segunda-feira, 25 de maio de 2015

Armando uma pindureta


Durante um bom tempo não postei nada aqui neste blog, pois não conseguia aceitar um futebol que parecia caminhar para enterrar de vez a formação de equipes - era um momento sombrio, no qual o culto à personalidade valia mais que o conjunto, no qual os times transformaram-se em um amontoado de jogadores que ali estavam apenas para fornecer brilho individual e nada mais se esperava deles, no qual técnico também era um adorno, bastava colocar esses caras em campo e o problema estava resolvido - mesmo que taticamente todos ficassem perdidinhos feito barata tonta (o Real Madrid de uns anos atrás era patético exemplo; nem sei como está hoje, prefiro cama de espinhos a futebol espanhol). Claro que as sequelas se fazem notar até hoje - por mais que o campeonato inglês e seus craques robotizados (lobotomizados?) tentem fazer você crer no contrário -, porém o nosso fantástico "Brasileirão", aquele que tem times favoritos ao título a dar com o pau, inaugurou outra assustadora modalidade moderna de prática esportiva: a dos times que não querem ganhar. Sim! Essas três rodadas do "Brasileirão" ratificam a inacreditável covardia: é a de pior média de gols desde 1990, segundo o solerte e numérico comentarista PVC. Estranho seria se fosse o contrário.

Ontem tentei assistir a Fluminense x Corinthians (em um mundo de times que não querem vencer, qual a razão de se assistir a uma partida completa?) e a farsa ali estava, novamente: marmanjos milionários andando em campo, equipes cinicamente escaladas com um solitário atacante, meio-de-campo de ambas em ritmo tão modorrento que dariam inveja a uma preguiça do mato, chegadas ao ataque desinteressadas e protocolares, pois, apesar da vontade lancinante de fazê-lo, pegaria muito mal só recuar a bola para a defesa durante os 90 minutos... Os chutes a gol são de dar dó: ou surgem de bolas paradas ou de pipocadas medonhas dos beques. Não há vontade em campo, não há suor, muito menos colhões. O técnico não está nem aí, pois o empate assegurado pode garantir palavras elogiosas nas mesas-redondas dominicais, aqueles "armou muito bem o time" de praxe. A própria fórmula de disputa desse torneio tão recheado de favoritos é indiferente, pois derrota não transtorna ninguém, pode-se acumular muitas "gordurinhas" pra queimar na tabela até o fim do ano. A equipe de transmissão, encurralada, sem saber se faz o jogo da emissora e trata o espectador feito idiota ou assume que aquilo que exibem é um entulho de descomunais proporções, brada por marcação de pênaltis a todo momento. Um negócio absolutamente inútil, em suma. Futebol no qual ninguém quer gol: inútil.

Na entrevista final, Fernando Fernandes chega em Petros com a indagação: "devido às circunstâncias, tá de bom tamanho o empate, né?", no que o jogador responde: "a equipe está de parabéns". O comodismo agradece.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Ninguém consegue comer um milhão de sanduíches, bobão


Inicia-se o campeonato brasileiro, esse que é o mais forte do mundo pois praticamente todos os times entram como favoritos, e vemos acontecer de novo uma das práticas mais indecentes às quais esses nossos treinadores meia-sola se entregam sem pudor: "poupar jogadores". Quando digo neste blog que esse atletas brasileiros são mimados até o último, me refiro a esse tipo de coisa. Temos dois grandes mitos do futebol moderno em evidência aqui: 1o) - a propalada "maratona de jogos"; 2o) a "prioridade" a alguma competição (nenhum dos dois temas é novo, óbvio, mas agora viraram religião para boa parte de analistas e técnicos). Certos cronistas parecem que irão às lágrimas em programas de TV quando falam destes pobres jogadores obrigados a disputar duas partidas por semana. Que vida terrível essa, imaginem vocês! Entrar em campo de quarta e domingo, ou de terça e sábado! Que medida abusiva! Devem ficar estourados estes pobres ATLETAS (em caixa alta, para destacar), cercados de preparadores físicos, nutricionistas, 'personal trainers' e toda sorte de profissionais que os preparam para extenuar-se nesta atividade exaustiva. Deprimente, um regime quase escravocrata! Um sujeito que fatura cerca de 300 mil reais por mês, ou mais até, deveria estar preparado para disputar umas cinco partidas POR DIA (caixa alta proposital novamente), mas não: nessa cínica lógica do futebol 2015, o cara ganha mais pra jogar menos.

Quanto a "priorizar" tal competição em detrimento daquela outra, mais uma vez a lógica parece artigo de luxo. Ora, vamos explicar de forma bem inocente: você está em uma Libertadores da América, e não está sozinho - outros times jogarão contra o seu. Você está em um "Brasileirão", aquele que quase todos entram como favoritos a vencer, e também não está sozinho - várias são as agremiações que disputam esse torneio (e quase todos podem estar nas cabeças, vale insistir). Caramba - existe a possibilidade de ser desclassificado! Nossa! O adversário pode estar em um bom dia, ou mesmo ser melhor (coisa que analistas brasileiros não conseguem dizer, possuem um freio na língua em relação ao assunto), e não importa se você poupou jogadores na semana anterior ou não. E estes "craques" descansados agora podem sofrer a falta de ritmo de jogo, outra tara de comentarista brazuca que nesses (convenientes) momentos é esquecida, e atrapalhar seus planos tão bem elaborados! E aquele time reserva escalado pelo treineiro, que dá a impressão bem europeia de "elenco qualificado" ao chutador de lata nativo, pode também se estrepar e colocar tudo a perder na outra competição que restaria ao time! Duas competições se liquefazem ao mesmo tempo - uau, que inesperado! O ano inteiro jogado fora por um capricho de três ou quatro jogos! Socorro!

