagner Love, o alvinegro levava absoluta vantagem, já que qualquer toque seu dado dentro da área era considerado como "chute". Ninguém nos falou, não é fofoca: NÓS VIMOS TUDO ISSO! Foi feito às claras, com desfaçatez inacreditável! Será concidência que, no programa esportivo do dia seguinte, o canal tenha dedicado quase uma hora a convencer o espectador que Ronaldo deve voltar à seleção brasileira? Me engana que eu gosto.