segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O futebol e seu reflexo em nossas vidas

O general francês De Gaulle disse uma vez que o Brasil "não era um país sério" (consta que tal frase foi dita por outra pessoa, mas o que importa aqui não é o autor, e sim o seu conteúdo). Pois estava eu a assistir ao jogo do Internacional contra o Goiás nesse domingo último, quando aconteceu o lance da expulsão do atacante Fernandão. Já sem o replay era claro que nada havia acontecido: apenas o avançado havia se enroscado com o volante Magrão (e não adianta: se você é marcado por tal jogador, pode-se usar de qualquer recurso, menos fair play - ele, sem dúvida, não o fará). Pois aí o juiz, um tal de Ricardo Marques Ribeiro (ele na foto), resolveu jogar para a torcida, que hostilizava o goleador esmeraldino, e expulsou-o, em uma atitude demagógica e covarde. As repetições da imagem cansaram de mostrar que nada havia acontecido; mas, mesmo assim, o Goiás ficou com um a menos - e tomou uma goleada de 4 a 0 (é certo que já levavam um vareio enquanto Fernandão permanecia em campo; mas, com um a menos, fora de casa, fica difícil até mesmo pensar em reação).

Pois o que mais me deixou assustado foi ver a total passividade daqueles que transmitiam a partida. Mesmo com a imagem ali, evidenciando que nada havia acontecido e que o juiz errara clamorosamente, com prejuízo considerável para um dos lados, o tom dos comentaristas era de "ah, ele errou sim, mas não vamos nos preocupar com isso". Ninguém manifestou indignação, repulsa, aversão, nada. Pelo contrário: riam, como se isso fosse somente um inofensivo folclore, e discorriam sobre suas notas para o "prêmio Armando Nogueira". Quando falavam do lance, tateavam, com receio de demonstrar alguma certeza: "olha, eu acho que não foi nada, hein?". Claro que são tão covardes e omissos quanto o apitador - mas o que me saltou às vistas foi que esse é o comportamento típico do brasileiro, o ser que não desiste nunca. O atual escândalo do Senado, que, assim como o video-tape fez na partida, trouxe tantas evidências para a deposição imediata do presidente Sarney (e isso não aconteceu), mostrou que o brasileiro tem como hábito varrer tudo para debaixo do tapete, dizendo: "ah, esses políticos são todos iguais, sempre roubam e não mudam". E vai lá e vota nos mesmos parasitas de novo. O ciclo vicioso não se rompe nunca, porque somos um povo já moldado para a submissão. Os tais "brahmeiros", que não se importam de viverem esmagados, conquanto possam ter sua cervejinha no fim de semana. Para quê levantar a voz, se as coisas são assim mesmo?

Logo, logo, o tal Ricardo volta a apitar um jogo do "Brasileirão" - afinal, como gostam de dizer alguns analistas, o futebol "é apaixonante por isso". E assim, enamorados e medrosos, prosseguimos.

sábado, 29 de agosto de 2009

Mistérios do além-túmulo


As trajetórias de alguns "craques" do moderno futebol brasileiro são realmente intrigantes. O exemplo mais absurdo é o do Júlio Baptista. Jogador sempre presente em listas de convocação da seleção brasileira, e com passagens por clubes importantíssimos da Europa, o ex meio-campista do São Paulo, na verdade, só foi titular uma vez em sua carreira, no Sevilla. Sim: já com 27 anos de idade, ele só conseguiu ser titular, em todo esse tempo como profissional, em um único clube, durante um único ano! Enquanto esteve no SP, nem posição definida o cara tinha: jogava de volante, de meia-armador, de segundo atacante, centroavante... Não conseguiu acertar em nenhuma, e foi vendido ao Velho Mundo como uma verdadeira incógnita. De repente, virou gênio - e suas passagens apagadas por Real Madrid, Arsenal e Roma mostram que tanta badalação em torno de seu nome não se justifica. Mas, mesmo assim, ele é nome certo para a Copa do ano que vem, e periga até ser titular do Brasil em uma ou outra partida. Vai entender...