Vou te contar, rapaz...

(Pra terminar: se você fala "Liberta", você tem problema mental.)

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Não sei nem o que significa o vocábulo "vocábulo"


Um pequeno glossário do Antimídia com alguns dos termos mais retardados utilizados pela mídia esportiva:

GORDURINHAS - Agora, com o retorno do "Brasileirão", esse que é o campeonato mais disputado do planeta pois entra com quase todos os times candidatos ao título, muito se falará das "gorduras", termo que ouvi pela primeira vez dito pelo sumido Paulo César Vasconcelos, e que dá conta daquele momento, inevitável neste longuíssimo torneio de pontos corridos, nos quais as equipes, que já passam o certame inteiro se arrastando em campo, exageram na frouxidão, passam a perder muitas partidas e só não se complicam ainda mais por ter acumulado pontuação que os distanciam da zona de rebaixamento - as tais "gordurinhas". Aparenta planejamento, coisa que os solertes analistas tanto prezam e cobram em suas inserções, mas mostra apenas o desleixo geral da competição, da forma como é encarada pelos atletas até a forma como é recebida pelo público em geral. Essa gordurinha tá mais é pra anorexia - e o anoréxico não acreditar que seja um doente traz à comparação ainda mais sentido.

JOIA - Nos sites especializados não se fala mais em jogador de base em ou em revelação: fala-se em "joia". Sim, o jogador brasileiro anda tão mimado que no time de juniores o cara já é tratado com essa pompa. E obviamente o novo epíteto só seria ideal se remetesse a valores. A tal "joia" não designa futebol : refere-se, principalmente, à possibilidade de dinheiro em caixa. É a prioridade. Espera-se que essa pedra preciosa já venha lapidada a contento, pois ao clube interessa apenas vendê-la. O colonizador não entregou espelhinho ao nativo da terra como se fosse presente de grande valia? Essa é a vingança tardia do brasileiro: exportar "joias" futebolísticas com valor de latão.

NAMING RIGHTS - Falar deste futebol de 2015 é falar de dinheiro. Portanto, tão corrente quanto os termos "drible" e "gol", agora temos esse, "naming rights", na boca do povo. Dá aparência de 1o. mundo, não dá? Me sinto em uma "arena" europeia, rapaz! Mas trata-se apenas do popular, e me desculpem por usar um termo chulo tão brasileiro, "passar o pires": é meio que um "outdoorzão" que usa não uma placa na rodovia, e sim o nome do estádio. É prática corrente no velho Mundo o tal do "naming rights", o Brasil não pode ficar atrás - e, se bobear, a parasitagem que rodeia o futebol vende até o próprio nome para garantir o burrinho na sombra. Um "Rivelino Nike" ou um "Zico Burger King" hoje em dia já nem me parecem tão absurdos.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Não posso sujar meu terninho de marinheiro


Acho que deve ser automático para certos jornalistas: quando se fala de Casemiro, quase sempre se fala em "ótima fase". Na época de São Paulo, tentaram emplacar por diversas vezes a tal "ótima fase", até que deu que deu: foi mandado embora do time sem se confirmar o "craque" que tantos apregoaram com ares de certeza absoluta. Quando foi ao Real Madrid, no lugar de tentarem entender o inexplicável dessa negociação, passaram novamente a festejar a tal "boa fase" do meio-campista - e o resultado? Foi novamente mandado embora. Agora no Porto, do nada representativo campeonato português e que deu vexame contra o Bayern de Munique na ex-Copa dos Campeões, muitos repetem, exultantes: está em "ótima fase". O destino já parece desenhado, mas a maioria ainda prefere se iludir - e a convocação para a seleção brasileira que disputa a Copa América é mais areia a se esfregar nos olhos (deles, não nos nossos).

Vejo Casemiro com o perfil ideal de jogador da seleção. Volante absolutamente comum, desses que só olham para o lado e nunca para a frente, reúne em si "qualidades" que determinam à perfeição o atleta do futebol moderno: não possui vibração (importante fator para não identificar-se com nenhuma torcida e assim poder pulular livremente de time em time, sem vínculos), é mimado por imprensa e treinadores, se dispõe a fazer tudo que o empresário mandar, gosta de "cuidar do visual" e andar com o cabelinho sempre na última moda (de preferência a trazida diretamente dos gramados ingleses), está mais preocupado em "fazer carreira" do que em jogar futebol de fato... No agrupamento da CBF ele está em casa, afinal quase nenhum da lista de Dunga dispensa as características citadas acima. Alguns por aí, inclusive, abusam do apego a tais peculiaridades, como o tal Paulo Ganso do SP - mas esse é um caso tão extremo que já parece queimado mesmo perante quem não vê problema em tal (falta de) atitude. Casemiro, esse sim, tem feito a lição de casa com aplicação exemplar - basta continuar a acertar passe lateral de 3 metros e a empinar o moicaninho que tá tudo certo.