domingo, 26 de junho de 2011

Leu na Veja? Azar o seu

Matéria de capa da revista Veja essa semana trata desse novo fenômeno mercadológico-televisivo: o garoto Neymar. Primeiro ponto: a chamada de capa diz que "finalmente, surge um craque da linhagem de Pelé". Ora essa, quem acompanha futebol desde os semi-perdidos anos 90 sabe que muitos já vestiram o tal manto. Como abandonar agora aquilo que disseram de Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo, Robinho e alguns outros, que não só seriam tão grandes quanto, mas superariam o rei do futebol, na lógica imediatista e descartável do senso dominante? E qual critério é utilizado para negar jogadores da estirpe de Rivaldo, Giovanni, Renato Gaúcho, Careca, Serginho, e principalmente Romário, nessa festa de localizar os maiores craques contemporâneos? Que muleta extraordinária e inesgotável para aqueles pára-quedistas que não conhecem o assunto mas teimosamente se dispõem a falar dele (inclua aí parasitas do jornalismo esportivo, lógico)!

Segundo: a ascensão de Neymar mostra um mundo inapelavelmente corroído pelos manuais comportamentais de RH, o ditame do ser humano "evoluído" do novo século, ao lado das receitas de felicidade instantânea catalogadas em livros de auto-ajuda (livros esses que, sabiamente, não explicam que a busca mecânica e induzida por felicidade é contrária à própria idéia em si de felicidade, aparenta-se mais a um desespero social latente e está a um passo da patologia). Isso ajuda a explicar essa idolatria doente, pois são conceitos cada vez mais absorvidos por nosso tempo, parte identitária dos dias correntes: Neymar representa não o arrogante ou o individualista, mas sim o "pró-ativo", o que "lidera seu grupo à vitória", o "arrojado"; características essas as quais os psicólogos corporativos apontam em quem é "vencedor nato" para nortear seus critérios de seleção. Não é à toa que o jogador seja capa de Veja, portanto, um veículo que dá voz a tal mentalidade escriturária-robotizada e é direcionado a quem a valoriza e aplica em seu dia-a-dia. E tome números: quanto custa, quanto ganha, quantos patrocinadores possui, o quanto não sei quem vai lucrar, o quanto o Santos investiu, etc, etc, etc... Seria isso uma planilha de Excel ou uma matéria sobre jogador de futebol? Nesse nebuloso 2011, está cada vez mais difícil fazer a separação.

(Só para constar: me sinto um tanto quanto tentado a defender o Pelé jogador, e não tenho o menor problema com isso, haja visto a distância que vai ficando maior dele a cada geração que surge, e também a obrigatória negação ao modernismo que daí deriva - mas determinadas atitudes tomadas pelo "Rei" são de uma estupidez alarmante. Como manter a boa vontade depois de conferir Edson no Pacaembu usando o terno do patrocinador, permanecer em um camarote cercado de políticos, e ainda querer um naco dos holofotes ao descer para fazer populismo junto ao time no gramado? Nivelar seu maior jogador ao nível dos outdoors ambulantes de hoje, outro serviço prestado pelo futebol moderno - e no qual Pelé mergulha de cabeça sem pensar duas vezes.)

terça-feira, 21 de junho de 2011

Pincelar bem para pincelar sempre

É legal ver que alguns comentaristas midiáticos (não por coincidência, aqueles que possuem o perfil mais "combativo" ante a malta de cachorrinhos de dondoca que povoa a crônica) compram a idéia do "ódio eterno ao futebol moderno" - mas não adianta achar que essa briga se resume à questão da elitização das arquibancadas e nada mais. É o mesmo que tratar de um ou outro órgão em uma doença que já se espalhou por vários deles. Ora, de que serve a pessoa fazer discursos de repúdio ao estágio atual do esporte, enquanto, ao mesmo tempo, exalta clubes que fizeram (e que continuam fazendo, sem trégua) por matar e enterrar o espírito real do jogo, e trata a pão de ló esses jogadores holográficos que vivem a realidade do futebol-marketing às últimas consequências? Uma coisa não exclui a outra: todos possuem sua parcela de culpa; e, se deseja-se realmente uma mudança, a solução definitivamente não é estapear com uma mão e afagar com a outra.

