segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O que vou fazer quando a festa acabar?

Já fizemos algumas postagens aqui para comentar o inexplicável: Felipe Melo ser tratado a pão-de-ló por Dunga, na seleção brasileira, e pela Juventus de Turim, que o comprou por uma fábula da esperta Fiorentina, que repassou o jogador rapidinho e capitalizou barbaridade com isso. Pois bem: algumas semanas atrás, a realidade voltou a bater à porta do garoto, e ele foi eleito o pior estrangeiro do Campeonato Italiano, o popular Italianão. Nesse caso, não é preciso nem levar em conta o caráter altamente humorístico do prêmio - por vias tortas ou não, eles acertaram em cheio.

Melo nunca havia conseguido ser sequer titular nos três clubes nos quais esteve presente no Brasil - Flamengo, Cruzeiro e Grêmio. Não só isso: de todos ele foi enxotado, saído pela porta de trás, transformado em refugo e em peso morto para trocas em negociações de outros jogadores mais ou menos. O empresário do cara, já em desespero, tentou a última saída para um atleta em vias de fracassar 100% em uma carreira que prometia: o Eldorado europeu. De repente, lá surge Melo, brigador e raçudo, com a camisa da Fiorentina, depois de perambular sem brilho (como de costume) por alguns timecos espanhóis - e Dunga, sempre ligeiro, já o convoca para seu selecionado, orgulhoso por ter "descoberto" tamanho "talento". Do nada, ele passou a ser tudo. Em ascensão vertiginosa, foi à Juventus de Turim, clube que investiu uma dinheirama danada em seu passe, e lá foi recebido com pompas de xerifão do meio-campo. A fraude durou um magro par de anos: Felipe Melo está de volta, agora, aos tempos de Mengo e Cruzeiro, vaiado nas substituições, contestado no time titular, eleito o pior do torneio que participa. A carruagem transformou-se em abóbora.

Dunga aqui não dá o braço a torcer, e diz que seu menino de ouro joga em posições diferentes na seleção e na Juve. Como, agora, justificar a queda de alguém que o treinador "descobriu" e que se mostra um embuste dessa magnitude? Ora, se o manda-chuva observasse o currículo pregresso de Melo, veria que não era possível que alguém tivesse passado a ser craque assim, de uma hora para outra, depois de 10 anos batendo cabeça para obter ao menos a titularidade de times com expressão zero (Almeria, Racing Santander, Mallorca...). Isso absolutamente não existe para além dos vorazes reinos do marketing e dos assessores de imprensa. Viveu um bom momento na Fiorentina, mas foi extra-valorizado ao ponto do absurdo. Agora sim as coisas estão em seus devidos lugares. O próprio Dunga já mexe seus pauzinhos, e a convocação de Fábio Simplício nos últimos amistosos não foi à toa, não. O mundinho mágico dos clubes europeus e dos programinhas esportivos do horário do almoço possuem esse poder: ao mesmo tempo que lhe tornam um fenômeno, podem lhe atirar aos leões num piscar de olhos. Depois não diga que não avisamos antes...

(Para encerrar: alguém ainda agüenta o companheiro de Melo no meio-campo canarinho, o tal de Gilberto Silva, um dos maiores burocratas da bola? É cargo de confiança isso, assim como acontece em repartições públicas?)

sábado, 19 de dezembro de 2009

"Daily uma Porrada" - edição # 2


$- Volte Simone Melo! Assim foi Renata Fan às jogadoras de futebol, nos estúdios da Band: “como é o assédio dos garotos?”. Baseado em tal questão, formulo outras subseqüentes: para que ela precisa do diploma (que repetidas vezes afirma ter, rebatendo piadas sobre sua origem no jornalismo esportivo) se vais a fazer perguntas desse nível? Por que não levar jogadoras de futebol (e a Fan junto, claro) para um programa feminino da tarde, muito mais apropriado ao assunto sexual? Por que minha mãe, minha vó ou minha tia não podem apresentar programas esportivos desse nível? Por que os programas de futebol não falam mais de futebol e ocupam com asneiras seu tempo (que é caro uma barbaridade, diga-se de passagem)? Por que o futebol não acaba logo, de uma vez, para que eu possa descansar em paz, assistindo jogos de bocha na querida Mooca? Por quê???!

$- Um gênio como bobo da corte! Marcelo Surcin contratado para ser o “cara”, para funcionar como marketing (?) no ano do centenário corintiano? Faz-me-rir! Ele sempre foi o “cara” em campo, e continua sendo, colocando abaixo dele inclusive os “craques” da moda como Fred, Léo Moura, Douglas, Val Baiano, Hernanes, Tayson, Carlos Alberto, etc.

$- Prêmio para os burros! Ver o tal de Simon arbitrando um jogo pelo Mundial da dona FIFA foi ter, uma vez mais, a certeza de que o futebol está perdido, pois seus valores estão inversos e a imagem (não os erros e acertos, o nível técnico) é o que conta, no fim das contas. E quantas e volumosas contas, puta que pariu! Se bem que, se não fosse ele, quem iria? Há alguém no Brasil à altura dessa responsabilidade? Como no campo, a arbitragem foi nivelada pela mediocridade. Então, dá-lhe o gaúcho outra vez! Até que ele se aposente e vá comentar prélios ao lado do Galvão. Haja saco, amigo!

