sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O horror nosso de cada dia

Como dizíamos desde o início do ano, Ronaldinho Gaúcho faturou uma Bola de Prata. Apesar de todos os esforços da revista Placar, que tentou por diversas rodadas entregar a Bola de Ouro ao grande "mito" do nosso futebol, o campeonato do ilusionismo não conseguiu forçar a barra tanto assim. Mas aí está: o troféu já estava entregue ao jogador desde antes de o torneio começar; jogando o que jogasse, ele a faturaria. O triste de toda a história é ver que a Bola de Prata, que antes, por ser um prêmio menos circense, proporcionava seu prestígio ao atleta premiado, agora faz o contrário: corre atrás, em mendicância desesperada, daquilo que acredita ser uma "grife futebolística" (não importa se ascendente ou decadente) para que estas lhe emprestem um pouco de "importância" e "relevância". Uma contra-mão que tem como objetivo o famoso (e, neste caso, literal) pote de ouro no fim do arco-íris.

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O Santos logo entra em campo no mundial da pirotecnia - e, apesar de escaldado com os procedimentos do marketing moderno, ainda me causa espécie ver Paulo Ganso, que não jogou esse ano, ser apontado como "craque", ou como "destaque" do time. Uma vez pregada a estrelinha de bom menino na testa da nova geração, é impossível despegá-la. Chega a ser ofensivo dizer aos do atual público do futebol (ou mesmo entre alguns com anos e anos de vivência entre os altos e baixos do esporte) que Pato sequer devia ser convocado para a seleção brasileira, por exemplo. Eles espumam, ameaçam nos morder. Como contestar que Pato é um "craque", um "fenômeno"? Dizer que ele mal entra em campo? Dizer que ele marca uma quantidade irrisória de gols para alguém com sua reputação? Como blasfemar a ponto de falar que o garoto Lucas, do São Paulo, não é um prodígio? Só porque ele nunca decidiu uma partida importante em sua carreira? Não adianta: vivemos em uma redoma de letargia e mistificação barata, e o futebol moderno é um dos agentes mais certeiros para a perpetuação de ambos.

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Kleber "Gladiador" chegou ao Grêmio já com status de "ídolo". É bom lembrar que o sujeito sequer entrou em campo com a camisa gremista. Pelo visto, com todos tão em dia com as obrigações e procedimentos do futebol 2011, nesse círculo vicioso de construções cimentadas com marketing, nem precisaria.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A mistura de dois que não dá um

Abro espaço para tecer um elogio ao putardo do Bury. Os textos do cara são cirúrgicos, com instinto de “V de Vingança” – acredito que tinham de ser lidos em pleno “horário nobre” da televisão. E
como ele contou essa linda historia de seu tragicômico domingo, vou dar continuidade a ela, voltando um pouco no tempo e a alguns domingos passados. Também será sobre o gordo Neto, mas, principalmente, sobre o nosso bom e velho “sangue, suor e lágrimas”, que tanto rivaliza com o “planejamento, execução e merchandising”.
Estava relembrando com um colega de trabalho as primeiras lágrimas que derramamos no futebol. Ele é bem mais novo do que eu, outra geração ate – embora sua mentalidade e atitude não demonstrem isso. Rompeu aos prantos pelo seu Palmeiras-Parmalat derrotado em 1995. Ali, a
sombra do antifutebol já rondava minha alma. Eu debutei pouco antes, em 1985. Desde esse ano, disputei torneios de futebol de salão e, ainda um garotinho de cinco anos no banco de reservas, não resisti aos gols que levamos numa prorrogação que valia titulo. Demorei a parar, ate que minha mãe ofereceu o lanchinho pós jogo e a coisa fluiu rumo a mais uma segunda-feira. Eu aprendia a nascer no futebol. Nos anos subseqüentes, derramei outras tantas lágrimas ao
jogar, mas nunca pela emoção da vitoria; sempre decepção da derrota. O futebol sempre ensinou os jovens a lidar com as adversidades da vida de maneira adulta, enquanto ele foi futebol de verdade. Ao vivê-lo intensamente, as derrotas explodiam na sua cara, assim como o cronômetro, impiedoso, não podia parar – e realmente não há como se esconder num campo de jogo desses. Mas é no futebol profissional que o caldo engrossa – incluso o das lágrimas. Meus olhinhos fitavam a TV, enquanto Zico, Sócrates, Platini e Julio Cesar perdiam seus penais, na épica
partida entre Brasil e França, na Copa de 1986. Não chorei; talvez muito novo, me senti “apenas” assustado e preocupado com o desespero e lágrimas de meus pais e tios, pós desclassificação dos canários. Parecia o anúncio de uma nova guerra mundial, de tão fúnebre que ficou minha casa. A vida seguiu. Vi meu pai, tomado pela raiva, espatifar no chão seus óculos quando D.W. Boschilla apitou o fim do jogo decisivo do Paulista de 1987. A luz havia acabado no bairro bem na
hora do sagrado jogo, e ele acompanhou o prélio num daqueles aparelhos de imagem em preto e branco, que pareciam cinemas para formigas. Enputecido, ele se trancou no quarto e minha mãe, imediatamente, veio correndo, querendo saber o que tinha acontecido. Eu sabia muito bem o que era – e era muito mais do que uma derrota em um jogo. Era o poder do futebol que me encantava cada vez mais; já estava cooptado por ele, e por esse comprometimento que te fazia destruir um objeto que seria útil no dia seguinte de trabalho sem pestanejar – o futebol realmente desintegrava os homens. Mas também não chorei. O velho havia me levado, junto
ao meu irmão e um primo, na primeira partida daquelas finais. Eu estava louco, não podia crer que existia tal universo nesse inferno de vida. Mas, em 1988, eu amadureci. Foi o primeiro ano que acompanhei, de fato (como “gente grande”), rodada a rodada, o Campeonato Paulista e não agüentava mais desconhecer o sabor de um titulo. Quando a ultima rodada chegou, e o Corinthians tinha de vencer o Santos e ainda torcer pela vitória dos rivais verdes (já desclassificados) contra a máquina do São Paulo, fiquei doido. E, do nada, anunciei ao velho: sou
tricolor. Honestamente, episódios como esse me fazem crer que desde tenro garoto já tinha uma intuição de buscar, por conta própria, meu verdadeiro amor no futebol – ate que me encontrei com meu querido Juventus. Em 1995, por exemplo, tinha o pôster de Giovanni com a camisa do Santos no meu quarto – não acho que essa seja uma atitude muito normal de um “corintiano”. Mas voltando a historia, eu tinha de ser campeão, de qualquer jeito. Ate que Gerson Caçapa matou os tricolores e me salvou de ser um Bâmbi. O convite, irrecusável, do velho para
irmos a primeira partida das finais contra o fortíssimo Guarani, me trouxe uma real possibilidade de ser o primeiro. ‘É agora ou nunca! Quem é esse Guarani ai?’. Envolto nessa insuportável expectativa, rumamos ao Morumbi inflado de bandeiras e rojões. Eis que surgiu, então, a famosa bicicleta de Neto – que, por sinal, aconteceu bem na nossa frente. E ali, como acontece com todo choro verdadeiro, eu explodi. Era muito humilhante levar um gol daqueles (ainda mais numa final) e o time adversário era visivelmente superior em campo. Eu não queria acreditar no meu azar. Somado a minha inexperiência de vida (e de jogo, também), o gol me fez visualizar duas goleadas bugrinas nas finais. Me fechei no meu assento e chorei feito um bebê, ate que o primeiro tempo acabara e eu, por fim, me acalmara - sem aquela tinhosa presença da pelota que parecia correr contra meu destino. Acredito piamente que as primeiras lágrimas no futebol têm de ser de tristeza, ou raiva. Como a raiz que vem da terra e troca com o ar seus
fluidos vitais – de baixo pra cima, de dentro pra fora, como toda revolução. Todavia, não chorei de alegria com o titulo de Viola, uma semana mais tarde – talvez ainda novo, um pouco tímido para derramar lágrimas triunfantes. Faltava algo, mas ali eu aprendi a bater punheta no futebol. Por mim, eu podia passar o resto da vida sem outra conquista, outra taça – já tinha passado pelo mais difícil, a perda da virgindade e da falta de gozo. E como ele é bom! Dois anos se passaram. Quem conviveu com o Corinthians nesses tempos, lembra que pós torneio estadual, não havia muito mais esperança pro restante do ano. Assim, quando Silvio e o Bragantino massacraram o time de Marcio e Ronaldo, fui as lagrimas de desespero – bradei pela casa que não iria a escola na manhã seguinte. Fui, mas colei num camarada corintiano e lancei: ‘pois é, agora só no ano que vem’. Como eu morro pela minha boca! O Campeonato Brasileiro chegou e com ele havia
Neto jogando como um Maradona (quase, ok). Seu futebol e liderança (muito mais do que “apenas” suas cobranças de faltas) levaram o Corinthians a um mata-mata decisivo. A expectativa era muito grande, e o velho levou seus pupilos a partida contra o Galo Mineiro, pelas quartas-de-finais. A necessidade de um bom resultado em casa, misturado a falta de cancha daquele plantel, fez o jogo transcorrer de maneira absolutamente dramática, digna de um teatro grego da
antiguidade. O jogo era elétrico e o Pacaembu tinha uma atmosfera de guerra literalmente, com bombas e gritos enfurecidos. Faltando quinze minutos pro fim de jogo, o placar apontava a vantagem mínima pros visitantes. Eis que o camisa dez, em dez minutos de jogo, virava o escore e sacramentava a vitória. No primeiro tento me emocionei muito, mas todos ali sentiam, juntos, que o empate ainda não era o orgasmo. Mas no segundo, explodi como nunca. Não havia como
resistir, segurar – como uma avalanche nas montanhas de neve. O aspecto heróico presente, o fraco batendo o forte, os abraços com meu irmão e com outros desconhecidos, os gritos ensurdecedores da massa, a expressão de delírio de meu pai... gozei, digo chorei – e muito, aos berros! Ali eu aprendi a foder no futebol. Fui empurrado para dentro do trem da alegria, como fazem com você no metro de SP as 18 horas (na verdade, em quase todos os horários hoje em dia). E adorei, claro.
Voltei a molhar o rosto e ruborizar os olhos em outras oportunidades: em 93 e 95, nas duas maiores roubalheiras que já vi – e nas duas eu torcia pelo afanado – e ate mesmo com o Brasil de Romário, em Los Angeles (minha grande despedida da seleção). Logo viriam a Nike, a Globo e as Ronaldos-Manias e todos os meus prantos a seguir (e já foram muitos, garanto) viriam acompanhados de um ódio mortal e não mais de decepção ou êxtase esportivo. Desses não quero falar agora. Ate que chegou a Mooca, nossa querida torcida e o titulo de 2007, o “Javarinazzo”
seguido de um milagre no ultimo segundo de uma temporada inesquecível pra mim e pro Juventus - detalhe, hoje faz exatos quatro anos desse dia inesquecível. Como Roberto Gomez Bolaños, fiz Pi-pi-pi-pi-pi-pi... Ali eu renasci no futebol e chorei com tal – e senti, uma vez mais, que nenhum dos choros antes dos grenás tinha esse sabor. Essas minhas memórias clubísticas antes de minha epopéia com os Travessos foram apagadas, sobrepostas pela paixão que descobri no time da Javari. Mas as lembranças permanecem ativas como coisas que vivi, aprendi, sofri e gozei. Hoje, nem ligo mais pra lagrimas de vitorias e
derrotas. Numa guerra, como a que estamos metidos contra o dinheiro, elas são apenas um combustível natural pra suportar a pressão. O mundo globalizado, misturado, onde a Coca-Cola Company promove shows para Chitãozinho e Chororó compartilharem o palco com a “roqueira” Pitty (de acordo, afinal eles representam o mesmo estilo, ou seja, o comercial) e a torcida favelada do Rock Gol da MTV veste camisetas do Mc’Donalds e Banco do Brasil não me agrada nem um pouco. Outro dia liguei nesse programa pra ver se ao menos um futebol que já nasceu
pra ser idiota me agradava. Mas não consegui fitar a imagem por muito tempo. O gramado
sintético e (muitas) outras coisas me fazem enxergar o futebol business em todo lugar. Lá estava, como sempre, o ex-árbitro Edmundo Lima Filho, que foi bandeirinha na final de Viola, em 88, e arbitro principal na final carniceira de 90. E como disse o Bury, o Netão, hoje “comentarista”, realmente comparou a virada de Adriano com essa que acabo de relatar, apesar da gritante distância entre elas. Simples, porque quando se custa caro e se sai de Porsche do Pacaembu, o
negocio tem de ser grandioso, a qualquer custo. Chorei, largado!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

