terça-feira, 27 de julho de 2010

Troca o baralho, que esse está marcado

João Gordo uma vez afirmou que o Brasil tem jeito, sim. "Basta que se mate todos que aqui estão e que começe tudo de novo". Pois assim vejo a situação da CBF e sua mais lucrativa franquia, a seleção brasileira. Não existe outra maneira de se modificar o panorama do futebol nacional se não se combater o sistema viciado, putrefato mesmo, que tomou conta da entidade desde a posse de seu todo-poderoso, sua Madame Butterfly, sr. Ricardo Teixeira, e sua tropa de vampiros, sempre sedentos por negociatas e maquinações de bastidores. A Confederação simboliza tudo aquilo que existe de mais podre e rasteiro dentro do mundo político, e os que lá estão são como os homens públicos profissionais: não largam jamais o osso, pois sabe que essa é a casa das oportunidades, que rendem a eles tudo o que lhes dá sentido à vida, ou seja, status, poder, libertinagem e dinheiro. Mudaram o treinador, mas a retaguarda que lhe dá suporte ainda é a mesma. Então, o que esse novo treinador terá de fazer? Se adequar ao modus operandi da família Teixeira-Havelange, ou então, nada feito. Afinal, se a coisa está tão boa para os manda-chuvas da casa, se eles podem comer seu caviarzinho e viajar para qualquer canto do planeta às custas da sangria do esporte mais popular de sua nação (esta, que eles dizem hipocritamente "representar"), para quê mudar? Não importa se a esquadra sofra diretamente com isso, à sombra de tantos desmandos e maracutaias (das quais eles próprios, os jogadores, não estão isentos de responsabilidade, é bom salientar). "Renovação", palavra tão usada pelos "especialistas" nesse momento pós-fracasso na Copa do Mundo quando se fala do escrete amarelo, não passa, portanto, de apenas isso mesmo, uma questão meramente retórica. Na prática, nada muda.

Mano Menezes assumiu em meio à recusa de Muricy Ramalho. É um treinador sério, de método, que sabe trabalhar somente a longo prazo (talvez por isso seu currículo não seja dos mais vistosos), mas que precisou fazer concessões para encarar esse que é o "sonho" dos técnicos brasileiros: o de ser aceito pela CBF como um dos 'tops' da profissão. Assim como jogador, que deseja desde o útero da mamãe vestir a camisa de qualquer clube europeu (sim, qualquer um), técnico também possui as suas cobiças. Mas a vaidade de Menezes foi o menor dos males: triste, sim, foi que sua chegada em nada alterou a rotina usual da CBF e de seu time de estrelinhas fugazes, como ficou claro em sua primeira lista de chamada à frente da seleção. Óbvio que a não-convocação de parasitas como Robinho e Júlio César, talvez os dois com os narizes mais enfiados nos próprios umbigos entre os 23 estafermos que foram à África, é francamente elogiável; claro que existem aquelas patacoadas usuais entre as novidades do treineiro, tão comuns aos iniciantes no cargo (movimento natural de quem quer mostrar serviço: ali estão os desconhecidos que jogam na Europa, que são utilizados para que o recém-empossado mostre que acompanha os campeonatos, que está "antenado"; se fazem presentes também os brasileiros de times menores ou ainda em amadurecimento, cujo sucesso vindouro poderá ser creditado a seu descobridor, este faro tão certeiro para descobrir novos talentos e tão democrático para dar-lhes oportunidade)- mas o resto é somente mais do mesmo. Os que agora serão promovidos a titulares são os que eram antes reservas (já estão mais que à vontade com o clima nababesco da CBF, sabem em que costas precisam dar tapinhas, já arrumaram faz tempo seu pé-de-meia em times do Velho Mundo); as ditas "novidades" são aqueles que mais se mostraram talhados a entrar no esquemão titular do clube-seleção de base-negociação milionária-qualquer agremiação fora daqui. Ora essa, o que Neymar tem jogado que justifica sua presença em uma lista dessas? O que Pato fez nesse último ano, ou mesmo em sua carreira, que o credencia a ser tão indiscutível (como já dito no post abaixo)? Menezes inicia sua participação fazendo uso das mesmas cartas marcadas de seu(s) antecessor(es). Exatamente como a cartolagem queria, e sabe como ninguém estimular e promover. Parabéns a todos eles por mais esse passo atrás.

(Para terminar, uma recomendação: matéria da revista Carta Capital que fala, com sobriedade e exatidão, a respeito do que será essa Copa do Mundo tupiniquim organizada por Teixeira e sua turminha de Alis Babás. Link: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/quem-vai-impor-limites)

sexta-feira, 16 de julho de 2010

O fim do centroavante?