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Linko vez ou outra aqui alguns textos desses blogs "de esquerda" - mas como é triste dar uma passada d'olhos nos comentários destes sites! Sim, pois tais veículos são, supostamente, direcionados a quem deseja ver desnudadas as artimanhas sujas da mídia monopolista; mas, quando o assunto é futebol, essas mesmas pessoas ditas "esclarecidas" e "conscientes" (em nome, via de regra, da paixão clubística, e, para defender "astros" da profissão, daquilo que existe de mais raso e clichê no discurso patriótico) passam a cordeirinhos do senso comum com velocidade estonteante. Ou seja: tornam-se reféns e vítimas daquilo que acreditam criticar; caem com facilidade na armadilha a qual se crêem alertas; em função de um provincianismo risível que parece esquecer que futebol também é política massiva de controle e manipulação, e que, assim sendo, traz consigo corrupção, tráfico de influência, favorecimento ilícito, etc. Demonstração cabal de que as ventosas do esquemão vigente são tão perniciosas e envolventes que se estendem até onde menos imaginamos.

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Como disse em outro post, o futebol anda cada vez mais previsível - e o título do Santos foi anunciado antes por aqui. Foi também, como o esperado, uma festa que visava, antes de tudo, produzir imagens para a TV. Assustava ver que o que acontecia em campo não existiria sem a intermediação de uma máquina, foi montado em sua função; e, a ela, acima do próprio espetáculo em si, cabia a responsabilidade por guiar as reações e sensações. Quem estava no gramado (até mesmo seres periféricos, como reservas, cartolas, etc.) atuava com o propósito de ser eternizado em fotos e fotogramas; calculava suas poses para melhor aparecer em capas de jornais e esportivos do meio-dia, fornecia bons ângulos de foco e esperava ser correspondido; premeditou as atitudes que tomaria caso o título chegasse com esse propósito, o de produzir efeitos bombásticos pela pose. Como bons veiculos de marketing que são, os jogadores aprenderam a viver o efêmero, e fazem até mesmo a conquista de um título tornar-se evento frio, mecânico, artificial, esquecível dali a algumas horas. Isso caracteriza o futebol moderno: ser ligeiro de espírito; jurar amor aqui e dias depois jurar em outro lugar, sempre sob o signo do consumo. A vaidade e o egocentrismo exacerbados talvez sejam suas únicas manifestações de vida não-programada, não-publicitária - e Neymar dar a volta olímpica sozinho e correr a jornalistas antes de partir para a torcida é a realidade do futebol mundial em 2011 esfregada em nossos focinhos.

domingo, 19 de junho de 2011

Caldeirão? Por onde que eu não vi?

(Notícia retirada do site "Diário da Bananolândia":)

TORCEDOR PROCESSA JORNALISTAS POR PROPAGANDA ENGANOSA
Por Paulo Nonato

Um torcedor de São Paulo, capital, que preferiu não se identificar, mas que aceitou que divulguemos as iniciais G.C., está com um processo correndo na justiça da cidade, no qual responsabiliza todos os jornalistas por aquilo que considera propaganda enganosa divulgada em sites, jornais e programas de TV. "Sim, pois eles estão dizendo que, se o Santos mandar a final da Libertadores no Pacaembu, o estádio se transformará em um 'caldeirão'. Considerei tal afirmação, além de mentirosa, ofensiva, pois, se brasileiro sequer sabe torcer, comporta-se no campo como uma tia velha, como terá condições de tornar qualquer ambiente em um 'caldeirão? Por isso, processo mesmo".

G.C. acredita que existam outros interesses por trás de tal colocação. "É uma maneira de tentar passar para aquele que está em casa um sentido da loucura que uma 'final' deve ter, mas de forma desesperada e proto-marketeira, que visa produzir esse clima na véspera de forma artificial, incutir no torcedor que ele ajudará a criar um descontrole e a fazê-lo acreditar que qualquer coisa que assista no Pacaembu quarta-feira remeterá a um memorável inferno na Terra - mas eles sabem que os que lá vão gastaram muito dinheiro para simplesmente 'torcer', essa coisa animalizada e reservada somente aos de baixo nível econômico/social. Por isso, em 10 minutos começam essa coisa típica de brasileiro, que é vaiar o time se as coisas não saem como o esperado. Barulho de apupos não é 'torcer'", afirma.