É que a maquiagem ajuda um pouco

Aproveitando que Toro reativou este sítio, contarei uma breve historinha aos amigos.

Não via um jogo há umas três semanas. Não havia vontade. O Brasileiro, que todos os envolvidos financeiramente com a competição sacramentam ter "um final emocionante", só me provoca bocejos. Tudo ali recende a morte e oportunismo; cada novo jogo é um velório de 90 minutos com gente a disposta a tudo pela venda do caixão mais caro. Coisa reservada aos nulos de espírito ou aos entusiastas das facilidades modernas (tecnologia, consumismo, conectividade, etc.). Pois bem: fui encarar de assistir Corinthians x Atlético-MG. Não consegui; me perdia em meio a outras coisas mais interessantes. Então o Galo sai na frente - e o Mosqueteiro empreeende uma pressão tão fajuta, tão em acordo com esses tempos de aceitar qualquer carrinho como "raça", que instantaneamente passei a ter nojo daquela vergonha em campo. Era uma pressão desordenada e de fundo medíocre porém já rotulada de antemão como "típica do Corinthians"; a classificação precedia o que acontecia em campo, e assim deveria ser engolida pelos que assistiam, mesmo que esses percebessem ali um time amedrontado com a repercussão da derrota em casa para seus planos pessoais, e não um esquadrão em busca de uma virada a segurar o próprio coração na ponta de uma estaca.

Pois então o orgasmo da mídia (essa entidade que hoje é quem pressiona os jogadores e as agremiações, não mais a torcida) entra em campo: Adriano. Neto já percebe que o "Imperador" não tem condições de jogar, e o diz, até mesmo com certa raiva, no microfone da Band. De repente, Adriano faz o tento que vira a partida. Eu desando a rir, não conseguia parar de gargalhar, tive um acesso de riso como há muito não tinha, pois ali estavam desnudadas as maiores falácias do futebol moderno: um sujeito que, de gordo e aleijado passa a gênio em um piscar de replays; uma torcida que vaiava uma atuação bizarra de seu time e que, em alguns instantes de uma magia que só o hipnotismo coletivo pode proporcionar, passa a considerar aquela uma "virada histórica" (é muita história sendo feita em tempos tão nulos, não?); comentaristas de TV e redatores de sites já com as manchetes prontas, tipo "Adriano salva o Timão", "Virada na raça", "Sofrido como corinthiano gosta" e bobagens assim que não apenas não davam conta da piada que se via em campo, mas que mostravam como nossa época carece (mas não se interessa por isso) de sair do script do lugar-comum... Saí da sala ainda gargalhando; com o cenário todo pronto em minha mente, só precisaria ali continuar se fosse débil mental. No dia seguinte, por prezar minha saúde estomacal, não acessei site algum - somente um, o blog do querido Neto, que, já esperado, mudava seu discurso, agora em prol de Adriano, pois este "calara sua boca". Assim funciona: mude sua opinião de acordo com o lado para o qual o dinheiro e a preguiça mental apontam. Não mais assisti a nada relacionado a futebol ou ao imundo Brasileirão depois disso; e, quando algo surge de surpresa, minha reação imediata é dar risada. Fim.

(Em tempo: o site do garoto Lucas, esse craque que nunca decidiu um jogo, lançado com estardalhaço essa semana, configura-se como um dos capítulos mais constrangedores do futebol em toda a sua história. Não linkarei esse entulho aqui - se tiver curiosidade em ver a maquiagem que o modernismo reserva a seus "meninos de ouro", vá ao Google por sua conta e risco.)

Mudanças necessárias (e amargas)

Inspirado por dona Tota, ouvindo Alice in Chains


A permanência de Neymar no futebol brasileiro não significa uma vitoria do mesmo sobre o de fora, por favor! Significa business, planejamento, portfólios e marketing. Sou formado em Publicidade e dependente químico de futebol; dessas coisas aí eu até conheço um pouco. Se ele for pra Europa, primeiro vai ter que dividir a atenção com outros menininhos que já adquiriam esse status de Deus, tipo uns Cristianos e Lioneis que andam por lá - de Ferraris, claro. E dividir no business (o sinônimo de futebol hoje) significa menos bufunfa, nego! Olha o perigo, ai! Não podemos esquecer também da adaptação, sempre difícil para Sócrates ou Violas (tanto faz sua formação de vida). Você estará longe de tudo que sempre te cercou. Nem mesmo jogando bola e enchendo o cu de dinheiro, às vezes, compensa o esforço, e seu rendimento em campo pode (como muitas vezes já vimos em outros players) piorar – e muito. Pra que ver Neymarzinho rebolando de clube em clube, de fracasso em fracasso como seu heroizinho Robinho? Nada que vá atrapalhar sua participação da seleção da Nike. Pra se chegar nela hoje, basta vender - sabemos disso. E as vendas virão lá ou cá, jogando bem ou não, porque sempre se joga bem nas mesas dos publicitários e empresários. Mas será muito melhor vestir a antes sagrada – hoje, mais do que profanada – amarelinha sem esses atritos de imagem. Outro aspecto importante, é que não há mais diferença entre o futebol de lá e do cá no que diz respeito à carreira e outras coisas. Agora temos, aqui na terra das bananas, a mesma liga de 38 rodadas, o calendário, estádios (e alma) cada vez mais “europeus”; se não temos a Sky alimentando toda essa parafernália (tenham inveja, putos saqueadores!) aqui está dona Rede Globo pra fazê-lo. E graças a toda esta investida covarde que aqui sempre citamos, o Brasil tem hoje uma classe de consumidores do futebol tão potente quanto à de um país de primeiro mundo. Consumir é fácil, consome-se com avidez ate escovas de cabelos, amigo! E apesar do futebol não encontrar quase nenhuma diferença mais entre os diferentes torneios (ate porque todos eles estão recheados com jogadores do mundo todo), aqui, sabemos, o nível dos clubes médios e pequenos está cada vez mais paupérrimo e isolado de qualquer disputa com os da “elite”- e na verdade, isso também não tem muita diferença com o que vem acontecendo no velho continente. Sobraram, no “país do futebol”, os 12 grandes (num território que abrangeria quase toda a Europa; sinceramente esse número pra mim não é baixo, nem alto e, sim, absolutamente normal) e assim se disputa o “melhor campeonato do mundo”. Portanto, fazer Neymar ficar é fazer (muito) mais dinheiro. É apenas mais uma nova fase da investida capitalista no espírito esportivo e, conseqüentemente, da destruição do mesmo. Sinto muito, mas nós, do Antimídia, não compramos essa balela que tentaram nos fazer engolir. Abro a Folha de SP hoje e vejo a manchete “Não a Ronaldo”. Poxa! Seria um milagre dos deuses do futebol? Alguma – por fim – critica ao primeiro e onipresente deus do futebol mercantilizado? Que nada, Torito! O “não” que o Santos teria dito ao Real Madrid e a seu procurador Nazário - o novo “homem”empresário – só reflete na reportagem a promoção dessa nova fase de Ronaldo e os rios de dinheiro, claro, que ela vai trazer consigo. Foi apenas mais uma pecinha nesse quebra-cabeças, um estímulo a mais pros leitores receberem em suas consciências amortizadas pelo novo futebol, onde sumiu a expressão “mercenário”de tanto que ela se coloca como regra hoje pros players e afins. Tanto que no Uol – da “respeitável” Abril – nem havia mais um “não”estampado (esse que tanto dizemos, mas com o coração); estava lá, direto, a manchete de que o Fenômeno havia feito uma oferta por Neymar. Faz-me-rir! O açougue continua funcionando no futebol mercantilizado, gente! Amaciando e depois perfurando. Os deuses realmente estão onipresentes, nem precisam mais viajar além mar; aqui é a terra deles e de suas contas bancarias! E nos aqui, metendo o pau em tudo o que vier pela frente! Aguanten el blog de la locura!


...E Diós ficou órfão: lembro da historia do vestiário argentino, antes da partida contra os ingleses, na Copa do México, em 1986. Diego, sentindo todo o peso da nação, começou a chorar e gritou pela mãe “tiengo miedo, Tota! Tiengo miedo!”. Não houve convulsão, porque esse é O verdadeiro! Passada a explosão, virou-se a todos e gritou pela vitoria que ele traria (quase sozinho) dali alguns minutos – o maior de seus milagres! Dona Tota fora recebida com toda alegria e força que merecia na sua morada esperada. Forza Diego! Sempre estaremos contigo!

domingo, 20 de novembro de 2011

¡Canchatumadre!