$- A punição ao Coritiba saiu rapidinho, hein?! Quem disse que a justiça no Brasil não funciona? A família daquele torcedor são-paulino que morreu no ano passado, vítima de um disparo na nuca, por um policial despreparado e covarde, ainda espera pela mesma rapidez da justiça – que, de fato, é cega e só funciona pelo toque (de uma boa graninha). A autoridade é o soldado que defende as finanças. Punir torcedor é limpar os centros comerciais, chamados de arenas para as famílias. E pior, não basta punir quem errou. Como ocorre em São Paulo, há mais de 14 anos, todos são banidos e censurados, impedidos de carregar uma bandeira. O erro da invasão ao campo – se assim pode ser qualificada – recaiu, uma vez mais, sobre todos aqueles que amam ir ao estádio e fazer festa. É a velha incompetência que se justifica nos programas de debate esportivo-financeiro, que não discutem o ponto de vista de quem ama seu clube, senão de quem consome seus produtos caros e modernos, de maneira obediente e de bico calado! Para isso a justiça esportiva aí está. Os frutos podres de Capez contaminado a quitanda de Teixeira!

$- A Rede Globo não aprende! Tudo bem que argentino tem para a emissora o mesmo efeito que um judeu tinha para Adolf Hitler, mas no futebol alguns fatos são indiscutíveis. Com urgência, alguém deveria ensinar aos globais que no Mundial estão os melhores times dos continentes. Até mesmo enquanto o Estudiantes vencia a partida contra o Barcelona, os microfonados insistiam com a balela de que este foi um ano terrível para o futebol argentino: “este título vai dar uma limpada, pelo menos”. Será que antes do jogo final entre São Paulo e Milan, pelo Interclubes de 1993, os mesmos cidadãos teriam a mesma opinião em relação ao ano futebolístico brasileiro? Ou teria sido “apenas” a vitória em Tóquio, com o fantasmagórico gol de Muller, que fez toda a diferença para o balanço futebolístico tupiniquim? Tenho certeza que não, e aí reside o veneno da manipulação. Porque se foi humilhante o selecionado de Maradona sofrer 6 a 1 em La Paz este ano, há 16 anos, na mesma cidade, foi sufocante ter de assistir a primeira derrota da história dos canarinhos em Eliminatórias (placar de 2 a 0 para a Bolívia de Baldivieso, com direito a um frangasso de Taffarel). E ambas as equipes alcançaram o único objetivo, aliás, das competições que sediaram tais tristes jogos na história de Brasil e Argentina ao vencer os uruguaios, no “apagar das luzes”, e se classificarem para os respectivos mundiais. Outro fraco argumento que os “especialistas” martelam para justificar a “pobre temporada” argentina é a crise financeira que tirou do cenário internacional os dois gigantes de lá, Boca Juniors e River Plate. Lapsos de memória devem sofrer, pois naqueles idos o futebol brazuca penava e se arrastava, como sempre: a volta do Grêmio para a primeira divisão após mais uma virada de mesa ridícula da CBF, que tornou o Mentirão inchado e sem sentido (vários clássicos não aconteceram por culpa de uma tabela infantil), a rendição do Palmeiras aos caprichos financeiros de uma multinacional para se salvar – sem contar que depois de mais de 35 anos, meu Juve caía para a segunda divisão no regional, o que pessoalmente torna o ano tão doloroso quanto este que se vai. Mas com o timaço de Telê arrebentando os adversários e vencendo a Libertadores, nem esses elementos poderiam fazer de 1993 um fiasco para o futebol local do Brasil - e acredito que tampouco uma possível derrota para o Milan o faria. Seguimos ouvindo os falsos profetas vomitando meias-verdades em nossos ouvidos, como se estes fossem pinicos. Menos, Batista! Os anos citados não foram nem terríveis, nem arrebatadores para os dois países, e sim temporadas comuns, com conquistas e fracassos, na eterna reconstrução de um cenário continental submisso ao europeu. Quanta falta fez o termo “imparcialidade” na educação do tal de Roberto Marinho! Que Diós nos ajude!


Nota: um beijo no coração de cada hincha de Rosário Central - 14 años del 4 a 0! 38 años de la Palomita de Aldo Pedro Poy!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Papo de Bueiro


Passar um domingo na companhia de Simone Melo, Elis Marina e Elia Junior – apresentadores do saudoso programa ‘Show do Esporte’, da TV Bandeirantes - era como estar num clube de campo, ou num parque público, absorvendo os maravilhosos benefícios que a prática esportiva pode oferecer. Talvez não fisicamente, mas mental, podem ter certeza. Você sentia que alguém lutava pelo futebol, pela natação, pelo pugilismo, vôlei, basquete, enfim, alguém se importava. O chefe da turma, Luciano do Valle, tecia incontáveis críticas a falta de incentivo do governo, apontava sua importância na formação dos mais jovens, promovia eventos no verão – toscos e, ao mesmo tempo, deliciosamente divertidos - e as transmissões dos campeonatos (Calcio de Maradona, Paulista de Biro-Biro, etc.) eram tão autênticas que não se apaixonar por elas era quase impossível. No domingo retrasado (6 de dezembro), a mesma emissora apresentou-nos mais um episódio da novela intitulada ‘Papo de Boleiro’, onde “jogadores” são exibidos como mercadorias, e os “repórteres” funcionam (apenas) como o Lombardi funcionava para o Sílvio Santos. Os domingos não são mais os mesmos, e a TV Band (bem mais “moderna” e alimentada pelo investimento de inúmeras marcas milionárias) se mostra descompromissada com as condições miseráveis do esporte e da educação brasileira. O produto exposto na prateleira ‘Band Esporte Clube’ desta vez foi um dos mais requisitados no mercadinho da bola, Ronaldo Gaúcho. E, como não poderia de ser, vimos um festival de falsas promessas e medíocres análises de sua carreira. Apesar de a chamada prometer que ele “falaria sobre tudo, sem medo da verdade”, exponho aqui três trechos marcantes que desmentem não somente o que o anúncio rezava, como também muito da carreira enganosa deste player. A única coisa que eu esperava ver, e que realmente aconteceu foi o clima descontraído que os dois elementos na tela mantinham, mesmo quando o assunto era uma derrota, ou algo negativo na história conturbada do irmão de Assis. O intuito ali não era cuidar, questionar, reformar, aparar ou avançar, e sim, ‘passar um pano’, ilustrar e vender! Vamos aos alarmantes fatos.