Mas toco nesse assunto porque, agora mesmo, assistindo ao clássico de Milão, vejo que o volante Thiago Motta apareceu do nada na Inter, e já é titular! Jogadorzinho mediano, sem grandes atrativos, ele já defendeu dois dos maiores gigantes do futebol europeu (foi "revelado" pelo Barcelona, como mostra a foto); e não é difícil afirmar que, se permanecer entre os titulares da Internazionale, também vai logo ser convocado para a seleção, independente do que esteja jogando ou se algum outro atleta de sua posição estiver em melhor forma ou passando por bom momento. É líquido e certo. Estando entre os 11 principais da Inter em boa parte do recém-iniciado Italianão, assim como nas outras competições que a equipe irá participar, ele com certeza terá a grande "chance" de vestir a amarelinha, já que o atento Dunga adora quem é de time grande, e os convoca exclusivamente por conta disso. Já imaginou que lindo, por conta dessa política idiota, uma dupla de meio-campo formada por Thiago Motta e Felipe Melo? É de fazer o pobre Didi revirar na tumba...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Pé-de-moleque na goela deles

Está para nascer algo que seja mais caipira que a imprensa esportiva nativa. É impressiontante o quanto esses caras se imbecilizam. No recente episódio da adequação do calendário brasileiro ao europeu, os capiaus torciam para que assim acontecesse, com os olhos brilhando - mesmo que isso significasse a rendição definitiva dos clubes daqui aos de fora. Sim, porque essa mudança teria como principal consequência a total abertura das pernas de nossos times, que, assim, poderiam vender jogadores ao exterior sem remorso, sem culpa, com todo o gosto. O futebol daqui não se fortaleceria; muito pelo contrário, se enfraqueceria cada vez mais, tecnica e políticamente. E os próprios campeonatos europeus sentiriam isso na pele, já que tal medida só faria por mediocrizar cada vez mais a mão-de-obra tupiniquim por eles adquirida (pois, com o baixíssimo nível de exigência dos gringos hoje em dia, os times do Brasil continuariam a investir somente em cabeças-de-bagre com lustro de craque). Isso seria assinar o definitivo atestado de dependência, e fazer do Brasil eternamente uma colônia futebolística - mas os pés-de-barro, ingênuos só na aparência (já que, nesse jogo podre, muito interesse graúdo se coloca em jogo), continuam a se maravilhar com o modelo estrangeiro. Por que eles não vão trabalhar lá na Inglaterra então?

Aliás, atualmente, quando cai um técnico no "Brasileirão", eu chego até mesmo a vibrar. Nada como uma boa derrubada de treinador para mostrar que ainda não nos entregamos completamente aos moldes quadrados do Campeonato Inglês. Nossa tradição é essa, por pior que isso seja; não temos que manter ninguém à frente de time por 3 ou 4 anos só porque assim é feito no certame bretão ou em qualquer outro torneio da Europa. Portanto, enquanto os "especialistas" continuarem a falar que certo é o Manchester United, que mantém o Ferguson há 800 anos no cargo, eu vou mais é querer que os daqui sejam demitidos aos borbotões.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Bola de Lixo

Um dia, já foi divertido acompanhar a Bola de Ouro da Placar. Claro, isso era na época que a revista ainda possuía algo de respeitável, e idem os jogadores que faturavam o prêmio (apesar de, claro, várias discordâncias absurdas - mas isso fazia parte do jogo). Como tudo que envolve o esporte nos dias atuais, tal troféu também se banalizou, e passou a funcionar como dispositivo de valorização de seus vencedores dentro do clube em que atuam ou para alguma inevitável transferência para o exterior. Nada é poupado na "globalização" do futebol brasileiro: o que for preciso usar para que os engravatados consigam arrancar mais dinheiro dos clubes nacionais e internacionais, eles usam. Nem algo meramente folclórico escapa.