Depois de minha trilogia da amargura, volto a girar minha metralhadora. Há um “detalhe” (curioso e perturbador) à respeito dos estádios de futebol nestes idos correntes: os espaços para os “ricos” e para os “pobres” foram completamente invertidos de papéis. O que se vê hoje é o futebol elitista, sonho de tolos do início da história do jogo, que queriam aquele jogo
“só pra eles”. Desde que o futebol saiu das galerias das escolas britânicas e das pompas da “alta sociedade”, que promovera em primeira mão aquele espetáculo, os estádios tomaram aquela mágica forma de, aproximadamente, 75% para o povão (setores populares, no cimento) e o restante para os mais abastados, que podiam comprar uma entrada mais cara do que os demais e
desfrutar do jogo todos sentados e com cobertura contra possíveis intempéries do tempo. Foi tudo natural; a demanda exigiu esse desenho e assim nasciam os campos mundo afora. Devido à volúpia da massa, que começou a viver a paixão desse jogo inigualável, as festas não tinham precedentes na história do esporte, o grito de gol tornou-se o orgasmo fora do sexo – embora tão
descontrolado quanto. Assim explodiu na cara do planeta o filho retardado do rugby. O tempo passou, chegou o maldito futebol modernista e a coisa, em torno dos dez anos, se inverteu por completo – e ainda continua a piorar. Se pararmos para analisar os campos de futebol de hoje,
vamos conferir que quase todo o ambiente está recheado com as classes A e B (atenção os da B; já tem hora marcada pro fim de seu deleite também), enquanto o povo vem sendo (literalmente) chutado para fora dos mesmos. O espaço onde se identificam os verdadeiros torcedores está cada vez mais diminuto – parece, as vezes, até uma jaula de zoológico (a Arena de Amsterdã tinha um setor desses já no seu projeto inicial, em 1996), onde ficaria o exótico, o diferente. Pois o
comum, o padrão, agora é aquele torcedor que só vive pela vitória (não sabe lidar com os outros dois resultados possíveis no escore –bem típico de um consumidor que exige “sucesso” a qualquer custo), compra todos os produtos idiotas do seu clube, não canta absolutamente nada (vale lembrar que o canto é a arma de um torcedor) e segue, de olhos fechados e coração aberto (eita combinação perigosa!) tudo o que o molde da mídia manda (e desmanda, também). A
atitude cada vez menos da vazão pela tradição de seu clube e cada vez mais de sua autopromoção
e presença (quase que somente) física nas bancadas – todos loucos pelas câmeras de TV (ou de celulares, idem)para forçarem uma lágrima ou expressão de delírio, susto ou qualquer rostinho deformado que imprima pro outro lado das telinhas algo que deve ser real, mas que nem sempre surge efeito ali mesmo, in loco, nas canchas, onde estão seus players e sua camiseta. Alias, fica aqui um aviso para esses momentos, onde os escolhidos pelas câmeras beijam seus escudos: fiquem atentos
se seus lábios não estão tocando também um dos diversos anúncios, que hoje inundam sua malha. E, realmente, nada está tão ruim que não possa piorar um pouquinho. Em 1995, mister Fernando (In) Capez determinava o fim das festas nos estádios. De lá pra cá, essa “tendência” está acelerando, deixando para trás a alegria e impondo o controle. Assim se constrói uma nova Broadway. Lavagem cerebral bem feita vem carregada de muita diversão e é feita vagarosamente,
para abafar qualquer percepção de manipulação, que agride quem não está alienado a ela. E a sociedade aceita passivamente e segue sua vida mundana, material. Sobre os estádios europeus (a musa do restante) nem sobram muitas palavras. Nem a privada da Rainha da Inglaterra deve ser tão asséptica quanto o campo do Manchester United, por exemplo, - ironicamente chamado de Teatro dos Sonhos (pesadelo ficaria bem melhor, agora). O Santiago Bernabeu, campo dos
merengues de Madrid, deve ter algum mecanismo para repelir qualquer manifestação
que não seja digna de reis – por que não lhes calam? E isso piora a cada corajosa bisbilhotada que dou, provavelmente a cada seis meses, pela ritmo que está minha vontade de ver o novo futebol. Vejam: nada contra o limpo e o burguês no futebol (afinal, ele é pra todos). Mas necessitamos de nosso cimento, nosso alambrado, nossos urros e gozos. Não me sinto um “animal” por estar atrás de uma grade – senão me sentiria assim num parque de diversões, por
exemplo. Nós, torcedores, nos tornamos animais quando somos tratados como tais pelas autoridades que organizam o jogo: com ingressos caríssimos, abuso de poder, com controle do que podemos e não podemos cantar, falar e – tudo isso – assistindo espetáculos cada vez mais fraquinhos e previsíveis pintados de épicos. E essa luta de classes no futebol não significa que somente das mais baixas na escala podem sair os verdadeiros torcedores a que me refiro sempre. Quem já viu Roberto Justus hinchando sabe do que estou falando. Mas a minha metralhadora de
hoje reflete o fuzilamento poético da maioria da população e o corte na raiz da atitude natural de ser num campo de futebol – dispensada sem honra, nem mérito. A atitude tem de vir sempre acompanhanda da mentalidade, como o yin e o yang. E este quadro pode, sempre, piorar, pelas mãos e mentes dos chefões da pelota. Mesmo que um torcedor venha das classes mais baixas, sua mentalidade e atitude já podem estar muito bem corrompidas pela nova ordem, que reflete a vida das “altas”: vide os celulares ligados e apontados sei lá pra onde, no exato momento em que seu time está fazendo um gol - sinceramente, isso pra nós do Antimídia é algo inadmissível. Ou então, novamente citando, essa exigência imediatista de vencer, como está acontecendo com o Palmeiras – que pra mim não está sofrendo nada mais, nada menos do que os efeitos do câncer do novo futebol, como todos os outros clubes estão ou vão sofrer, cedo ou tarde. Coisas assim não podem mais perpetuar. Bom domingo à todos – sem futebol “profissional”, por favor!

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Meu mundo sem futebol

Acordo. Muitas vezes, após um sono perturbado. Não posso pensar na bola. A realidade nua e crua bate à porta: a imperiosa necessidade de trabalhar, sobreviver neste Inferno. Em São Paulo, minha terra natal (que tanto amo e odeio), purgatório do bem e do mal, se encontra a infâme Babilônia – lar da exclusão e injustiça social, morada dos maiores preconceitos e afetos deste planeta. Após tomar a primeira de muitas doses de remédios que vou ingerir até o fim do dia, devo me conectar às linhas cibernéticas – até porque não encontro, de imediato, nada melhor para se fazer. Já passei do ponto de segurança de não me tornar um monstro ao combatê-los. Nem um inseto consegui me tornar – a frase de Marilene Felinto cada vez mais verdadeira e presente. Sinto-me fadigado, como se arrastasse em minhas costas uma rede lotada com toneladas de peso.
Nunca precisei do universo da música, cinema, escultura, pintura... tinha o futebol comigo, e nele havia tudo isso e muito mais. Sempre segui as tentações da vida com entusiasmo e coragem. Mas já é passado o tempo de me afastar deste vício de querer a pelota. É perigoso demais pra mim; catalisa o processo da fadiga. Devo escrever, então. Mas como o faço sempre com o coração em primeiro lugar, esta também se torna uma tarefa estafante. Exige-me lágrimas pesadas de
sangue, carreiras poéticas e figa apertada na canhota. Penso, penso e penso. Devo comer para me manter (minimamente) saudável. Tudo é caro, droga. Comer aqui custa muito dinheiro (trabalhemos, pois). Após invadir a internet, ela me rompe. O show do inútil e das notícias controladas diante de meus olhos. A mídia que serve de termômetro para esta sociedade domesticada até o talo. Para acalmá-la do caos, até mesmo dicas de como pintar as unhas vira notícia de destaque nos portais mais acessados e “respeitáveis”. O mundo se deixando levar
pelo oco. Volto ao dia-a-dia. Pouco me agrada no mundo artístico vigente, domado pelo tesão do auto-gozo e superficiais artifícios. Me arrependo, por um breve e dolorido instante, de não ter vivido qualquer outra manifestação artística com a mesma intensidade com que fiz com o futebol – ou ele teria feito isso comigo, e só ele poderia tê-lo feito? Acho que encontraria algo, sim, de meu agrado. Escondidas por aí, verdadeiras representações de arte ainda existem, sei disso. Mas não posso mais desfrutá-las, sem poder fazer com o número um em minha alma – é como um trêm perfeitamente funcionando e que de repente, perde a locomotiva. Chega! Agora, preciso pensar no trabalho. Pego às 13 horas e saio as 22. São duras, porém revigorantes horas. Fico longe das lágrimas na pressão da labuta, e só isso já bastaria para eu valorizar (e muito) aquele local. Mas como diria o pai de Kevin Arnold, “trabalho é trabalho”. Meu corpo pesa, dói em várias partes, por fora e por dentro. Moído pela fadiga física – que nunca vai ser tão intensa quanto a mental – penso muito no futebol. O problema sempre aparece se alguém quer falar de futebol comigo. Adoraria manter o mesmo padrão de alegria que eles, mas é impossível. A sombra
paira em mim desde 1996. Ela não me deixa em paz. Gera muito ataque nervoso e sinto, sempre, o dever de promover o anti futebol midiático que, inevitavelmente será (indireta ou diretamente) o assunto em questão. Sabem como é: cachorro mordido por cobra tem medo de lingüiça. Fim de expediente é hora de enfrentar a solidão do apartamento novamente. Tenho que comer mais um pouco, mas o estômago está doendo, apesar de ranger de fome. Sinto falta dos amigos,
do amor, da fiesta del fútbol! Mas não consigo mais enfrentar o caos do metrô, do transporte público paulistano. Engraçado que quanto mais propaganda otimista faz o Governo, pior, de fato, está o quadro que se tenta desenhar. Assim como no futebol moderno. Quanto mais os “narradores” gritam algo como “...é pura emoção, amigo!”, mas ela se faz ausente. Então fico comigo mesmo e o vazio do futebol e da vida. Tomo os últimos remédios: um pra dormir, outro pra não chorar, mais um pra cagar, outro pra respirar, pro psico, pro alento. E o melhor, e mais esperado, deles vem no último ato do dia, quando coloco no moderníssimo aparelho de DVD um jogo antigo qualquer – não me canso de nenhum deles! Em transe, começo a sonhar acordado. Ou teria vivido dormindo? Nem me importa. Mais um dia se foi, vencido, superado e a vida segue. Esse é o mundo de Deus, hombre! Passo longe de aceitar que minhas recentes lamúrias são sobre a vida, em primeira estância. Na derrocada é que deve-se viver seu ápice, diriam
Nietzsches, Hemingways e Seixas. É apenas a lamúria do futebol. Desse, eu já abri mão faz tempo. Boa noite.

Pelo amor dos meus filhinhos!




O futebol é meu ópio. Dependo demais dele, muito mesmo. Hoje, sofro porque não quero mais lutar por ele – não se pode ressuscitar algo jazido. Enquanto havia esperança, havia energia e futuro. Ultimamente, escrevo e falo com desânimo. Me enche de tristeza ver as pessoas ainda perdendo tempo com o futebol, vivendo-o como se ainda fosse aquele mágico jogo de alegria.
Hoje é guerra, na carne mesmo. Estão queimando nossas ações, em nome do lucro. Sinceramente, eles venceram, pilharam e nos resta esperar para ver ate onde este câncer vai
crescer sem que tudo exploda pelos ares. A televisão deixou o futebol burro,
muito burro demais.