Quando o assunto foi os jogos olímpicos que o atleta disputou a coisa fedeu: sobre a humilhante derrota para Camarões, em Sidney (2000), o tal “craque” se dizia chateado pelo acontecimento “inexplicável” – visto que o time africano anotou o gol derradeiro atuando com três jogadores a menos do que o escrete amarelo. Bem, isso é verdade, aquele foi um jogo para entrar para a história, daqueles com o bom e velho requinte de ‘Davi versus Golias’ (que acontece com freqüência cada vez menor). O que nenhum dos dois teve a coragem de mencionar foi o fato de que no lance que originou o gol fatal, quem perdeu a bola no meio de campo (propiciando o inesperado contra-ataque), de maneira infantil e egoísta, foi exatamente Ronaldo Gaúcho. Detalhe, nada mais, não? Eu acreditei, por certos minutos, que o assunto seria tratado dessa forma, e que Ronaldo pudesse explicar o que tentou naquele lance (alguém aí se lembra da insurreição ao craque Toninho Cerezo?). Mas eu teimo eu viver o futebol como fui ensinado, onde o valor tem que estar vinculado ao que se faz em campo – quando o que hoje conta é muito mais o que se faz na telinha mágica. Sobre a outra decepção – aquela em que o player em questão fora convocado por Ricardo Teixeira e recebeu o apelido de ‘Patrão’ – novamente o atleta deu de ombros, se mostrou decepcionado, mas fez questão de afirmar que, apesar da derrota (3 a 0 para a Argentina), o que valia era representar o país. Como ele representou também não me pareceu um assunto importante a ser discutido; estar ali, sorrindo e aparecendo no telão parece ser o total significado de ‘representar a pátria’ para o sujeito. Ponto negativo para o papo.

Em seguida, o clima “esquentou” ao papearem sobre sua saída do time que o formou profissionalmente, o Grêmio de Porto Alegre. Impossível não lembrar que o camarada saiu de forma tristonha, rotulado de mercenário pela torcida, quando se devia esperar que um “ídolo” como ele, deveria sair como herói, e não vilão. Andando de mãos dadas, em intenções e argumentos furados, “repórter” e “jogador” se esforçaram para demonstrar que o que houve foi um grande mal-entendido, e que o jogador havia sido vítima da situação. Como o clube brasileiro precisava de dinheiro, e o europeu (no caso, o PSG, da França) o tinha para comprá-lo, as duas partes ficaram satisfeitas e ele tinha que seguir com sua vida, seu “trabalho”. Vejam, crianças, neste joguinho de interesses a torcida, o torcedor (aquele que está sempre ali, ano após ano, apoiando de verdade o clube, e sofrendo todo o tipo de abuso) não conta como parte interessada. Torcedor não é para ter opinião, muito menos para protestar! Sua opinião é oca para os investidores – melhor até não ter nenhuma, e sim bom gosto para consumir. Mais assombroso ainda, a emoção do torcedor também não conta mais para o jogador, tampouco para o repórter – aquele que jurou fazer de seu trabalho o retrato dos fatos e, como o médico que atende somente mediante pagamento, prostitui assim sua palavra e honra. Não há mais o sentimento de quem alguém, além de você mesmo, cuida do valor do esporte, se importa. Ele se assumiu gremista de coração: "um dia volto a vestir esta camisa" – descuidado, fez uma promessa que, justamente neste ano, seu mais famoso xará (porque são tantos que até me perco, às vezes) não foi capaz de cumprir, em relação ao Flamengo. Outro ponto contra!

E para encerrarmos o fluxo de merda que escorreu pela tela, abordamos o famoso tento decisivo que este gaúcho anotou contra a Inglaterra, no certame de 2002 (vitória brasileira por 2 a 1). Na ocasião, Ronaldo bateu uma falta perto da lateral direita e a bola acabou por encobrir o arqueiro inglês, caindo dentro do gol, no ângulo direito da meta. Primeiro, há que se dizer que apenas por trazer este assunto – da maneira como foi feito - já se via que vinha mais masturbação pela proa. E se Ronaldo não teve coragem para discutir temas errôneos e polêmicos na carreira, que dirá de um gol que ajudou, e muito, construir sua imagem de “craque” ao ser repetido inúmeras vezes - ao contrário daquele contra-ataque aos camaronenses, por exemplo. Magia das mesas de edições espetadas por bebidas energéticas - os novos agentes do futebol! Bem, desde o segundo seguinte ao lance tive a nítida sensação de que foi um chute para encontrar o cabeceio de outro jogador, e que o feito teve muita ajuda daquela ocasional sorte que (por bem) sempre fez parte deste jogo magnífico. Mas como não sou nem Deus, nem o autor da obra, era impossível ter plena certeza disso. Graças ao instrutivo ‘Papo’, e a argumentação do atleta para o lance, esta dúvida não mais existe: “não era para colocar ali onde ela entrou, mas era para meter no gol”, afirmou Ronaldo (às descontroladas e superficiais risadinhas de ambos). Insuportável o cheiro de podridão no ar, de uma forçada tentativa de parecer um garotinho gente boa. A covardia o cegou de que ali estava a oportunidade para demonstrar uma verdadeira e natural humildade - que tanto imprimem às áureas dos milionários players, e que se ressente nas atitudes e palavras deles. Qual seria o problema de assumir que a intenção era cruzar, e a bola acabou dentro da meta? Acredito até que seria mais irônico e provocativo ao derrotado – isso se ainda se importassem com algum espírito coletivo, em detrimento da purificação e engorda de suas contas bancárias. Qualquer pessoa que já tenha chutado uma bola, disputado uma partida de futebol – na várzea, ou profissionalmente, que seja - sabe que a única maneira de alguém chutar direto ali era, exatamente, colocar a bola onde ela entrou, ou no ângulo inverso – o que faria do seu chute algo bem mal feito, não justificaria suas risadinhas, e implicaria na explicação de onde, então, ele queria chutar. Ainda que os jogadores não treinem mais os fundamentos do jogo – e não por coincidência (e, sim, por conseqüência) o nível técnico está paupérrimo - não seria nada impossível um craque fazê-lo com intenção, ainda que naquela posição inusitada do campo (quem viu Zico, Neto ou Marcelinho executarem tiros livres atesta a favor). Mas se ele não queria colocar a bola ali, ia jogá-la onde? Nas mãos de Seaman? Faz-me-rir! Nem mentir como Bilardo e Edmundo, nem tirar um sarro como faziam Higuita e Viola esses “craques” sabem. Trezentos pontos negativos, pelo conjunto da obra!