"Também é uma forma ridícula de igualar a torcida nativa com as demais latino-americanas, ainda baseado no clichê 'Brasil é o país do futebol'. No discurso desses profissionais, não podemos ser inferiores às torcidas de outros países, pois, de acordo com o chavão, precisamos ser melhores do que eles em todos os níveis. Mas a tradição platina, uma escola reconhecida universalmente como exemplar, ensina que uma torcida deve ser a força do time partindo das aquibancadas - e a brasileira, que o time deve, do campo, empurrar a torcida e ditar suas reações. A latina reage antes e durante; a brasileira, somente depois. A mentalidade é o exato inverso, e o brasileiro nunca transporá esse abismo que o separa do torcedor verdadeiro porque uma questão cultural os diferencia".

Com o processo já iniciado, G.C. acredita em uma vitória no litígio. "É lamentável que essas pessoas da imprensa, e até mesmo esses torcedores de ocasião, insistam em criar uma realidade paralela, ao invés de começarem a trabalhar com fatos concretos, que qualquer um com a cabeça no lugar pode ver. Quando tiverem a humildade de admitir que Brasil não possui torcidas, e sim gente que vai assistir aos jogos, pode ser que algo se transforme".

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O sinistro castelo de cartas

http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2011/06/13/e-com-esse-teixeira-que-o-brasil-vai-para-a-copa/

Se existem pessoas da TV/grupo de mídia hegemônico que comanda o país interessados como poucos nessa Copa brasileira, e dispostos a tudo para mantê-la somente no nível engana-trouxa da "corrente pra frente", repórteres de outros veículos tentam se dispor a cavucar um tanto a história sinistra de Ricardo Teixeira e da entidade que comanda há tempos, a não menos mórbida CBF. Claro que a repercussão é mínima, já que os que amplificariam decisivamente os fatos são esses mesmos que nutrem interesses escusos; mas é nosso dever, ao menos, repassar o que é feito para que de dissipe um pouco a nuvem inglória de ignorância erguida pelos (criminosos) oportunistas midiáticos residentes no Jardim Botânico carioca.

Ah, e por falar nisso: Ronaldo concedeu "entrevista exclusiva" a seu amigo Galvão Bueno, que foi ao ar no canal do locutor ontem, no tal "Esporte Espetacular" (que nome perfeito de um programa ocupado em repercutir o futebol do faz-de-conta, não?)... Logo, o "grande ídolo brasileiro", quase um empregado dessa rede de TV, tamanha a identificação de um para com o outro, estará em alguma novela da emissora, não é difícil prever. Vai, Brasil!

sábado, 11 de junho de 2011

Me engana que eu gosto, parte 1

Pescadas entre tantas, aqui estão algumas dessas recentes fraudes criadas no futebol brasileiro, e vendidas (ou não) a peso de ouro a fãs e times incautos, com a ajuda inestimável da CBF e da seleção brasileira:

DENILSON - Esse negócio de nego nos encher o saco com especulações para determinado jogador "ser cobiçado" ou "interessar" ao Barcelona não é de hoje - o ponteiro Denilson já havia sido alvo de campanha similar, quando foi negociado por uma fortuna junto ao Betis (e muitos diziam que era apenas uma questão de tempo para essa "revelação" do futebol brasileiro chegar ao gigante catalão). Deu chabu: no Betis, contaminado pelo oba-oba, Denilson acomodou-se, e, aos poucos, mostrou ser um desses tantos atletas supervalorizados que o modernismo cria com sua máquina de hologramas. De volta ao país das bananas, no Palmeiras, mostrou-se a léguas mesmo do pouco que havia feito, uma molécula do que previram que faria em sua trajetória, e passou a rodas clubes de medíocre expressão para faturar uns trocados. Esse é aquele que a revista Placar, em sua edição especial para a Copa de 98, disse que, se jogasse "solto na esquerda, poderia tornar-se o craque da competição". Vai Brasil!