Talvez eu esteja perdendo meu tempo ao desistir, me rebaixando mais ainda na categoria dos vermes terráqueos. Mas sei que vivi 15 anos gritando contra isso tudo, enchendo o saco de quem convive comigo, alertando “meio mundo” de que a arte esta sendo derrotada pela mediocridade rentável, a arma do capitalismo contra a vida. E todo esse ódio me levou a solidão e
loucura clinica. Não me falta força ou paciência – sobra-me desdém a este patético
circo que virou o futebol. E pra que lutar contra um circo, não? Deixem os
pulhas pularem por ai como pipocas, enquanto a semente que gera o sabugo jaz apodrecida
nas galerias das mesas de edições mídias afora. No inicio das mudanças, eu
realmente acreditava que as pessoas iriam se rebelar contra as terríveis
mentiras que construíram esse novo futebol modernista. Que por mais poderoso
que fosse, haveria um limite para a investida do dinheiro nos campos de jogo. Mas
não há. E as pessoas seguem como sempre: escolhendo o caminho da aceitação das
mudanças, sem ao menos filtrar o que se passa por seus olhos e mentes. A vida
segue, seja como for, não? E como uma catastrófica bola de neve, o que era emoção
foi sendo substituído por controle autoritário (das regras de jogo, ações
policiais, etc), festas com limites estabelecidos (parece piada imaginar um
descontrole controlado) e, principalmente, justificativas midiáticas com
efeitos imediatos no senso comum. Qualquer problema que surge e que parece ameaçar
a nova ordem é rapidamente abafado com alguma matéria televisiva idiota,
divertida infantilmente (Globo Esporte!), pouco informativa e que transforma
toda e qualquer ação de qualquer ator envolvido com o jogo (jogador, narrador,
torcedor, dirigente, autoridades) em padrão. Seja isolando aquilo que pode lhes
incomoda ou exaltando (com intensidade que envergonharia ate os faraós) aquilo
que lhes traz dinheiro (tipo esse Neymar aí). Para isso estão aí os Thiagos Leifferts.
E não adianta trocar de canal. Você não vai mais encontrar uma Bandeirantes,
que sempre representara o sentimento simples e direto de que o futebol pertencia
ao povo. Infelizmente, não o é mais. Todos envolvidos, hoje, têm o dever de
seguir (com cabresto e sorriso confiante) este mundinho que a Rede Globo trouxe
para cá, agradando mentores das Nikes, FIFAs e afins. Ai reside a certeza de
que estamos sozinhos nessa luta. Sobrou você, sua consciência e sua dor. A
ditadura não morreu; lamentavelmente, o futebol atual deixa claro isso. E a atuação
do torcedor se encontra absolutamente controlada, regulada – nem uma bandeira se
pode levar mais aos campos do jogo; quiçá manifestar-se abertamente contra
aqueles que são os proprietários do futebol. Tem mais essa: o futebol hoje tem
dono, amigo! Um, dois ou meia dúzia. Quem deveria mandar no futebol eram as
camisetas dos clubes e, conseqüentemente, os torcedores que viviam por elas.
Todos os clubes se transformaram em reféns desta hecatombe que os obrigou a
encaixar mais seis zeros nos “salários” de seus novos “craques”, seus direitos
de imagens e afins. E neste circulo vicioso, a trajetória esportiva, a linhagem
de diferentes estilos de jogo foram todos misturados nesse caos monetário e,
claro, vaidoso por parte dos milionários mimadinhos que deveriam estar ali só
pra “bater aquela bolinha”, certo? E não é mole ser milionário, filhos. É muita
coisa para manter, cuidar, bens e imagens de celebridades; o futebol tem de
ficar em segundo plano, inevitavelmente. Ate onde vamos parar? Como já escrito,
os canais televisivos não tem mais opção a não ser se enquadrar no novo molde,
pagar salários (também, claro) milionários aos comentaristas que falam cada vez
menos de futebol e esse especializam em parecerem bobos da corte da Idade Media
– entrar na dança, amigo! Promover o super show, abundante desta nova emoção cibernética,
em produção de serie, mega propagandas e vendas à valer. Jogadores, novos
artigos nas lojas, celulares touch-screen, apito de Nextel, tudo se conectando
e se perdendo no ar, automóveis luxuosos, festas excludentes e tatuagens cheias
de simbolismo oco da geração que clama pela revolução, mas não consegue dizer
mais “bom dia”, “por favor”, “obrigado”. O caos da modernidade, onde vive a
bomba atômica. E pensam que o futebol pode sobreviver intacto a tudo isso?
Nunca! Novamente, deixo aqui este recado porque o que entope, vaza. E, dentro
de mim, estou buscando auto-controle e uma saída.


Os deuses da bola devem ter iluminado um ser que esta
vendendo no centro de SP uma porrada de jogos antigos. Já comprei meia dúzia deles,
com fome de bola. Sinto, ao vê-los, um misto daquele deleite que só o futebol
pode trazer e desespero pela certeza de que não há mais aquele jogo. Alias, por
mim, ele poderia ate mudar de nome, sim senhor. Que falta eu sinto da incerteza
no jogo, que não poderia acabar. Havia a duvida no prognóstico do jogo. Narradores
bradavam a inconstância e não tinham medo de errar e de se contradizer, pois
era o jogo que fazia aquela reviravolta eterna. No olho do furacão, a sobrevivência
fala mais alto. Hoje, se muito, como acontece em jogos de vôlei (onde uma
equipe muito superior dificilmente vai perder pra outra inferior), esperam
apenas pelo escore final. Ta difícil imaginar um Ituano vencer um Santos,
realmente. Esta tudo muito controlável, dios mio! È bussiness, catso! Tem de
estar assim! Não podem mais “errar”, pois há consumidores (e não
mais só torcedores) pagando seus salários e exigindo a diversão que os
ingressos (ou pay-per-views) caríssimos exigem. A ridícula excelência à lá Wall
Street! Mas não somos bestas. Sabemos que num contexto incerto fica quase impossível
garantir o sucesso que bilionários investimentos clamam. E nós aqui, perdidos
nessa roleta do absurdo, onde a bola rola acompanhada de mil cores nas “chuteiras”
das “estrelas”. Acreditando que o sonho não acabou – tolos e maravilhosos irmãos
e irmãs. Vamos caminhando nessa estrada e nos encontrando quando a bola estufa
a rede e o trêm parece se encaixar nos trilhos novamente. Não vamos desistir de
viver. Mas precisamos acordar desse pesadelo e limpar a sujeira que ele deixa pra
trás quando a merda bate no ventilador. A televisão mandava em si mesma, tinha
responsabilidade no seu trabalho e colocava imagens do futebol para torcedores
sem ingresso assistirem aos prélios. Hoje ela manda no jogo, mermão! Ela tem
responsabilidade nas fintas, nos carrinhos (ou na Inquisição dos mesmos), nas comemorações...
em tudo! E tudo pelo dinheiro, não pelo espírito esportivo. Acham que podem
vencer isso tudo? Boa sorte, então!



*No Inferno, a gente abraça o Capeta, pois eis minha cota diária de egocentrismo também: um vídeo feito
por dois amigos da várzea, sobre futebol e loucuras. Rafael, becão de fazenda revolucionário
e Rodrigo Erib, ponta craque de bola, que só se atira ao solo quando não há mais
outra opção. http://cevadanavuvuzela.blogspot.com/2011/03/episodio-xii-fernando-toro-e-baden.html

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Pizzaz x Porras!

O futebol já acabou. Morto, como uma estrela cuja luz produz uma sensação de vida ao espectador. É no post-mortem onde ele se encontra. Agora é a hora de aceitar o destino, e virar as costas para este jogo que tanto nos ensinou. Ou, então, é hora de engolir as mentiras que sustentam o que sobrou da carcaça: vestir as mil camisas diferentes que estão a venda na super loja oficial de seu “clube”, como se a história que ilumina o passado ainda se fizesse presente, de corpo e alma, quando não o está; acreditar que os escudos nas camisas dos clubes voltaram a medir tamanho com os anúncios porque se respeita (novamente) o passado glorioso, onde jaz o significado das coisas – e não se dar conta de que não há mais diferença entre escudos e patrocínios; comparar os “craques” atuais com os do (opa, olha a mágica palavra novamente!) passado, pois se os de outrora não valiam nada perto dos de hoje, estes tem que ser – a qualquer custo moral, ético, comparativo – melhores ou, no mínimo, semelhantes aos de antes, pois assim manda o mercado que destruiu a bola; deve, também,
acreditar piamente que o campeonato brasileiro é o melhor do mundo, como se ainda houvesse alguma diferença entre ele e os da Europa ou qualquer outro rincão deste planeta. Passo este recado hoje, porque estas questões abundam minha existência, cuja necessidade de sentir e viver o futebol abunda em igual medida com este ódio que jorra em nossas ações reacionárias ao caos produzido pela ganância do capitalismo e moldado por este câncer da Terra, chamada mídia
privada.

Tempos atrás, concedi uma entrevista pro Terra, quando uma
enxurrada de jornalistas procurava a Javari para “entender” o que era aquele “ódio
eterno ao futebol moderno” que estampava a capa de um filme sobre o Juventus.
Nela, defendi Kléber como um jogador que saia da mesmice que esta geração
plastificada cria e recria com facilidade. E ele parecia mesmo um cara que ia
demonstrar em campo que o futebol é muito mais do que dinheiro – alias, é muito
mais do que tudo nessa vida quando esta sendo praticado; é o gozo que tanto
procuramos, não? Lembro bem daquele time do Palmeiras, que encerrou o jejum
palestrino de títulos desde 76 (porque entre 93 e 99 vimos uma multinacional campeã, além de um time). Gostava demais dos dois meio campistas, ambos com requintes
clássicos, e até mesmo Denílson – um dos primeiros fanfarrões, que colocaram a
bola atrás do dinheiro e que, jogando, pareciam sempre muito mais preocupados
com auto-afirmação do que com honra e gloria - demonstrou ali grande dedicação.
Passados só dois aninhos, o mesmo player está agora envolvido em mais uma patética
novelinha criada e alimentada pela mídia – logo esta acaba, e cria-se outra pro
seu lugar, exatamente como na grade de novelas comerciais. E seu futebol de
“guerreiro” também se foi, não só sua imagem de jogador envolvido com o jogo e
não com o dinheiro. Mas não sinto vergonha de minhas palavras após essa
mudança. Na mesma entrevista cravei, “o futebol moderno acaba com a resistência
das pessoas”, e assim será enquanto ele existir. Hoje, eu já nem sinto mais
falta do futebol em primeiro lugar. Sinto falta de mim mesmo, porque por mais
que eu seja forte e tente, dia após dia, não me desesperar, sei que não posso
viver mais normalmente sem o futebol. Nos últimos meses, sei que a falência (e
não me refiro aqui `a ”crise” de Boca e River, por favor!) e (mais) a morte
daquele espírito nu e cru do futebol argentino tem sido um dos principais
fatores para que essa sensação mórbida aterrorize meus nervos, minuto após
minuto. E sinto nojo de Messi, do dinheiro sujo, inútil, vago e oco.