Ao final do espetáculo, o "Patrão" disse que se não fosse jogador, trabalharia num circo. Possivelmente a mais inteligente declaração de todas – embora sua atuação como ator, modelo e (com conhecimento familiar, por que, não?) empresário não lhe caem mal. Sendo assim, emendo-a de primeira ao citar Franz Beckenbauer, que recentemente desabafou: “Robinho parece jogador de circo. Se jogasse com simplicidade, poderia ser um grande jogador”. O mesmo vale para este gaúcho, e para tantos outros que aí estão - pintados e bordados de semideuses do futebol. Engraçado como as coisas tem sempre dois lados funcionando. Bury e eu tivemos a idéia de um circo para os ‘malabaristas da bola’, já na época de Sávio e Denílson. Mas nós somos dois doentes por futebol, e não ganhamos um centavo com isso. Sabemos que o Kaiser faz parte daquela turma de ex-jogadores (Pelé, Platini, etc.) que estão sempre a puxar o saco da FIFA e de seus amiguinhos. Acredito que, com uma declaração pública dessas, sua paciência tenha se esgotado – e para provocar isso, podem ter certeza, Robinhos e Ronaldos são mestres. Peço desculpas aos eventuais freqüentadores deste sítio, tanto pelo titulo, quanto pelas palavras de baixo calão relacionadas ao mesmo. É que eu necessitava elevar um pouco o nível tratando de um assunto como este. Um beijo na alma de Simone, Elia e Elis - de alguém que se importa!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Parem o "Mundial" que eu quero descer!


Burro, estúpido e teimoso. Liguei a televisão para assistir ao jogo do Estudiantes de La Plata, válido pela semifinal da tal ‘Mundial da FIFA de clubes’. Não posso dizer que me arrependi totalmente, porque mesmo morto o futebol exala magia, desta feita personificada na estupenda vibração e cânticos da hinchada do Pincha. Mas sempre faço questão de dizer o quão decisiva é a proporção das coisas modernistas, na balança entre o que é relacionado à arte e ao dinheiro. Acredito que o que vou relatar, a partir de agora, encontra motivação no cheiro das verdinhas.


A alma que encobre as transmissões da Rede Globo me enoja: tudo tem que ser vendido, com tons mortais de publicidade barata, fria e imediata. Até o momento em que o time argentino vencia por 2 a 0, nada fora da comum mediocridade era ouvido. O nível atingiu a maldade quando o time do Pohan (um nome que me soava oportuno para a ocasião) anotou um ponto em total impedimento. O autor ilegal, um tal de Denílson, iria se transformar no grande personagem da fábrica de ilusões dos Marinho. É importante que se diga que este camarada é daqueles que, se aproveitando das brechas infames do futebol modernista, se mandou do Brasil e rodou por vários países de futebol inóspito e planetas distantes, até aterrissar neste torneio do ano do capeta - portanto, desconhecido do povo de seu país natal. Mesmo assim, era evidente que a oportunidade da emissora tirar aquela casquinha essencial pra cima dos argentinos estava incorporada naquele sujeito. Mesmo com a imagem vomitando a ilegalidade do gol, o fato do placar ter sido alterado à favor do time ‘brasileiro’ fez com que tivesse início a velha histeria dos “especialistas”. Minutos depois, o goleiro japa foi expulso num lance emblemático do futebol de hoje, onde a imagem espalhafatosa de sua saída errônea já justificaria o cartão vermelho. Não houve repetição do lance, ainda que ao vivo ficasse claro que não houvera violência para tanto. É a mera imagem do que poderia ser violento que já determina que um player seja retirado do campo de jogo. Autoridade, autoridade, autoridade. Onde estaria aquela arbitragem (irritantemente, até) impecável, que boa parte da escola européia desfilava até pouco tempo atrás? O camarada do apito, ontem, é um daqueles que está na moda - deve inclusive ser um dos mais cotados para arbitrar a final da próxima “Copa do Mundo”. Infelizmente, parecem todos absorvidos e obedientes à nova ordem do “esporte”. E, claro, que não seria das bocas globais que sairiam críticas a esse fato. O time coreano ficava com três jogadores a menos do que o adversário e, como já tinha realizado todas as substituições permitidas, se viu obrigado a colocar como arqueiro um de linha – no caso, o “nosso” querido Denílson. Detalhe: o jogo ficou parado por cinco minutos até que um sujeito da FIFA encontrasse uma camiseta para o novo arqueiro, numa demonstração clara de que tudo hoje tem que polido, “profissional” e robótico. Só faltaram mandar costurar um novo uniforme de goleiro com o nome do brasileiro. Haja saco, não coração, amigo! Nesse meio tempo, Denílson exibia muita alegria, com risadas e olhares para o telão do estádio – no melhor estilo Cristiano ‘Bailarina’ Ronaldo. O “comentarista”, então, afirmou que aquele estava sendo um excelente torneio para o brazuca: “fez três gols e agora vai jogar um tempo no gol, está se divertindo. Por enquanto é o artilheiro com três gols, uma das grandes figuras do torneio”. O fato de um desses gols ser em escancarado impedimento não faz a menor diferença no julgamento esportivo do atleta – pior, parece até aumentar a importância do mesmo. Talvez por isso as risadas abundantes do player; seu time estava perdendo uma classificação, que até parecia possível depois do gol, mas ele estava se valorizando, vendendo sua imagem, para que mais, não? Um mercadão ou uma copa, o que seria o tal torneio da FIFA?