FÁBIO ROCHEMBACK - Esse aqui deixava muitos queixos caídos em Porto Alegre no fim dos anos 90, e já era considerado (por quem?, você deve se perguntar - pois é, eu também não sei) um volante de primeiro time quando, do Internacional, foi negociado com o (olha aí de novo!) Barcelona. Lá não conseguiu sustentar a farsa por muito tempo: jogador como tantos outros volantes do mundo, Rochemback, escarrado por não ter força ou categoria suficiente para estar em um massiste europeu, foi fazer carreira no tecnicamente miserável (e sempre conveniente) campeonato português, representando o Sporting de Lisboa. Retornou ao Brasil, sem ter deixado qualquer lembrança duradoura no Velho Mundo, para jogar no rival Grêmio - o que mostra, inequivocamente, que, para jogadores da nova safra, esse negócio de honrar e respeitar as seculares rivalidades regionais definitivamente não é importante quando surge a fala macia de um gordo contracheque.

MANCINI - Não ter conseguido se firmar como titular em times claudicantes como Portuguesa e São Caetano não impediu o lateral Mancini de ir à Roma. Lá chegou, fez boas temporadas jogando como atacante (!), e, aproveitando-se do imediatismo corrente, foi negociado com a Inter de Milão. Ali, o que poderia fazer? Nada, óbvio - nem quem comprou o "craque" deve ter acreditado que seria diferente (e quem encheu os bolsos de grana com essa estapafúrdia negociação deve sorrir de orelha a orelha até hoje). Mas a surpresa não termina por aí: depois de ser encostado no elenco interista, foi emprestado ao Milan! Como um jogador tão mediano, que por cá era peça de troca em equipes de segunda divisão, pode vestir, em duas temporadas seguidas, camisas tão poderosas? Em uma demonstração de que nem tudo está de ponta-cabeça, Mancini lá também sequer fez vento, e voltou ao Brasil, para o Atlético Mineiro - e, se as coisas correrem como o esperado, deve comer banco mais uma vez.

Logo logo tem mais!

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Souvenirs, novidades, jogos de mágica

Estive, esses dias, mais precisamente domingo último, na pista de skate de São Bernardo do Campo, para conferir shows de bandas amigas que lá se apresentariam - mas o que menos importava, à maioria dos que ali estavam ao menos, era música, ou qualquer manifestação humana carnal, genuína e honesta. O mais importante, para a criançada que frequenta o local (e que mostrou ser um recorte comportamental instantâneo dessa massa de infantes sem cara nascida dos anos 90 pra cá) é o marketing de si mesmo, a promoção de uma atitude antes da atitude em si, a maquiagem como permanente estado de espírito. Me sentia como em um descampado de hipnose coletiva maciça, no qual todos precisavam uniformizar-se, seguir as mesmas regras, comportar-se da mesma maneira, criar uma realidade ao invés de vivê-la, como se fossem avatares de redes sociais ambulantes. Se existia alguma sinceridade ali, era somente na diposição ferrenha dos guris em encarnar os simulacros. Assim sendo, vistamo-nos dos pés à cabeça de skatistas ou rockeiros antes de efetivamente sê-los - conta mais perante a "turminha fotolog".

Pois bem: na terça-feira, tivemos a tal "despedida de Ronaldo". Ali tínhamos, como tudo digno da atenção deste mundo moderno, um evento, antes de qualquer coisa. Nele, o intento era somente ratificar uma convenção, essa coisa histérica e doentia de que Ronaldo é um dos "maiores de todos os tempos", para emprestar algum significado a essa era dinheiro/mídia do futebol, que tanto investe em ilusão e que precisa de retorno eletrizado, televisivo, megalomaníaco. Assim como o que vi na pista de skate, o futebol, não de agora, tornou-se esse negócio do "vestir-se de craque antes de sê-lo", e aquele foi o dia de um dos maiores baluartes dessa realidade, a da publicidade que precede a ação, ser reverenciado pelos mesmos de sempre com textos já prontos, que poderiam ter sido escritos lá em 96, 97, 98, não faria diferença. Hipnotizados (da mesma forma que a criançada Internet-TV a cabo lá do domingo), amortizados perante uma imposição além de si, incrustada nessa coisa intransigente e castradora que é o tal inconsciente coletivo, e que, como tal, não pode ser contestada (alguém aí ousaria dizer que "Sgt. Peppers" não é o maior disco de todos os tempos?), mídia e público ergueram as mãos para congratular um jogador que bolou uma despedida heróica para si próprio, um gênio que era gênio antes de iniciar a carreira, um "Fenômeno" criado a golpes de talhadeira e sem concorrentes à altura quando o negócio é vender uma condição (pessoal, profissional). Um verdadeiro filho do seu tempo, em suma, que ajudou a solidificar (e esvaziar) os métodos de uma era, e que, de forma alguma, poderia ser "ídolo" de outra época que não essa.