O maior atentado terrorista que a Terra produziu foi a morte
desse jogo estupendo. Mesmo calejado por mais de 15 anos de luta contra esse
crime, me surpreendo às vezes tentando entender como conseguiram controlar algo
que era movido por emoção. Sabemos como e porquê, mas é difícil de crer como
robôs podem se tornar tão poderosos. Meu recado hoje não deve fazer muito
sentido. Assim como não faz nenhum sentido comemorar uma suposta vitória
do futebol brasileiro (pior ainda, deste “novo” Brasil, democrático” e “desenvolvido”)
sobre o de fora porque Neymar vai ficar no Santos. Como pouco faz sentido nesse
universo que antes (exatamente) nos dava norte e sul neste inferno de vida. Então,
peço desculpas a todos os amigos que, porventura, procuram este sitio pela
baixa assiduidade e vibração do mesmo. Resta-me pedir que abandonem este corpo
morto, não dêem muita bola mais ao futebol. Não significa deixar de ir ao estádio,
se emocionar e curtir os títulos destes tempos. Sigo alentando o Juve, nada
disso deve mudar. Mas há uma postura de ódio e repudio que deve ser levado aos
campos, aos bares e lares. Percebi que meu pai – corintiano fanático – anda meio
perturbado estes dias. Tirando o fato de estar preocupado com meu estado psicológico,
certeza também porque seu time anda envolvido com disputa de taça. Conheço isso
nele, e disso eu entendo! Meu colega de várzea, lusitano, também afirmou – para
meu desespero – que curtiu a campanha deste ano de sua Portuguesa campeã. Nada
disso deve mudar. O que não podemos mais é aplaudir (quando a emoção nos entupir),
sem olhar torto. Um olho no gato... Porque se continuarmos a aplaudir e comprar
as camisas, os “salários”, as mentiras, as mudanças de condutas, os
caixas-dois, a falência técnica do jogo... enfim, ai estaremos muito errados. Desde
criança ouvia a frase, “o futebol é o ópio do povo”. E desde então rechaçava
esta máxima com toda a energia que o futebol transferia a mim. Infelizmente, tenho
que acreditar hoje que, depois dessa enxurrada psicologicamente bem elaborada de
cores, imagens, shows, ele é exatamente isso. Hoje não há mais gozo, não se
escutam mais os gritos de “porra!”, que vinham carregados (da torcida, dos
players, dos árbitros e narradores)daquela energia (natural, por favor!)que
estrangulava o previsível e respondia ao que surpreendia e nos emocionava.
Hoje, está tudo cada vez mais relacionado ao mundo das celebridades, do status,
da beleza, da fama e da riqueza material. É a Broadway em carne e osso (e –
merda! – alma!). É o sentimento “pizzaz”, gíria utilizada pelos latinos que
vivem nos Estados Unidos, que reflete o desejo de ter esta abundância material –
que coincide perfeitamente com o universo da bola destes idos correntes. Aliás,
deve estar no meu sangue essa escravidão ao tempo. Peço também desculpas pela insistência
em ir e voltar o tempo (ops!) todo. Gooda bye, my friend! O futebol acabou. Resta-nos
viver sem ele.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Rápidos pitacos

Um bom exemplo (entre tantos) de como a mídia esportiva brasileira é subserviente e prostrada, é deixar passar a oportunidade de mergulhar nos meandros escusos dessas negociações do futebol brasileiro com a máfia russa. Uma história como a de André, atacante ex-Santos que pra lá foi e retornou alguns meses depois como se nada tivesse acontecido (ou como se sua transferência tivesse custado alguns centavos, e não muitos milhões), fedem de longe. A quem isso serviu? A quem isso calou? Qual a responsabilidade do "grupo de investidores", os que receberam esse dinheiro de procedência (não tão) duvidosa e que agora o gasta sem atropelos? Como esses nada modestos montantes continuam a levar jogadores daqui mesmo que exista a suspeição e indícios claros de lavagem de grana criminosa? O dia em que o jornalismo deixar de ser a área de trabalho de analfabetos funcionais e candidatos a figurante na Praça É Nossa, quem sabe...

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Um dos muitos mimados e metidos a prima-dona do futebol nativo, jogador supervalorizado devido à crônica carência de reais talentos, chamado até mesmo de "ídolo", o atacante Kleber (foto), do Palmeiras, agora adota o procedimento Rogério Ceni no trato com a imprensa: situa-se, arrogantemente, como que em um mundo acima do resto de sua equipe. Despista, com palavras ambíguas tipo "precisamos" ou "não podemos", qualquer imposição de responsabilidade perante o mau momento da equipe, assim como atribui, de forma enviesada, a "culpa" a atletas de todos os setores do time - e ainda se dá ao direito de ditar soluções ao que não lhe compete, enquanto acumula trocentos jogos sem desempenhar sua função, ou seja, marcar gols. O apelido "Gladiador" sugeriria que o atacante encarasse sem medo os percalços do caminho - mas ele prefere, pelo visto, fazer o contrário. A não ser que se confunda prepotência e crocodilagem com "raça".

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Mário Fernandes não foi à seleção - e esta é uma das histórias mais mal explicadas dos últimos tempos. Porém, o que chega a público é que o jogador já possui o agora tradicional "grupo de investidores" pro trás de si - então, se sua estranha ausência no milionário bando da CBF ainda carece de esclarecimento, até por conta da "valorização do passe" que sua presença por lá traria, o motivo de sua convocação agora está bem menos nebuloso. As lombrigas e os sanguessugas agradecem.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Quem não sangrou não sangra mais

Resultados como o 8 a 0 que o Barcelona enfiou no tal Osasuna fim de semana passado só impressionam aos mais facilmente impressionáveis. Mas pensava esses dias que a greve no Campeonato Espanhol veio na hora certa: o volume de dinheiro investido por Barcelona e Real Madrid não pode gerar concorrentes. Eles precisam reinar sozinhos, para que tal montante de cascalho injetado massivamente em suas "estrelas" não seja em vão. A concorrência, se existir, se já não surge enfraquecida pelo assustador peso dos gigantes, precisa ser esmagada e humilhada, para manter-se em seu devido lugar. O futebol-dinheiro, assim como no mundo dos arranha-céus e das manobras de escritório, também gera oligopólios - e o retorno do Campeonato Espanhol mesmo em estado agonizante representa como nenhuma outro o quanto as idéias feudais ainda encontram respaldo no ser humano "moderno".

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Desde que os cabelos passaram a ser peça fundamental de um jogador de futebol, e que cabelereiros são contratados por clubes e seleções para dar um trato no visual dos "craques", o fundamento chamado 'cabeçada' sumiu dos estádios. Onde estão os grandes cabeceadores? Desapareceram com um golpe de laquê atrás de algum moicaninho por aí. E fica fácil entender: como desmanchar um topete, que tanto trabalho deu para ser montado, que tanto gel gastou para ser erguido, que tantos "seguidores" encontra arquibancadas mundo afora, com uma cabeçada, essa coisa rude e primitiva? Antes não saber cabecear do que tornar-se um pária que renega os modismos mais quentes dos gramados, não?

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Fico a imaginar o que uma pessoa que leva esse futebol de 2011 a sério, acha "interessante taticamente" um espetáculo de horrores sem precedentes como Avaí x Palmeiras, que aceita um jogador tipo esse Tinga, do Palestra, como "um bom meio-campista", faria se vivesse em outra época. São esses os que costumam dizer que "os jogadores de antigamente não dariam certo hoje". Qual a base de uma frase dessas? O quê um atleta do passado, de qualquer época, não faria agora, nesse mundo de Luans e Mários Fernandes? Na verdade, são os fãs do futebol-dinheiro que não se encaixariam nas toscas assistências do passado, pois não entendem como o futebol um dia já existiu sem chuteiras coloridas ou salários exorbitantes - e seu elitismo é tão abusivo que situam-se acima do espectador de qualquer época sem ao menos entender o seu próprio tempo, e sua função dentro deste, para além do consumo incessante e do marketing desenfreado de idiossincrasias (via Internet, claro, essa ferramenta fundamental para a disseminação do vazio). Assim, eximem-se, inconsciente porém convenientemente, de qualquer responsabilidade perante a morte do jogo. Ver esse tipo de coisa me mostra que ser saudosista pode ser inútil do ponto de vista prático, mas, no corrente ano, é quase uma necessidade vital...

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Alô você, venha bater um escanteio!

http://placar.abril.com.br/bola-de-prata/brasileiro/figueirense/noticias/top-5-e-destaques-da-bola-de-prata-ate-a-22%C2%AA-rodada-do-brasileirao.html

"O escanteio cobrado com perfeição contra o Corinthians desempatou a briga pela Bola de Ouro, que agora é de Ronaldinho Gaúcho".

Atenção você, que é ou não jogador profissional!

Treine muito para bater escanteios, pois isso pode levá-lo a ser o incontestável líder da Bola de Ouro do "Brasileirão", e a merecer toda sorte de elogios por sua visão e categoria! Sua cobrança de córner pode tornar-se um daqueles lances que marcam época, que o elevam a "maior do mundo", como um dia já foram o gol de Zico contra a Iugoslávia e o de Pita contra o Palmeiras no 4x4 do Pacaembu! Essa é a sua chance, caro amigo!

Isso significa a brutal queda de divisas do futebol moderno, no qual um jogador torna-se "bestial" por dominar um fundamento básico e obrigatório que é cobrar corretamente um escanteio? Não, é claro! Significa cara-de-pau de articulistas criados pela vó em apartamento, acostumados a vibrar com VTs do Youtube e a santificar determinados jogadores em detrimento da objetividade? Em absoluto! Significa comemorar, com radicalismo sem precedentes, a vitória da burocracia, do treinamento robotizado, do pragmatismo mais banal, que é a "bola parada" decidindo um prélio neste zumbificado 2011? Pára com isso, vai! Admire a beleza dessa cobrança milimétrica e genial!

(Antes de o campeonato começar, cravávamos por aqui Ronaldinho Gaúcho como nome certo para ganhar uma Bola de Prata - e não seria surpresa se também faturasse o troféu máximo, a Bola de Ouro, jogando o que jogasse. Sob o signo da previsibilidade, marca primeira do futebol-dinheiro, que prioriza aquele que paga/recebe mais, e também da indecência descarada dos "crítérios de avaliação", taí a concretização momentânea do vaticínio.)

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Esse 2011, que ano traquinas!