O time argentino já estava com a classificação garantida, e passou os últimos vinte minutos tranquilamente tocando a pelota, o que irritou os microfonados. Nenhum deles percebeu que, para um time copeiro como o Estudiantes (como para qualquer outro com mentalidade aguçada, como foi o São Paulo de Telê, por exemplo), não havia motivo para aumentar o score, ou fazer embaixadinhas acrobáticas com a pelota – o objetivo da noite estava conquistado, como numa guerra (guerra = futebol). Imagino o mestre Silvio Luiz narrando estes momentos finais e, seguramente, ele ficaria puto com a atitude, criticaria, ou começaria a ler uma receita ao lado do seu xará Lancelotti. Mas os globais estavam querendo ação, movimento, cores, cifras, dribles, gargalhadas - porque sem esses estímulos fica difícil vender uma arte opaca. Nem tanto quando se tem Denílson em campo que, novamente se admirando no telão, abriu aquele sorriso antes de bater um tiro de meta. E o desejo dos ”especialistas” em ver uma defesa do mesmo chegou ao ponto do ridículo, quando ele agarrou uma bola rebatida no poste. Parecia que narravam uma defesa como a de Banks, em 1970 – na verdade, pareciam feirantes berrando o preço do quilo da batata no Mercadão. O “comentarista”, no limite de sua paciência com a “incompetência” do time de La Plata, frisava que aquele era um ano terrível para o futebol argentino: “não conseguem fazer um gol, com três jogadores a mais!”. Demorou alguns segundos até que o mesmo se retratasse, lembrando-se de que aquele escrete ali estava por ter vencido o único torneio continental que importa. Entendo que realmente há uma crise aguda no futebol argentino alimentada em especial pelo aspecto financeiro (e onde não há uma desse tipo?), e o fato de nem Boca, nem River se qualificarem para aproxima edição da Copa Libertadores é algo negativo para a terra de Diego. Mas imaginem a situação inversa: um time brazuca campeão da América, e o Brasil classificado à Copa como quarto lugar, vencendo o Uruguai fora de casa. Não preciso ser profeta para saber que seria “um belo ano para o futebol brasileiro, até porque o título das Eliminatórias não vale nada, e estamos na Copa, como os argentinos!”. Faz-me-rir!

Após o apito final (“não houve a esperada defesa de Denílson”, com tom de quem meteu e não gozou), e a classificação dos Pinchas, o ex-anônimo, agora o mais novo herói do futebol fabuloso da Rede Globo, pediu à Verón que trocasse camisa – já com a do seu time em mãos, enquanto vestia outra por baixo com aquelas frases sobre Deus, ou a família, ou a crise mundial, tanto faz. Segundos depois, via-se o maestro argentino ainda uniformizado, agradecendo, junto aos demais companheiros, sua gente que apoiara o time durante os noventa minutos. E antes que rotulem o craque como arrogante, transcrevo sua declaração na véspera do jogo, quando questionado se sentiria muita pressão de repetir o feito do pai (ex-jogador de Estudiantes, quando se sagrou campeão mundial de clubes em 1968): “pressão quem sente é o operário, que acorda às cinco da manhã, ganha um salário miserável e não sabe se vai chegar em casa ainda empregado”. Uma declaração bem ao estilo de Kaká, Robinho ou Denílson, não? O outro lado da moeda faz soprar um pouco de arte, ainda que como uma brisa acalentadora, antes que a tormenta global nos sufoque de vez. Aguante!



Nota: a manchete era “Vasco apresenta dois novos reforços para a Série A de 2010”. Traduzindo com antídoto-96, não interessa mais o campeonato carioca de Domingos da Guia, Dida, Almir Pernambuquinho, Doval, Zico, Romerito, Romário, Paulinho Criciúma e Renato Gaucho. O Mentirão de 2009 mal acabou (graças a Diós, como demorou!) e já estão atropelando o estadual para começar outro National Big Lie Championship! Não dou mais três anos, até que destruam de vez os torneios de maior tradição do Brasil! Estadual não dá dinheiro, não vende! À la mierda com ellos!


terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Ronald Golias não faria melhor

Dizia aí embaixo que os exemplos sempre frutificam - sejam eles bons ou ruins. Pois retomo o assunto para, primeiro, tentar entender o porquê de esse jornalismo esportivo global de tendência engraçadinha ter tornado-se padrão também para as submissas e pouco criativas outras emissoras, tanto de TV aberta quanto da paga. Será que só eu considero algo totalmente descabido e vergonhoso um sujeito como Tadeu Schmidt tornar-se referência daquilo que é feito na principal das mídias? Seu quadro no Fantástico é absolutamente constrangedor, suas piadinhas e trocadilhos são lamentáveis e em nada acrescentam de útil ao que é mostrado, seu timing, inexistente... Apenas sua cara de "bom sujeito" (como diz uma definição em sua "biografia", essa sim hilária, que encontrei aqui na Net) representa bem o que a rede do Jardim Botânico carioca reserva para quem a assiste, qualquer seja o horário ou o programa: informação asséptica, limpa como paredes de fast food, com a adição do molho especial (nesse caso, os inserts piadísticos de Schmidt) para complementar, com um pretenso toque de "personalidade" e "descontração", o recheio com gosto de nada do sanduba made in Globo. Assim, muitos telespectadores acham bonito mandar um vídeo para o tal Bola Cheia/Bola Murcha, pois sentem-se à vontade com o estilo "vizinho gente boa" do figura, e, ao mesmo tempo em que deliciam-se por serem alvo das chacotas estéreis ou dos elogios meia-bomba do apresentador, aliviam sua vontade de participar da máquina de fazer sonhos, nessa espécie de reality-show dos pernas-de-pau. É o mundinho das novelas, dos Big Brothers e das celebridades automáticas recriado dentro do futebol. Sintomático, não?

