sábado, 23 de julho de 2011

E as feridas não cicatrizam

http://www.lancenet.com.br/futebol-internacional/Relembre-luta-Kerlon-volta_0_521947892.html

Essa matéria, uma pérola desse morto 2011, deixa a nu o porquê de a "seleção brasileira" ter fracassado tão clamorosamente há alguns domingos. A trajetórias desse Kerlon, o "Foquinha", é emblemática; simboliza como poucas o que se tornou o futebol brasileiro, mundial até. Mas primeiro vamos voltar no tempo. Para quem tinha a cabeça no lugar, era tranqüilo enxergar em Kerlon apenas um desses malabaristas inócuos - tanto que a ele foi necessário inventar o tão improvável quanto inútil "drible da foca" para conseguir algum destaque. Mas isso é detalhe: a jogada, em algum DVD, junto ao oferecimento por parte do empresário de algumas vantagens para a contratação do "craque" (salários mais baixos em relação ao praticado na Europa, etc), poderia enganar os gringos - e lá se foi Kerlon para a Itália. Estar no Chievo, ser reserva no Chievo, é coisa bem do tamanho do atleta, sem surpresa, portanto; voltar para o Brasil e sequer ser titular de um time de segunda divisão como o Paraná também - mas eis aí que temos a aberração da história: como que a Inter de Milão teve interesse em Kerlon, comprou e ainda mantém seu passe, e segue pagando salários ao cara até hoje? Estamos falando de um gigante do futebol, de um clube que contou, durante toda a sua história, com grandíssimos e reais craques - como essa enorme instituição se rebaixou a tanto, a ponto de contratar a esmo qualquer coisa que lhe é oferecida, e depois dispender uma vultosa 'ajuda de custo' para manter afastado de seu elenco um jogador que, convenhamos, nunca sequer lhes passou pela cabeça que fosse servir de algo?

Mas então: o que Kerlon e sua não-passagem pela Inter tem a ver com a malfadada seleção do Mano? Ora essa, veja os grandes fenômenos desse time amarelo, os mitificados donos da bola de agora: com uma ou outra exceção, são craquezinhos de plástico, frágeis e com recursos voltados apenas ao espalhafato publicitário ("drible da foca"), mas lá estão, em grandes da Europa, assim como o cirsense mineirinho um dia esteve. Kerlon não é exceção: é regra - a única diferença é que não deu certo (segundo o tio, em entrevista no fim do texto, não deu certo como atleta profissional, mas financeiramente está com a vida ganha - o que mais importa, afinal, nos asfixiantes tempos correntes). Deliciem-se com essa exposição da gangrena do futebol moderno em carne viva.

(Em tempo: Mano Menezes não sossegará enquanto não negociarem esse Renato Augusto com algum time "grande". É outro desses incontáveis "gênios" brasileiros, o meia do Bayer Leverkusen.)

terça-feira, 5 de julho de 2011

Bem-vindo ao reino virtual


http://obeco.planetaclix.pt/rkurz68.htm

Como já destacamos por aqui, uma das coisas que mais incomodam no futebol moderno é a idolatria excessiva a nomes individuais, o que descaracteriza o jogo e torna-o cada vez mais egoísta e centrado em frivolidades - e eis que surge esse interessante texto tratando do assunto, datado de 1999 (ou seja: há doze anos, apogeu da era Ronaldo-Nike, a situação já parecia ridícula; hoje, não só os procedimentos da época consolidaram-se como são cada vez mais aprofundados). O sociólogo alemão Robert Kurz sustenta que, a partir do momento que o futebol passou a significar, acima da própria idéia da prática profissional do esporte, ascensão social, concomitante com a transformação dos clubes em empresas multinacionais (um fator alimenta o outro), criou-se a necessidade de uma "identificação irracional" com os "ídolos" ali fabricados - pois somente assim gerariam consumo desenfreado, a nova ordem do futebol a partir da década de 90, e poderiam suprir os gastos cada vez maiores na manutenção deste irreal status quo (sim, é o ideário capitalista em sua forma mais pura). E a tão batida palavra "globalização" citada no título ajuda a explicar o surgimento de jogadores japoneses, coreanos, africanos de países com pouca tradição, centro-americanos, e também uma inflação insana de sul-americanos (a maioria com técnica abaixo da crítica) nos clubes com maior poder aquisitivo: barateiam-se os custos para os europeus, criam-se novos mercados para venda de produtos licensiados a reboque da participação desses atletas, obtem-se projeção e lucro astronômico, vende-se o "craque" pelo dobro/triplo do que foi pago, e assim vamos. Enquanto aumenta-se cada vez mais a demanda por quantidade, a qualidade diminui vertiginosamente - uma disparidade que, a eles, homens de negócios, interessa, e muito.

Estamos então no futebol como "reino da virtualidade", lugar no qual os jogadores "não têm mais nada a ver consigo mesmos". A fantasia agora é criada fora de campo. Tema esse familiar a quem frequenta esse blog.

sábado, 2 de julho de 2011

Taras secretas

Duas classes de jogadores do 2011 despertam minha curiosidade. São eles...

O que não joga mas é "craque" - Entre tantos, três se destacam nessa incrível categoria de ilusionistas: Alexandre Pato, Paulo Ganso e Adriano. Dificilmente estão em campo, ouve-se mais de suas "contusões" ou aventuras fora dos gramados (Pato com vistosas namoradas, Adriano em bebedeiras e escapadelas para bailes funk, Ganso em choramingos para ser "valorizado" e obter aumentos de salário) do que de algo produzido dentro dele, mas, mesmo assim, de alguma forma que só a modernidade pode explicar, são indiscutíveis, em clubes, convocações de seleção brasileira e especulações de transferências. Se você quer a prova de que o futebol hoje é feito de imagem bem trabalhada e dos factóides jornalísticos, olhe atentamente para esses três e caia na real de vez.

O que é considerado "craque" de acordo com a multa contratual - Os da nova geração, encubados por empresários e desde cedo acostumados às suas táticas de guerrilha marketeira, são assim: jogam na imprensa, essa entidade tão voraz por números, o valor da renegociada rescisão do contrato, normalmente aquela recheada de chamativos zeros, para que todos os observem com novos (e generosos) olhos. É um recurso que sempre dá certo. Vejam o caso desse garoto Lucas, do São Paulo (que o Tino Marcos, da Globo, chama de "Lucas Silva"): já era uma estrela indiscutível dentro do clube e fora dele sem nada ter feito de relevante pela camisa tricolor, somente para si próprio - e o argumento que muitos utilizariam para rebater posições contrárias é a de que "a multa rescisória dele é de não sei quantos milhões, um jogador valioso assim só pode ser 'diferenciado' (sic)". Como já dito, amigos: é tática certeira.