Na despedida de Romário, diziam: "o adeus do Baixinho". Nessa, de Ronaldo, as palavras eram: "o adeus de um mito". Na diferença de tratamento reside toda uma realidade do esporte (e do mundo) moderno. No pós-futebol, mais do que o corporativo, Ronaldo representa a definitiva vitória do laboratório.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Onde houver veneno, levarei antídoto

Cá estou novamente, frente ao abismo, contemplando a ti. Sei que não vais abandonar-me – e este dia é como tantos outros para mim, embora repousem na cidade ares pesados do tão conhecido e repudiado louvor à tua humilde bestialidade. Outras vezes mais nos encontraremos, nas boas e péssimas ocasiões. Você nunca saiu da minha vista, e eu sempre mirei a ti. As vozes do horror, pais de tua salvação e danação, já te consagram pelo “futuro sucesso” de seu recém iniciado doutorado de si mesmo. Assim como o construíram, te mantém; mentiras bem contadas neste e naquele rincão da arte plastificada e prostituída. Sua presença só é pequena perto da dor que a ausência dos dias sem ti me evoca. Sua constante produção maquiada castiga células agitadas que desequilibram meu eixo vital. Tu és a sombra que me cega, porém logo volta a orientar-me, pois o mundo sem ti é o seu próprio negativo da fraqueza, e também meu espelho espatifado que alimenta minhas utopias. Estou perto de ti, ainda que distante. Não há saída depois da última. Nem muito tempo restante. Os anjos e demônios choram por nós. E no torpor de sua magia, me contam uma estória. Sobre eu, perdido no deserto, novamente atrás de ti, nessas turbulentas jornadas tuas, que me lembram a Bolsa de Valores da cidade. Já estou enlouquecido de novo, com a perigosa mistura da tristeza com o ódio. Muitas dores e agonias – eis o deserto das testemunhas oculares e palpitares. De repente, uma gota cai do céu. É água. E gosto de lembrar que tudo o que é vida é água. Nada vivo neste planeta lhe faltará água, embora haja algumas tantas variações sobre quais formas, tamanhos, cores e etc. E também abunda em água tudo que há de malevolente, cruel, sádico, desonesto, etc. Citando Tim Maia, tudo é tudo e nada é nada. Então ela vem a mim com a energia equilibrada, embora eu não saiba de onde ela vinha, como, por que, se me adoeceria ou amadureceria. Eu abro a boca, sem medo ou dúvida, até porque tudo isso aconteceu em questão de segundos. A gota cai na boca. Eu a absorvo em seu harém de dor e prazer – o tudo e o nada. O tempo, cedo ou tarde, vai cobrar seu trabalho. Há a segunda escassez de gotas. Você não a tem mais, não a vê, nem caindo do céu, tampouco pipocando do inferno. Na terra há pouca vida. No céu, o marcante do tempo sorri, inflado em seu constante e torturante orgasmo cósmico. Eu frito. Logo após, começa a seqüência animalesca na busca pela luz no fim do túnel. Agarra-se em qualquer galho. Despe-se mais. A loucura é mais freqüente e intensa. E qualquer substância em uma folha qualquer será a traição de mim mesmo com uma gota suja. A estória não tem final feliz, nem triste. Ela apanha do tempo mais do que os pensantes na Inquisição. Então, voltemos a buscar novos rumos movidos pelo nojo do repetido gosto amargo da sujeira. E nessa bola monstruosa de energia, estamos por cima e por baixo o tempo todo. Presos, conectados, inertes aos golpes pressionados pelo tempo e impotentes ao apocalipse que estoura aos nossos pés cansados. Bolhas cancerígenas, sonos insalubres, figa na canhota e suor frio brotando pele afora. Pioneiros e artilheiros. Formigas alucinadas, por instinto vomitam e comem tudo de volta. Ininterrupto refluxo da sobrevivência. Hoje é dia de “honras” para ti. “Deve haver a terceira e derradeira dança”. Para os que sentem sua bomba a funcionar, apenas um dia mais.

ÓDIO ETERNO AO FUTEBOL MODERNO