Se fosse só isso já seria ruim - mas o padrão "humorístico" alastrou-se não só no resto da programação do canal como chegou para nos atazanar em outros lugares também. Excrescências como o Globo Esporte e o patético É Gol, da SporTV, seguem à risca esse estilinho "moderno" de Tadeu Schmidt: apresentadores jovens e dinâmicos, com roupinhas da moda de cores chamativas e largos sorrisos a estamparem-lhe as faces, e que sempre possuem uma piadinha ou uma observação sagaz para fazer do jogo ou de um de seus lance, assim que estes surjam no VT. Pode reparar: é impressionante não só a quantidade de frases "espertinhas" que os narradores lançam mão, mas também a sua irrefreável pretensão de ser o tempo todo mais inteligente, mais "descolado", mais sagaz e analítico que o próprio espectador. A maçaroca de informação (palavra+imagem) por si mesma já serviria para confundir a capacidade de percepção daqueles que a recebem; os textos com fundo "humorístico", por sua vez, servem para deixá-lo ainda mais inerte em sua condição de receptor, pois o que é mostrado é desqualificado a priori pelo próprio agente da notícia como algo que não se deve levar a sério. Assim eles se colocam acima da gente, através das piadas; já que praticamente esfregam em nossos focinhos que aquilo que assistimos não passa de uma brincadeirinha para quem nos "informa". Portanto, quem ri com as provocações anti-argentinas de Thiago Leifert entra, sem se dar conta, nesse perverso jogo de manipulação e servilismo - e o preço a se pagar, acredite, não tem a mínima graça.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A mistificação nossa de cada dia

Adriano ganhou a "Bola de Ouro" do Campeonato Brasileiro. Claro que muitas outras premiações ainda irão ocorrer, uma mais discutível do que a outra (assim como são todas as entregas de prêmios, diga-se), mas essa é a que toma um vulto maior porque é a que acompanhamos desde tenra idade, e a que sempre demos mais importância. Existia um "romantismo" no prêmio entregue pela revista Placar que foi definitivamente enterrado - esses ano eles queriam porque queriam uma grife; eis aí a que sobrou, já que Ronaldo mal jogou 1/3 das partidas corinthianas e, pelos critérios de avaliação, foi desconsiderado entre os concorrentes (para evidente desespero dos redatores do veículo, que continuaram a atribuir notas altíssimas ao "Fenômeno" mesmo em suas partidas ruins). A coroação do "Imperador" veio a reboque da aclamação quase unânime deste certame como "o melhor de todos os tempos" - e a presença de jogadores-etiqueta como esses dois já citados mais Fred e Vagner Love, que tanto vestiram a camisa amarela, praticamente obrigava a mídia a cair de quatro para o Brasileirão 2009, independente do resultado deste. Essa foi a competição na qual estavam repatriados, mas ainda com o olho grande na Europa, os "grandes atacantes da nossa seleção" - e assim ela foi vendida, como o troféu dado a Adriano deixa absolutamente claro.

Só que o que mais me deixa perplexo no tal prêmio é observar a legitimação de uma espécie de salvo-conduto para aqueles rotulados como "craques", e que praticamente os blindam de críticas ou contestações. Aquela história de "matar um leão por dia" não existe mais: agora, se você já possui status de grande jogador, pode-se ficar o tempo todo na farra, passar diversas partidas a jogar mal e exibir uma máscara desgraçada nas aparições públicas que manterá a pose de gênio sem nenhum esforço - os outros se esforçarão por ti em mantê-lo no topo, sejam eles assessores de imprensa, companheiros de time, cartolas ou apresentadores de TV. Vejo jogos de Robinho e Alexandre Pato, por exemplo, e noto, com estarrecimento, que basta os mancebos acertarem alguns passes para que aquela seja considerada uma "boa partida" dos dois pelos grandes analistas, aqueles que entopem seguidamente nossos ouvidos com dejetos e mistificações. Sua condição de "estrela", sua presença na seleção ou mesmo na titularidade de seu time nunca é posta em dúvida - eles permanecem intocáveis em seus pedestais, deitados com conforto na cama que para eles foi feita.

Se eles (não só os da palavra escrita e dos microfones, mas também os da amortizada opinião pública) enxergam tal protecionismo como a saída para um futebol carente de maiores referências, não parecem ver é que é aí que a cobra morde seu próprio rabo: criam-se somente heróis falsos, de plástico, já que todos os verdadeiros ídolos são aqueles que também sabem lidar com seus revezes. Esses que aí estão só querem saber de sucesso porque são mimados por todos os lados para assim serem - e a mídia não só se alimenta disso, como também joga a rede salvadora para as possíveis quedas (até porque tomar uma posição mais radical significa colocar o deles na reta - e disso os "profissionais" fogem como o Crambulhão da cruz). Daí, se não houver nenhum tipo de reação (o que duvidamos), surgirão gerações ainda mais birrentas e mal-acostumadas que a atual (o exemplo, bom ou ruim, sempre frutifica). Quando chegar o dia em que um jogador não precisará mais correr ou sequer suar, eu não ficarei nem minimamente surpreso. E a covardia prossegue.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Incap(e)azes