Digo tudo isso porque tive a infelicidade de ver o último número dessa falecida revista. Se antes o meu susto foi ver o goleiro Felipe pela segunda vez em sua capa (o que será que faz esse cara tão especial para os redatores do veículo, hein?), o que realmente me apavorou foi ver o jogador mais cotado para faturar a Bola de Ouro no "Brasileirão" de 2009: Ronaldo. Sim, ele, que forjou uma contusão no braço para poder fazer uma lipoaspiração na surdina, é, segundo os critérios inanes da Placar, o melhor atleta desse campeonato horroroso. Não temos mais acesso às notas, que antes eram publicadas no Tabelão, suplemento que vinha encartado junto ao magazine; mas não é necessário nem vê-las para entender que, mesmo se Ronaldo não entrar mais em campo, vai faturar essa Bola de Ouro com folga absoluta. Basta apenas a sua presença para que sua avaliação seja, automaticamente, maior que a dos outros - afinal, ele é o "Fenômeno", não? O resto é o resto. E os que o avaliam sempre fazem vista grossa para suas patacoadas, mas amplificam por 1000 quando o sujeito faz algo digno de nota. Assim funciona. É gritante o quanto as cartas dessa eleição já estão marcadas, e eles não fazem a menor questão de esconder isso.

Nunca é demais lembrar que a Placar, juntamente com a Rede Globo, foram os que mais fizeram força para que Ronaldo se tornasse o "Fenômeno" perante a opinião pública. Me recordo como se fosse hoje do amistoso que selou a convocação do jogador para a Copa do Mundo de 1994, principalmente porque o escândalo que a emissora carioca fez por conta da presença daquele moleque de 17 anos que que prometia tornar-se um "gênio" do futebol é inesquecível (pelo lado negativo, claro). A revista também fez sua parte, colocando em letras garrafais na sua capa dois anos depois: "O Garoto de 20 Milhões de Dólares". Esse era o valor que a sua venda iria gerar para o PSV, clube que, à época, o preparava para ser vendido, tal e qual se engorda um leitão para as festas de fim de ano. Dinheiro, marketing, oba-oba, entrevistinhas divertidas, sessões de fotos "temáticas"... Bom, disso esses caras entendem.

sábado, 8 de agosto de 2009

Veja o Gordinho

Abaixo o volume quando assisto um jogo do bola pela TV. É péssimo para a saúde mental aguentar narradores e comentaristas por mais de alguns minutos. Porém, um amigo meu me alertou que Neto, da Band, soltou nesse último jogo do Corinthians contra o Náutico a seguinte pérola: "Posso tá falando besteira, mas o Jucilei tá merecendo a seleção já". Realmente, o nível (tanto o de palpiteiros quanto o das partidas) está desesperador - mas tentemos, ao menos essa vez, fazer um "morde-e-assopra" com o gordo xodó, antes que ele (ou a gente) vá de vez ao sanatório.

Claro que falar um negócio desses é coisa para deixar a gente ou envergonhado ou se fartando de gargalhar - resolva aí o que você quer fazer. Mas vejo que o balofo se empolgou mais do que deveria porque Jucilei veio do Terrão. O folclórico campo de peneiras do Corinthians ainda invoca um tipo de futebol à moda antiga, aquele do (hoje utópico) "amor à camisa", assim como traz à mente uma molecada suando e se matando em nome do time e também do esporte, com a mente voltada para o presente, e não para o futuro (que pode ser tanto promissor quanto desastroso). Isso obviamente não corresponde aos tempos atuais, já que a mercantilização tomou conta até mesmo da várzea - mas, por um momento, na mente e no palavrório do assaltante de geladeira, esqueceu-se o futebol mauriçola e sem vida que se via ali no campo (o horror, o horror...) e deu-se uma chance ao jogo como ainda o temos em sua teoria, e também em nossa saudosa (e apaixonada) memória. Por incrível que pareça, ponto para ele.

Mas o que não dá para relativizar na tal frase do pançudo é a banalização absoluta da seleção brasileira. O que pode levar um jogador a vestir a camisa amarela? Pelo visto, um ou dois bons jogos como titular em um time e o negócio está feito - e digo negócio porque é isso mesmo do que se trata: o intento é valorizar o moleque via o escrete nacional para todos lucrarem com sua venda ao exterior. É isso aí, a matemática é essa, ninguém escapa. Neto, mesmo sem querer, expôs o que de mais podre e lamentável o futebol moderno possui, a transformação do atleta em artigo de armazém - e, pela empolgação explícita da frase, ele acha tudo muito aceitável, normal mesmo. Até torce para ver o moleque entrar na linha de produção canarinho. Ele, que deveria lutar contra, prefere jogar confete. Nessa, ganha nota zero. Redonda (com trocadilho, claro...).