- Em conversa recente com um amigo, chegamos à conclusão de que a covardia do fair play, instituído por Blatter e seus cordeirinhos há um par de décadas, nada mais é do que um dos tentáculos do polvo mercadológico que domina todas as atividades humanas em 2011: trata-se de uma forma de limpar o jogo para vendê-lo melhor. Depois, pensando no assunto, vi que a maciça presença feminina no futebol hoje nada mais é do que um desdobramento dessa política – é uma forma de expandir público e, para usar o termo que deixam molhados tanto os marketeiros quanto boa parte dos analistas esportivos de hoje, “atrair consumidores e vender uma marca”. Pois uma garota sentiria-se interessada por um jogo como a final do Brasileiro de 90, na qual Antônio Carlos, Bernardo e Márcio desandaram a distribuir rasteladas em quem quer que lhes aparecesse à frente? Dificilmente, convenhamos. Amaciar essa selvageria era imperativo para trazer ao shopping center do futebol todos os sexos, todas as idades, famílias, tios bonachões, anunciantes crentes no poder de um sorriso e quetais. Não temos aí uma questão técnica, a balela de "conter a violência nos gramados para melhorar a qualidade do espetáculo" que usaram como argumento para o convencimento da massa, e sim uma parasitária imposição externa a influir diretamente no jogo para dele extrair não jogadas e gols, e sim capital - nada mais 2011 do que isso, portanto.

- Não é à toa que, entre tantos outros motivos que vivemos destacando aqui, desde que o futebol se assumiu como um esporte televisivo acima de tudo, o nível técnico tenha caído tanto. Pois temos câmeras em todos os lados do campo, para captar qualquer movimento, dispostas a engolir os jogadores se for preciso, e diversos seres a narrar absolutamente tudo o que acontece, transformando os jogadores (e a si próprios também, no caso do “jornalismo-stand up” global) em atores sabe-se lá do quê. Pois então: como, cercado de um aparato dessa magnitude, um jogador pode concentrar-se somente no jogo? Independente do talento que possua, não existe mais possibilidade do atleta respirar e pensar o futebol – ele precisa estar constantemente ligado ao já citado aparato, porque este agora se arroga o papel de ser o único meio de lhe emprestar uma vida. Existir, jogar, ser atleta profissional, está intimamente conectado ao desespero de se fazer notar pelo mercadológico/midiático porque estes tornaram-se a única forma de contato possível dessa gente com o mundo. Lembre-se disso da próxima vez que o "craque" do seu time comemorar a marcação de tentos com a câmera de TV.

- Futebolistas modernos são criaturas tão pouco marcantes, tão domadas por aquilo que é externo ao jogo, que necessitam ser chamados por nomes compostos para que sejam identificados até mesmo a si próprios. Isso sempre existiu, claro (Leônidas da Silva, Domingos da Guia, Jair Rosa Pinto, Mauro Ramos de Oliveira, etc.), mas agora assumiu ares de pandemia – e, se antigamente servia como uma deferência, uma forma de evidenciar o respeito adquirido por um craque citar seu nome completo, hoje é uma tática necessária para desembaralhar essa camarilha de seres sem alma que despersonaliza cada vez mais o esporte. Todos os times possuem seus Renans Oliveiras, seus Andrés Santos, seus Maikons Leites, seus Thiagos Ribeiros, seus Fabrícios Carvalhos - e agora a seleção conta com gente tipo Mário Fernandes (foto) e Renato Abreu, tão carismáticos quanto uma folha de alface. Não dê muito, e esses típicos funcionários de repartição do futebol estarão em campo ostentando crachás com seus nomes inteiros, para que possamos saber quem é quem nesse mar de impessoalidade e imbecilização (da qual não são vítimas, e sim agentes diretos porque coniventes).

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

"A Roma quer Casemiro para a próxima temporada" (sim, eles querem, é sério)

EXCLUSIVO! O Antimídia obteve acesso a algumas gravações (por motivos de segurança, nossa fonte permanece em sigilo) e transcreve, agora, a tradução do telefonema feito pelo presidente da Roma, Thomas di Benedetto, ao cartola são-paulino Juvenal Juvêncio, no qual ele mostrava interesse no atleta tricolor Casemiro, corroborando o que os jornais brasileiros deram como manchete. Confiram.

- Alô, Juvenal?

- Sim. É o presidente da Roma?

- Eu mesmo.

- Tudo bom com o senhor?

- Olha, cortemos as amenidades para irmos direto ao assunto. Eu não consegui dormir noite passada. Tomei calmantes, e mesmo assim nada. Tenho ido a psicólogos, para fazer tratamento. Não aguento mais, precisamos de Casemiro no nosso time.

- Sim, vi nos jornais daqui que existia um interesse por parte de vocês romanos, que a Roma queria o Casemiro e mandaria agentes para cá...

- "Interesse" é pouco: é estritamente necessário podermos contar com esse incrível, genial e absurdo Casemiro na nossa equipe próxima temporada. Que craque, que craque!

- Olhe, Benedetto, é um atleta jovem, agora valorizado...

- Não importa! Pagamos o que for necessário! Não consigo mais ver a Roma sem Casemiro no meio-campo. O time precisa dele para ontem!

- Podemos conversar...

- Juvenal, o caso é muito sério. A Roma corre o risco de fechar suas portas se não tiver o Casemiro com a gente logo. Sem um nome brilhante como esse, não valeria a pena continuar a manter o esquadrão. A presença dele aqui será o respiro que o futebol italiano precisa! É muito craque, esse garoto!

- Vou lhe mandar um DVD...

- Não precisa! Já tenho vários DVDs aqui! Quantos lances magistrais! Que noção de posicionamento, que capacidade de marcação, que vocação para subir ao ataque! Os DVDs não tem mais que 15 minutos de imagens cada um, mas já estou plenamente convencido! Não posso arredar pé!

- Você também precisa falar com o empresário dele...

- Mas já conversei com TODOS os empresários do menino! São vários, não? Eles também querem que ele seja negociado com a gente, fizeram condições especiais, etc, o que me deixou muito feliz. Me juraram que é um sonho de Casemiro jogar no futebol europeu, e em especial na Roma! Confio neles!

- Tudo bem. Me ligue ainda essa semana para fecharmos negócio, OK?

- Só retorno a falar contigo se você JURAR que não o venderá a nenhum outro clube... Repito: é da ordem de manter a Roma em atividade que ele seja nosso camisa 5 essa temporada de 2011-2012.

- Certo, vocês tem a prioridade.

- Ótimo. QUEREMOS CASEMIRO, PRECISAMOS DE CASEMIRO, O FUTEBOL AGRADECE A EXISTÊNCIA DE FENÔMENOS COMO CASEMIRO!!!

- Tudo bem, Benedetto. Abraço.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A quem interessar possa

Outro dia, falei aqui desse previsível fenômeno que acontece toda vez que Ronaldinho Gaúcho "joga bem": as pessoas que trabalham com futebol imediatamente colocam o sujeito em um pedestal inversamente proporcional à sua disposição em campo; tratam do rapaz como se fosse um divindade mesmo que não tenha feito nada minimamente próximo ao divino - e eis aí o problema: se acreditam que Ronaldinho produz milagres, é, antes de tudo, porque QUEREM acreditar nisso, já acreditam desta maneira automaticamente, antes mesmo de qualquer acontecimento, e não abrem mão da prerrogativa. Em suas cabeças moldadas pela publicidade, o que advém dos pés do 10 rubro-negro é sempre digno de espasmos e reverência, pois assim está incutido em seus subconscientes, ditado diretamente pelo "Grande Irmão", o príncipe eletrônico que guia suas vontades. Não há espaço para questionamentos: assim é, assim deve ser feito, e pronto. Difícil lutar contra o que "especialistas" e "analistas isentos", essas vozes justas e respeitáveis, lhes injetaram na mente como dogmas inflexíveis, não é?

Agora, Ronaldinho é tido como "um dos destaques do Brasileirão", graças a alguns jogos que "decidiu". Um cruzamento feito de forma correta, se executado por ele, é "decisão de partida". Suas 10 presenças apagadas são deletadas, passam a não existir mais, em troca do auê ensurdecedor criado a partir daquela única bem disputada. "Ele recuperou a alegria de jogar", dizem. Adentramos em um território ainda mais próximo ao da lavagem cerebral quando Galvão Bueno diz, na transmissão do jogo do Flamengo, que o craque deve ser convocado para a seleção brasileira novamente. Mobilização geral: Bueno dá a ordem, seus cordeiros obedecem, e a discussão passa a ser quando Mano dará outra chance a esse "gênio". A desonestidade dá o tom dessa história porque: 1) estamos falando aqui de um campeonato no qual um inacreditável encosto como Luan é titular de um de seus principais times (e bem cotado na tabela da Bola de Prata da Placar, confiram tal hilaridade no site da revista); e 2) temos alguém alçado a patamares de "gênio" porque bate pênaltis e dá "cruzamentos decisivos". A nós, do Antimídia, tais parâmetros são muito pobrinhos. Sorry, folks, mas resistimos a cair nessa arapuca.

(Para terminar, preciso compartilhar com alguém o que escutei na transmissão de domingo: Luciano do Valle disse que o Flamengo, que ganhava por 2 a 0, deveria tomar cuidado, porque o Figueirense é "um timaço". Sim, repito: ele disse que o Figueirense é "um timaço". Sem mais.)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Come mortadela e arrota salmão

Dentro da covarde idéia ilusionista pregada pelo futebol moderno, um de seus capítulos mais rasteiros têm sido escrito agora: alguns "articulistas" (Neto à frente, seguido de entulhos como Celso Cardoso) estão tentando incutir em nossas mentes que Luan, do Palmeiras, na realidade não é um clamoroso perna-de-pau, e é sim atleta a ser considerado, pois demonstra utilidade graças a sua "consciência tática" (qual?). Luan é, disparado, um dos casos mais grotescos do futebol atual, um atacante que sequer possui discernimento em relação à melhor maneira de ficar em pé, uma das maiores indignidades com a camisa verde em toda a sua história. Nos tentarem transmitir a idéia de que não, não estamos vendo um anti-futebolista paquidérmico e despido de qualquer condição técnica, e sim alguém que realmente possui valor e que sua condição de titular do clube é merecida, é mostrar (mais uma vez...) que encaram o espectador como um nada desprovido de qualquer capacidade de percepção e entendimento, é querer transformá-lo em um ruminante pronto a fazer outra refeição de capim. Buscar cavucar a estranhíssima história desse sujeito, que foi contratado por 7 milhões (!) de euros pelo Palestra mesmo, repito, tendo enorme dificuldade com o básico mecanismo que faz um ser humano ficar em pé, é algo que não passa pela cabeça dos tais "analistas" - afinal, isso pode representar um passo ambicioso demais para quem se refestela apenas com o superficial e com a mistificação corporativista/publicitária.