Convido-os a uma viagem no tempo, afim de entender um pouco mais sobre como o homem se deixa levar pela mediocridade. A década de 1990 transcorreu como um grande laboratório para as mudanças no futebol mundial. No Brasil, vimos como uma empresa multinacional poderia interferir no jogo, quando a Parmalat encerrou o jejum de títulos palmeirense e nos apresentou – lamentavelmente – o “efeito suspensivo”, o desrespeito ao uniforme e levantou a (tão indesejada) sensação da “teoria da conspiração”. Na Europa, os estádios ingleses se transformaram em centros comerciais, servindo de exemplo para o que hoje é aclamado mídia afora como modelo (?). A justificativa para tanto, claro, era a “limpeza” dos mesmos em relação aos violentos torcedores envolvidos em episódios marcantes – ainda que nos dois mais importantes naquele processo, Heysel e Hillsborough, os responsáveis por tais eventos tivessem gigantesca parcela de culpa em seus tristes desfechos. Eram lançadas, então, duas pedras de sustentação para o que hoje chamamos de futebol moderno: a autoridade e a previsibilidade.

E, por um momento, estaciono a viagem no fatídico ano de 1995. Em agosto, após a “Batalha do Pacaembu” (o Heysel tupiniquim), inaugurava-se na terra tetracampeã mundial a era-Fernando Capez – o promotor público que, ao fechar as torcidas organizadas e instalar o medo que gera consumo, prometia cessar a violência que permeava o cenário do futebol. A mídia logo embarcou na idéia de que esta violência era ligada apenas aos vândalos das torcidas, e em nada tinha relação com os problemas sociais de um país corrupto e injusto por excelência – até mesmo misturar as torcidas foi usado como tentativa de emplacar o novo pensamento. No final daquele ano, a “sensação” voltava com toda a força, atingindo seu ápice na tenebrosa decisão do Mentirão de Giovanni e Túlio. As coisas começavam a parecer totalmente pré-elaboradas, exatamente o oposto do que o inesperado milagre do futebol nos fazia amá-lo incondicionalmente e apaixonadamente. Jornalistas paulistas passaram aquela temporada toda, em meio a histería do projeto denominado de “Ame-Rio”(a apelativa e inútil tentativa de mascarar a violência urbana que dominava a capital carioca), avisando que o campeão seria um time fluminense. E assim foi, naquela insuportável tarde do senhor Rezende. Pessoalmente, minha catarse veio apenas dois dias depois, quando, na final da Copa Conmebol, recebi uma irreversível descarga elétrica celeste e blanca, que me motivaria a seguir lutando por aquilo que se perdia. Ao viajar quatroze anos adiante na linha do tempo, a do futebol parece demasiadamente longe de chegar.

Foi neste também fatídico ano de 2009 que o Brasil conquistou mais um título futebolístico, e que, obrigatoriamente, nos faz refletir sobre muitas coisas: o país onde mais morrem torcedores nos estádios, com a média subindo, ano a ano. Pois bem, Capez foi incapaz de honrar sua palavra; e os torcedores estão (cada vez mais) incapazes de manisfestarem sua paixão como sempre o fizeram, desde Charles Miller. O caso da agressão ao atacante Vagner "Love" deixou explícito tudo isso de uma vez só. No seu stan-up horror show particular, José Luis Datena urrava coisas do tipo: “Tem que mandar prender estes vândalos, porque o futebol é alegria! A violência que antes existia, e que o senhor Fernando Capez brilhantemente eliminou, não pode voltar!”. Faz-me-rir! Estes senhores jornalistas desconhecem o que é ser um torcedor de futebol. Para eles, existem neste meio (e, provavelmente, na sociedade) apenas assassinos ou consumidores obssessivos; quando, na verdade, nenhum desses grupos personificam o sentimento de amar um clube de futebol. E, ainda que o mesmo divulgue seu programa como um “reflexo das ruas”, ele se mostrou ignorante do título obscuro que a nação que ele diz amar e defender “conquistou”, impossibilitando, assim, uma real análise da violência – nos estádios e fora dele, por consequência. A tal agressão ao avante alviverde (ou alviazul, nem sei mais) também despertou aquela velha “sensação”. Novamente um fato, antes da decisão de mais um Mentirão, mesmo que indiratamente, ajuda ao Flamengo – incontestavelmente um time que teve forcas “ocultas” impulsionando sua campanha. Só que hoje, diferente da década de 90, as coisas não parecem como um roubo num jogo de baralho entre amigos e familiares – igualmente repudiável do ponto de vista esportivo e moral. Porque aquela “sensação” surge a cada nova rodada; pior, a cada novo dia, nova hora, através das mídias incapazes de criticar com a devida indignacão, entupindo o cenário do bussiness da bola com manchas que me fazem, envergonhadamente, sentir certa saudades dos tempos do “efeito suspensivo”, ou do senhor Rezende. E todos os times, no fim das contas, são beneficiados e prejudicados pela nova ordem do futebol caótico e milionário, como se estivessemos num video-game de aberrações desalmadas e sem propósito humano.