Luiz Suarez, centroavante do Uruguai, me impressionou: mesmo que, em muitos momentos, pudéssemos considerá-lo fominha e estabanado em demasia, ele não se furtou em um momento sequer de dar peitada, encontrões, empurrões, caneladas e toda a sorte de artifícios que um atacante não pode abrir mão para exercer seu ofício. Veja só: ele até mesmo arriscava chutes a gol! De posse da bola, tinha essa preocupação de levar trabalho ao goleiro adversário, e atirava não importa de onde, não importa se de cabeça ou com qualquer um dos pés. Em que mundo os centroavantes deixaram de fazer tal coisa, abriram mão de serem perigosos à meta contrária para tornarem-se bibelôs cheios de não-me-toques? Ora, caros: no mundo de fantasia dos telões da Copinha de 2010.

Sim, esse foi o certame que, além de evidenciar o total desinteresse das grandes "estrelas" em relação a seleções nacionais (cito Messi e Cristiano Ronaldo como exemplos mais óbvios e surrados, mas também as "nossas" estrelinhas, como Júlio César e Robinho), também foi o dos centroavantes que não fazem gol. Desde moleques, Toro e eu acompanhamos gente como Careca, Van Basten, Klinsmann, Romário, e tantos outros que tinham o ato de fazer gols como algo ligado a sua própria sobrevivência. Parecia que esses caras não conseguiriam sequer respirar se não anotassem tentos atrás de tentos! Eram forças da natureza, atletas mergulhados em um total compromisso com o futebol, nada além disso! O pós-96 nos trouxe a nova ordem: o 9 tornou-se uma peça além da equipe, além do esporte, além da vida; fazer gols passou a ser não a conclusão natural de uma jogada bem-feita, e sim algo fora do comum, coisa de "fenômenos", de gente que vê cada ponto que anota ser tratado como uma gema inatingível ($$$), e que fez do gol um artigo de luxo e, por conseqüência, capitalizável. Não estamos mais na época em que Van Basten marca quase 40 vezes em cada um de dois certames holandeses seguidos, e encara isso como algo natural à sua posição e à sua profissão: estamos na Copa em que se pulveriza a artilharia merreca de 5 tentos entre 4 jogadores, e que nenhum centroavante (excetuando a dupla de frente uruguaia, na qual Forlán era a categoria e Suarez a transpiração) fez NADA que se pudesse destacar positivamente - ao contrário: queriam somente bolas em condições perfeitas, não arriscavam, sumiam dos jogos, isso quando não eram responsáveis por momentos bisonhos de grosseria e auto-indulgência. Quantos gols de cabeça você viu no torneio mundial? Pouquíssimos, né? Bem-vindo à era dos atacantes que não se castigam pelo jogo, e que desejam ver tudo chegar de mão beijada a si. E o pior é que, na maioria das vezes, não importam os meios ou as fontes, as obtém.

Vejo que a capa da última Placar traz dois nomes que a revista considera estritamente necessários à renovação da seleção brasileira: Paulo Henrique Ganso, do Santos, e Alexandre Pato, ex-marido de uma atrizinha da Globo. Cito isso porque é a única coisa que traz o tão incensado atacante às manchetes do mundo são as colunas de fofocas, que tratam de seu rumoroso divórcio da tal ex-Malhação, ou qualquer que seja o lixo que a moça tenha estrelado na emissora. Futebol ele não joga faz tempo. Aliás, o que é Pato? O que ele fez para justificar tanta badalação, que tipo de proezas perpetrou para ser chamado até mesmo de "gênio" por alguns insanos de microfone na mão? Digo que não joga porque nem ao menos entra em campo há um bom par de anos. Atleta de seleção, hoje em dia, sequer precisa desempenhar nos gramados - basta fazer o extra-campo de forma correta que o resto está garantido. Assim, quem sabe a tal ave aquática não forma dupla de área com o Nilmar, aquele que pula feito uma Barbie de qualquer dividida ou chegada mais ríspida de zagueiros ou volantes? Simbólico, esse ataque da nova ordem: o que prioriza mais em sua carreira tirar fotos de cuequinha, e o que foge, com medinho, do corpo-a-corpo, em um jogo prioritariamente de choque e de contato. É a dupla que faz a festa da revista Capricho.

(Aos que esperavam mais atualizações desse sítio durante a nefasta Copa do Mundo última, nossas desculpas, mas não rolou. Conversava com Toro a respeito de ser esse o certame que deveria marcar uma virada em relação à padronização horrenda que o jogo adquiriu e que saltou às vistas mais do que nunca em sua mediocridade; esse deveria ser o ponto aonde até mesmo os mesmerizados passariam a clamar por algo com mais alma, mais culhão, menos paquitagem e cabelereiros/manicures - mas, mesmo as vozes que clamaram por mudança vez ou outra durante o torneio, depois voltaram a deslumbrar-se com o nada. Chegaram até mesmo a falar que a vencedora Espanha, com sua sequência de torturantes 1 a 0, era um exemplo de "futebol ofensivo e bem jogado"! O mal-estar nos dominou até mesmo para expormos nossas idéias de mal-estar. A vontade de desistir de vez desse futebol carcomido por dentro e lustroso por fora é grande - veremos até aonde conseguiremos chegar a partir de agora.)