Nos últimos jogos do Palmeiras contra o Vasco, procurei observar a diferença reinante entre os noviços e Juninho Pernambucano. Deu pena, na boa. Observava Luan, entre as trombadas e sua falta de categoria usuais, que não lhe permitem sequer completar um lance sem atropelos, e o 8 cruz-maltino, que não errava passes e lançamentos para qualquer distância do campo e que não dispendia nenhum esforço adicional para que sua categoria fosse aviltantemente superior à de todos que ali estavam, e me sobrevinha uma incontrolável vontade de chorar. Quando estabeleceu-se a mim que dois dos paradigmas do futebol ali estavam, Juninho, meio-campista de classe pertencente a uma geração anterior (e nem tão distante em relação aos anos, mas já tremendamente ultrapassada em se tratando de propósitos), e Luan, desgraça que sequer poderia ter sido aprovada em uma peneira mas que ali estava vestido a camisa de um grande brasileiro (e como titular!) graças a algum nebuloso trabalho de bastidores, surge o lance capital: o vascaíno aplica um tranqüilo chapéu justo no "ponta" palmeirense. Então a ficha caiu, já que, se não havia a menor possibilidade de se concretizar um "choque entre gerações" ali, era porque o real embate naquele pedaço do campo, e que resultou no calmo lençol, era o futebol versus o anti-futebol - e o primeiro sempre sairia vencedor, não importa a quantidade de euros, não importa a cor da chuteira. Juninho está prestes a aposentar-se sem gerar sucessores, e tipos como Luan são a maioria populacional do decaído "Brasileirão". O campeonato não poderia ter um velório mais condizente.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Quando o futebol dominava a Terra...

O futebol moderno é como um furacão. Enfurecido, destruidor. Ele muda tudo, pois ele é o supremo na equação da vida e da morte. Só que o futebol moderno é um fenômeno criado pelo homem. Antes ele era um jogo. E havia gente (muita gente) que torcida pelos times e ali encontra resposta paras suas dores diárias. Não era ópio, e sim gozo. E logo, houve a imprensa que passou a noticiar e relatar os fatos envolvendo o esporte... No final, tornou-se uma loucura maravilhosa, a junção de todas as artes em uma só! Mas ai veio o furacão e tudo começou a mudar. Lógico que, de início, ele surgiu como um sopro qualquer, pois nele há articulação e veneno Lavagem cerebral se faz com flores e não tanques. E, pouco a pouco, com muito planejamento e execução, estudos e metas com públicos alvo definidos, esse monstro virou essa catástrofe que engoliu a essência do jogo, em detrimento de alguns trocados no bolso. E ele segue destruindo, pois há o homem, e não a natureza, por trás de seus instintos. Manipulando os fatos, disfarçando a verdade, quando ela agride sua pecaminosa existência e criando aberrações em forma de Hércules. Seus aplausos são pré fabricados e o cheiro mais forte não é mais do suor. E a mentira bem contada serve como força motriz desse monstro. Necessita, logo, de algum “golaço”, ou algum “jogão”, para que a venda milionária de sua arte seja justificada. Como esse monstro nasceu para esmagar o que antes havia, pois precisava de seu espaço para triunfar, vivem a difamar coisas como o “carrinho”, a discussão com o árbitro, pois nada, absolutamente nada pode ficar no seu caminho e de suas “glórias” executadas e planejadas. E esse monstro não é feito de energia natural, e sim de dinheiro. Então, ele não pede licença. Vejam agora como as camisas dos “jogadores” não precisam mais ficar para dentro dos calções dos mesmos. E não porque alguma tendência natural guiasse o jogo para essa mudança. Sim, os fardamentos de 1930 não eram mais os mesmos em 1950, e assim foi escrita a história da evolução. Mas essa nova “mudança” vem para que a parte de baixo da camiseta tenha mais um espaço para mais, claro, dinheiro. Coincide com a falta de cobrança que este mosntro tem com o legado, que agora ficou no passado. Hoje, o erro não evoca mais cobrança. O jornalista erra, e ri dizendo "oi" pro seu microfone ligado ao diretor de estúdio; o jogador erra um pênalti e não pode ser vaiado, sem que a TV diga que "a torcida está pegando no pé", e assim vamos. Havia muita cobrança no futebol, porque só assim controlava-se aquela loucura maravilhosa. Agora, com planejamento e execução, tudo pode, tudo se cria, tudo se vende. Havia espaço no futebol para tudo, inclusive ganhar dinheiro com ele. Mas nunca em nome da morte de seu legado! Ele segue destruindo e dominando, como um vírus letal faria num corpo qualquer. Há muito terreno até a Copa Havelange, que logo vem. Preparem seus abrigos. Nada mais por hoje, amigos.

PS – Viva Valdir, O Bigode! Viva o 3 a 5 na Vila Belmiro! Aquilo, sim, arrepia minha alma!

sábado, 23 de julho de 2011

E as feridas não cicatrizam

http://www.lancenet.com.br/futebol-internacional/Relembre-luta-Kerlon-volta_0_521947892.html

Essa matéria, uma pérola desse morto 2011, deixa a nu o porquê de a "seleção brasileira" ter fracassado tão clamorosamente há alguns domingos. A trajetórias desse Kerlon, o "Foquinha", é emblemática; simboliza como poucas o que se tornou o futebol brasileiro, mundial até. Mas primeiro vamos voltar no tempo. Para quem tinha a cabeça no lugar, era tranqüilo enxergar em Kerlon apenas um desses malabaristas inócuos - tanto que a ele foi necessário inventar o tão improvável quanto inútil "drible da foca" para conseguir algum destaque. Mas isso é detalhe: a jogada, em algum DVD, junto ao oferecimento por parte do empresário de algumas vantagens para a contratação do "craque" (salários mais baixos em relação ao praticado na Europa, etc), poderia enganar os gringos - e lá se foi Kerlon para a Itália. Estar no Chievo, ser reserva no Chievo, é coisa bem do tamanho do atleta, sem surpresa, portanto; voltar para o Brasil e sequer ser titular de um time de segunda divisão como o Paraná também - mas eis aí que temos a aberração da história: como que a Inter de Milão teve interesse em Kerlon, comprou e ainda mantém seu passe, e segue pagando salários ao cara até hoje? Estamos falando de um gigante do futebol, de um clube que contou, durante toda a sua história, com grandíssimos e reais craques - como essa enorme instituição se rebaixou a tanto, a ponto de contratar a esmo qualquer coisa que lhe é oferecida, e depois dispender uma vultosa 'ajuda de custo' para manter afastado de seu elenco um jogador que, convenhamos, nunca sequer lhes passou pela cabeça que fosse servir de algo?

Mas então: o que Kerlon e sua não-passagem pela Inter tem a ver com a malfadada seleção do Mano? Ora essa, veja os grandes fenômenos desse time amarelo, os mitificados donos da bola de agora: com uma ou outra exceção, são craquezinhos de plástico, frágeis e com recursos voltados apenas ao espalhafato publicitário ("drible da foca"), mas lá estão, em grandes da Europa, assim como o cirsense mineirinho um dia esteve. Kerlon não é exceção: é regra - a única diferença é que não deu certo (segundo o tio, em entrevista no fim do texto, não deu certo como atleta profissional, mas financeiramente está com a vida ganha - o que mais importa, afinal, nos asfixiantes tempos correntes). Deliciem-se com essa exposição da gangrena do futebol moderno em carne viva.

(Em tempo: Mano Menezes não sossegará enquanto não negociarem esse Renato Augusto com algum time "grande". É outro desses incontáveis "gênios" brasileiros, o meia do Bayer Leverkusen.)

terça-feira, 5 de julho de 2011

Bem-vindo ao reino virtual


http://obeco.planetaclix.pt/rkurz68.htm

Como já destacamos por aqui, uma das coisas que mais incomodam no futebol moderno é a idolatria excessiva a nomes individuais, o que descaracteriza o jogo e torna-o cada vez mais egoísta e centrado em frivolidades - e eis que surge esse interessante texto tratando do assunto, datado de 1999 (ou seja: há doze anos, apogeu da era Ronaldo-Nike, a situação já parecia ridícula; hoje, não só os procedimentos da época consolidaram-se como são cada vez mais aprofundados). O sociólogo alemão Robert Kurz sustenta que, a partir do momento que o futebol passou a significar, acima da própria idéia da prática profissional do esporte, ascensão social, concomitante com a transformação dos clubes em empresas multinacionais (um fator alimenta o outro), criou-se a necessidade de uma "identificação irracional" com os "ídolos" ali fabricados - pois somente assim gerariam consumo desenfreado, a nova ordem do futebol a partir da década de 90, e poderiam suprir os gastos cada vez maiores na manutenção deste irreal status quo (sim, é o ideário capitalista em sua forma mais pura). E a tão batida palavra "globalização" citada no título ajuda a explicar o surgimento de jogadores japoneses, coreanos, africanos de países com pouca tradição, centro-americanos, e também uma inflação insana de sul-americanos (a maioria com técnica abaixo da crítica) nos clubes com maior poder aquisitivo: barateiam-se os custos para os europeus, criam-se novos mercados para venda de produtos licensiados a reboque da participação desses atletas, obtem-se projeção e lucro astronômico, vende-se o "craque" pelo dobro/triplo do que foi pago, e assim vamos. Enquanto aumenta-se cada vez mais a demanda por quantidade, a qualidade diminui vertiginosamente - uma disparidade que, a eles, homens de negócios, interessa, e muito.

Estamos então no futebol como "reino da virtualidade", lugar no qual os jogadores "não têm mais nada a ver consigo mesmos". A fantasia agora é criada fora de campo. Tema esse familiar a quem frequenta esse blog.

sábado, 2 de julho de 2011

Taras secretas

Duas classes de jogadores do 2011 despertam minha curiosidade. São eles...

O que não joga mas é "craque" - Entre tantos, três se destacam nessa incrível categoria de ilusionistas: Alexandre Pato, Paulo Ganso e Adriano. Dificilmente estão em campo, ouve-se mais de suas "contusões" ou aventuras fora dos gramados (Pato com vistosas namoradas, Adriano em bebedeiras e escapadelas para bailes funk, Ganso em choramingos para ser "valorizado" e obter aumentos de salário) do que de algo produzido dentro dele, mas, mesmo assim, de alguma forma que só a modernidade pode explicar, são indiscutíveis, em clubes, convocações de seleção brasileira e especulações de transferências. Se você quer a prova de que o futebol hoje é feito de imagem bem trabalhada e dos factóides jornalísticos, olhe atentamente para esses três e caia na real de vez.