Embora o tom do senhor Datena possa parecer apenas pessoal, ele é o reflexo da linha de pensamento comunhada por praticamente todos os seus colegas de profissão. Uns falam como Gil Gomes, outros tentam honrar o estilo de um Orlando Duarte, enquanto que a maioria veste a ridícula fantasia da babaquice circense, que virou moda. E assim foi porque a mídia se tornou proprietária do jogo, e, com a marca da covardia que os impussiona, não há mais espaço para questinonar a qualidade do que é seu – e ainda defendem a “liberdade” individual do capitalismo! Os programas policiais e esportivos, sem conteúdo e coragem, se misturam num perigoso merchandising, antecipando o evento: hoje é comum ouvirmos a chamada “Não perca! Vai ser um jogão!” - o homem brinca de Deus, de Mãe Dinah, e vende tudo o que pode. E aqueles que se opõem publicamente à esta ordem – seja um jogador (STJD), um jornalista (onde estaria Gérson?), um dirigente (taí o caso Belluzo, que anda falando muitas verdades) e, principalmente, um torcedor – encaram a punicão que aparenta calar e derrubar resistências: autoridade e previsibilidade, cuspidas e escarradas. O torcedor de verdade não quer matar, mas não necessita de consumo para celebrar o prazer. O entusiasmo que vomitam os microfonados sobre o atual certame nacional seria muito bem aceito por mim, sim, caso repouzasse apenas sobre a tabela de classificacão, as possiblidades de alteracão nas posicões, na loucura da “imprevisilbilidade” – porque isso, sem dúvida alguma, traz emocão. Mas esta emocão seria a mesma que sentiríamos ao acompanhar uma liga disputada entre os vinte piores times do mundo, imaginemos pois. Carregar esta emocão pra campo, hoje, é assumir uma posicão de cego ou de prostituído – e o futebol, como qualquer outro esporte, sempre ajudou o homem a ver, pensar e viver melhor. Agora, não mais. Nos tornamos viciados na ordem européia - que já nem é mais aquela que servia, então, de exemplo -, de chata mesmice que acelera o giro monetário e que destrói a simplicidade de um jogo que tem na tosquice sua essência tesuda.
Neste circo de Globos da Morte, continuamos a pisar em cadáveres (a caminho dos jogos e do trabalho, nos calçadões do centro) e carregagamos o fardo odioso de Capez: um estádio sem faixas e bandeiras é como um prato vazio, ou um céu sem estrelas. Em campo, vejo um festival de “estrelas” (que brilham retardamente) e de bolhas (no sentido figurado e, também, literal) decepcionantes para quem viu Raí (e não pode aceitar a “lideranca”de Hernanes), Evair (e tem vontade de rir com Keirrison) e Viola (este, sim, fenomenal com a nove corintiana). A massa rubronegra tem mais é que vibrar, sem pudor e medo, pois este foi, sim, o ano do capeta – com “crises econômicas”, “gripes incuráveis”, igrejas vindo abaixo para serem salvas pelo time de Di Stefano e a consolidação da Ronaldo-Mania, parte 3 (de longe, a mais infâme de todas). No fim desta jornada, a descarga elétrica celeste e blanca me empurra sempre a crer que ainda podemos sonhar, ainda que vivamos este cruel pesadelo.

Nota: em nome do Setor 2 e de todos os juventinos, agradeço à FPF pela ridícula tabela do Campeonato Paulista da série A-3, de 2010. Nossa energia vem da dor, e funcionamos melhor assim. Forza Juve!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Vamos entrar no clima!

Nosso querido Brasil vive um momento de euforia sem precedentes. Sediaremos, em um intervalo de dois anos, uma Copa do Mundo e uma Olimpíada, os maiores eventos do planeta esportivo! Já sediamos um Pan-Americano (com muito sucesso, o mundo diz) e também abrigaremos os Jogos Paraolímpicos... Caramba, daqui a pouco mandam também para cá as Olimpíadas de Inverno! Portanto, é com esse espírito de alegria e congraçamento que faremos, pela primeira vez, um post otimista, alto-astral mesmo, aqui nesse blog. Nos deixemos contagiar com a festa brazuca!

Primeiro, precisamos exaltar essa fenomenal Cameponato Brasileiro 2009, que agora chega a sua última rodada. O Flamengo, provável campeão, faturou o Corinthians domingo passado. Que atuação do Rubro-Negro! Mesmo sem Adriano, o time voou baixo - lembrou os timaços de eras idas, como o de Joel e Dida na década de 50 e a máquina comandada por Zico nos anos 80. O cavalo do Chicão foi muito bem expulso! O pênalti, claríssimo! Até o goleiro Felipe ficou atordoado com a categoria de Léo Moura. O já citado Imperador, inclusive, deve garantir a Bola de Ouro da Placar como o grande nome desse campeonato, já que Ronaldo, tadinho, saiu contundido aos 25 minutos do prélio, e não representa mais ameaça para o 9 da Gávea. O craque merece!

Depois, é necessário citar a reação heróica do Fluminense. Contando apenas com o brio de seus jogadores, gente que respeita demais a camisa que veste, e nada mais (repito: NADA mais), o time abandonou a zona de rebaixamento em uma sequência estarrecedora de vitórias. Na nossa opinião, Fred merece voltar para a seleção e ir à Copa da África! Ele tem carregado o Flu nas costas com sua notável categoria! Emocionante.

E, por último, o assunto que todos comentam: o Grêmio pode facilitar a partida para o Fla no último round dessa linda competição. A própria torcida tricolor pede por isso - afinal, afundariam os arqui-rivais do Inter em sua (ainda acesa) esperança pelo título. De cara, pode parecer estranho, escroto até, que torcedores anseiem por uma derrota de seu esquadrão favorito - mas entendamos que isso é por um bem maior. A tradição do futebol tupiniquim, em suas irreverentes rivalidades regionalistas, não considera isso, de forma alguma, um desrespeito com a jaqueta que envergam (e mesmo com as calças que vestem). Entregar o ouro é coisa que os índios já faziam por aqui em 1500, caramba! Temos raízes fincadas nessa prática! Nada mais natural que isso aconteça - pois então o Antimídia Futebol Clube se coloca a favor dos gremistas, que torcem para que seu time afrouxe o anel na derradeira rodada do "Brasileirão"! Faz parte, né?