O que é considerado "craque" de acordo com a multa contratual - Os da nova geração, encubados por empresários e desde cedo acostumados às suas táticas de guerrilha marketeira, são assim: jogam na imprensa, essa entidade tão voraz por números, o valor da renegociada rescisão do contrato, normalmente aquela recheada de chamativos zeros, para que todos os observem com novos (e generosos) olhos. É um recurso que sempre dá certo. Vejam o caso desse garoto Lucas, do São Paulo (que o Tino Marcos, da Globo, chama de "Lucas Silva"): já era uma estrela indiscutível dentro do clube e fora dele sem nada ter feito de relevante pela camisa tricolor, somente para si próprio - e o argumento que muitos utilizariam para rebater posições contrárias é a de que "a multa rescisória dele é de não sei quantos milhões, um jogador valioso assim só pode ser 'diferenciado' (sic)". Como já dito, amigos: é tática certeira.

domingo, 26 de junho de 2011

Leu na Veja? Azar o seu

Matéria de capa da revista Veja essa semana trata desse novo fenômeno mercadológico-televisivo: o garoto Neymar. Primeiro ponto: a chamada de capa diz que "finalmente, surge um craque da linhagem de Pelé". Ora essa, quem acompanha futebol desde os semi-perdidos anos 90 sabe que muitos já vestiram o tal manto. Como abandonar agora aquilo que disseram de Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo, Robinho e alguns outros, que não só seriam tão grandes quanto, mas superariam o rei do futebol, na lógica imediatista e descartável do senso dominante? E qual critério é utilizado para negar jogadores da estirpe de Rivaldo, Giovanni, Renato Gaúcho, Careca, Serginho, e principalmente Romário, nessa festa de localizar os maiores craques contemporâneos? Que muleta extraordinária e inesgotável para aqueles pára-quedistas que não conhecem o assunto mas teimosamente se dispõem a falar dele (inclua aí parasitas do jornalismo esportivo, lógico)!

Segundo: a ascensão de Neymar mostra um mundo inapelavelmente corroído pelos manuais comportamentais de RH, o ditame do ser humano "evoluído" do novo século, ao lado das receitas de felicidade instantânea catalogadas em livros de auto-ajuda (livros esses que, sabiamente, não explicam que a busca mecânica e induzida por felicidade é contrária à própria idéia em si de felicidade, aparenta-se mais a um desespero social latente e está a um passo da patologia). Isso ajuda a explicar essa idolatria doente, pois são conceitos cada vez mais absorvidos por nosso tempo, parte identitária dos dias correntes: Neymar representa não o arrogante ou o individualista, mas sim o "pró-ativo", o que "lidera seu grupo à vitória", o "arrojado"; características essas as quais os psicólogos corporativos apontam em quem é "vencedor nato" para nortear seus critérios de seleção. Não é à toa que o jogador seja capa de Veja, portanto, um veículo que dá voz a tal mentalidade escriturária-robotizada e é direcionado a quem a valoriza e aplica em seu dia-a-dia. E tome números: quanto custa, quanto ganha, quantos patrocinadores possui, o quanto não sei quem vai lucrar, o quanto o Santos investiu, etc, etc, etc... Seria isso uma planilha de Excel ou uma matéria sobre jogador de futebol? Nesse nebuloso 2011, está cada vez mais difícil fazer a separação.

(Só para constar: me sinto um tanto quanto tentado a defender o Pelé jogador, e não tenho o menor problema com isso, haja visto a distância que vai ficando maior dele a cada geração que surge, e também a obrigatória negação ao modernismo que daí deriva - mas determinadas atitudes tomadas pelo "Rei" são de uma estupidez alarmante. Como manter a boa vontade depois de conferir Edson no Pacaembu usando o terno do patrocinador, permanecer em um camarote cercado de políticos, e ainda querer um naco dos holofotes ao descer para fazer populismo junto ao time no gramado? Nivelar seu maior jogador ao nível dos outdoors ambulantes de hoje, outro serviço prestado pelo futebol moderno - e no qual Pelé mergulha de cabeça sem pensar duas vezes.)

terça-feira, 21 de junho de 2011

Pincelar bem para pincelar sempre

É legal ver que alguns comentaristas midiáticos (não por coincidência, aqueles que possuem o perfil mais "combativo" ante a malta de cachorrinhos de dondoca que povoa a crônica) compram a idéia do "ódio eterno ao futebol moderno" - mas não adianta achar que essa briga se resume à questão da elitização das arquibancadas e nada mais. É o mesmo que tratar de um ou outro órgão em uma doença que já se espalhou por vários deles. Ora, de que serve a pessoa fazer discursos de repúdio ao estágio atual do esporte, enquanto, ao mesmo tempo, exalta clubes que fizeram (e que continuam fazendo, sem trégua) por matar e enterrar o espírito real do jogo, e trata a pão de ló esses jogadores holográficos que vivem a realidade do futebol-marketing às últimas consequências? Uma coisa não exclui a outra: todos possuem sua parcela de culpa; e, se deseja-se realmente uma mudança, a solução definitivamente não é estapear com uma mão e afagar com a outra.

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Linko vez ou outra aqui alguns textos desses blogs "de esquerda" - mas como é triste dar uma passada d'olhos nos comentários destes sites! Sim, pois tais veículos são, supostamente, direcionados a quem deseja ver desnudadas as artimanhas sujas da mídia monopolista; mas, quando o assunto é futebol, essas mesmas pessoas ditas "esclarecidas" e "conscientes" (em nome, via de regra, da paixão clubística, e, para defender "astros" da profissão, daquilo que existe de mais raso e clichê no discurso patriótico) passam a cordeirinhos do senso comum com velocidade estonteante. Ou seja: tornam-se reféns e vítimas daquilo que acreditam criticar; caem com facilidade na armadilha a qual se crêem alertas; em função de um provincianismo risível que parece esquecer que futebol também é política massiva de controle e manipulação, e que, assim sendo, traz consigo corrupção, tráfico de influência, favorecimento ilícito, etc. Demonstração cabal de que as ventosas do esquemão vigente são tão perniciosas e envolventes que se estendem até onde menos imaginamos.

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Como disse em outro post, o futebol anda cada vez mais previsível - e o título do Santos foi anunciado antes por aqui. Foi também, como o esperado, uma festa que visava, antes de tudo, produzir imagens para a TV. Assustava ver que o que acontecia em campo não existiria sem a intermediação de uma máquina, foi montado em sua função; e, a ela, acima do próprio espetáculo em si, cabia a responsabilidade por guiar as reações e sensações. Quem estava no gramado (até mesmo seres periféricos, como reservas, cartolas, etc.) atuava com o propósito de ser eternizado em fotos e fotogramas; calculava suas poses para melhor aparecer em capas de jornais e esportivos do meio-dia, fornecia bons ângulos de foco e esperava ser correspondido; premeditou as atitudes que tomaria caso o título chegasse com esse propósito, o de produzir efeitos bombásticos pela pose. Como bons veiculos de marketing que são, os jogadores aprenderam a viver o efêmero, e fazem até mesmo a conquista de um título tornar-se evento frio, mecânico, artificial, esquecível dali a algumas horas. Isso caracteriza o futebol moderno: ser ligeiro de espírito; jurar amor aqui e dias depois jurar em outro lugar, sempre sob o signo do consumo. A vaidade e o egocentrismo exacerbados talvez sejam suas únicas manifestações de vida não-programada, não-publicitária - e Neymar dar a volta olímpica sozinho e correr a jornalistas antes de partir para a torcida é a realidade do futebol mundial em 2011 esfregada em nossos focinhos.

domingo, 19 de junho de 2011

Caldeirão? Por onde que eu não vi?

(Notícia retirada do site "Diário da Bananolândia":)

TORCEDOR PROCESSA JORNALISTAS POR PROPAGANDA ENGANOSA
Por Paulo Nonato

Um torcedor de São Paulo, capital, que preferiu não se identificar, mas que aceitou que divulguemos as iniciais G.C., está com um processo correndo na justiça da cidade, no qual responsabiliza todos os jornalistas por aquilo que considera propaganda enganosa divulgada em sites, jornais e programas de TV. "Sim, pois eles estão dizendo que, se o Santos mandar a final da Libertadores no Pacaembu, o estádio se transformará em um 'caldeirão'. Considerei tal afirmação, além de mentirosa, ofensiva, pois, se brasileiro sequer sabe torcer, comporta-se no campo como uma tia velha, como terá condições de tornar qualquer ambiente em um 'caldeirão? Por isso, processo mesmo".

G.C. acredita que existam outros interesses por trás de tal colocação. "É uma maneira de tentar passar para aquele que está em casa um sentido da loucura que uma 'final' deve ter, mas de forma desesperada e proto-marketeira, que visa produzir esse clima na véspera de forma artificial, incutir no torcedor que ele ajudará a criar um descontrole e a fazê-lo acreditar que qualquer coisa que assista no Pacaembu quarta-feira remeterá a um memorável inferno na Terra - mas eles sabem que os que lá vão gastaram muito dinheiro para simplesmente 'torcer', essa coisa animalizada e reservada somente aos de baixo nível econômico/social. Por isso, em 10 minutos começam essa coisa típica de brasileiro, que é vaiar o time se as coisas não saem como o esperado. Barulho de apupos não é 'torcer'", afirma.

"Também é uma forma ridícula de igualar a torcida nativa com as demais latino-americanas, ainda baseado no clichê 'Brasil é o país do futebol'. No discurso desses profissionais, não podemos ser inferiores às torcidas de outros países, pois, de acordo com o chavão, precisamos ser melhores do que eles em todos os níveis. Mas a tradição platina, uma escola reconhecida universalmente como exemplar, ensina que uma torcida deve ser a força do time partindo das aquibancadas - e a brasileira, que o time deve, do campo, empurrar a torcida e ditar suas reações. A latina reage antes e durante; a brasileira, somente depois. A mentalidade é o exato inverso, e o brasileiro nunca transporá esse abismo que o separa do torcedor verdadeiro porque uma questão cultural os diferencia".

Com o processo já iniciado, G.C. acredita em uma vitória no litígio. "É lamentável que essas pessoas da imprensa, e até mesmo esses torcedores de ocasião, insistam em criar uma realidade paralela, ao invés de começarem a trabalhar com fatos concretos, que qualquer um com a cabeça no lugar pode ver. Quando tiverem a humildade de admitir que Brasil não possui torcidas, e sim gente que vai assistir aos jogos, pode ser que algo se transforme".

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O sinistro castelo de cartas

http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2011/06/13/e-com-esse-teixeira-que-o-brasil-vai-para-a-copa/

Se existem pessoas da TV/grupo de mídia hegemônico que comanda o país interessados como poucos nessa Copa brasileira, e dispostos a tudo para mantê-la somente no nível engana-trouxa da "corrente pra frente", repórteres de outros veículos tentam se dispor a cavucar um tanto a história sinistra de Ricardo Teixeira e da entidade que comanda há tempos, a não menos mórbida CBF. Claro que a repercussão é mínima, já que os que amplificariam decisivamente os fatos são esses mesmos que nutrem interesses escusos; mas é nosso dever, ao menos, repassar o que é feito para que de dissipe um pouco a nuvem inglória de ignorância erguida pelos (criminosos) oportunistas midiáticos residentes no Jardim Botânico carioca.

Ah, e por falar nisso: Ronaldo concedeu "entrevista exclusiva" a seu amigo Galvão Bueno, que foi ao ar no canal do locutor ontem, no tal "Esporte Espetacular" (que nome perfeito de um programa ocupado em repercutir o futebol do faz-de-conta, não?)... Logo, o "grande ídolo brasileiro", quase um empregado dessa rede de TV, tamanha a identificação de um para com o outro, estará em alguma novela da emissora, não é difícil prever. Vai, Brasil!