terça-feira, 27 de setembro de 2011

Rápidos pitacos

Um bom exemplo (entre tantos) de como a mídia esportiva brasileira é subserviente e prostrada, é deixar passar a oportunidade de mergulhar nos meandros escusos dessas negociações do futebol brasileiro com a máfia russa. Uma história como a de André, atacante ex-Santos que pra lá foi e retornou alguns meses depois como se nada tivesse acontecido (ou como se sua transferência tivesse custado alguns centavos, e não muitos milhões), fedem de longe. A quem isso serviu? A quem isso calou? Qual a responsabilidade do "grupo de investidores", os que receberam esse dinheiro de procedência (não tão) duvidosa e que agora o gasta sem atropelos? Como esses nada modestos montantes continuam a levar jogadores daqui mesmo que exista a suspeição e indícios claros de lavagem de grana criminosa? O dia em que o jornalismo deixar de ser a área de trabalho de analfabetos funcionais e candidatos a figurante na Praça É Nossa, quem sabe...

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Um dos muitos mimados e metidos a prima-dona do futebol nativo, jogador supervalorizado devido à crônica carência de reais talentos, chamado até mesmo de "ídolo", o atacante Kleber (foto), do Palmeiras, agora adota o procedimento Rogério Ceni no trato com a imprensa: situa-se, arrogantemente, como que em um mundo acima do resto de sua equipe. Despista, com palavras ambíguas tipo "precisamos" ou "não podemos", qualquer imposição de responsabilidade perante o mau momento da equipe, assim como atribui, de forma enviesada, a "culpa" a atletas de todos os setores do time - e ainda se dá ao direito de ditar soluções ao que não lhe compete, enquanto acumula trocentos jogos sem desempenhar sua função, ou seja, marcar gols. O apelido "Gladiador" sugeriria que o atacante encarasse sem medo os percalços do caminho - mas ele prefere, pelo visto, fazer o contrário. A não ser que se confunda prepotência e crocodilagem com "raça".

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Mário Fernandes não foi à seleção - e esta é uma das histórias mais mal explicadas dos últimos tempos. Porém, o que chega a público é que o jogador já possui o agora tradicional "grupo de investidores" pro trás de si - então, se sua estranha ausência no milionário bando da CBF ainda carece de esclarecimento, até por conta da "valorização do passe" que sua presença por lá traria, o motivo de sua convocação agora está bem menos nebuloso. As lombrigas e os sanguessugas agradecem.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Quem não sangrou não sangra mais

Resultados como o 8 a 0 que o Barcelona enfiou no tal Osasuna fim de semana passado só impressionam aos mais facilmente impressionáveis. Mas pensava esses dias que a greve no Campeonato Espanhol veio na hora certa: o volume de dinheiro investido por Barcelona e Real Madrid não pode gerar concorrentes. Eles precisam reinar sozinhos, para que tal montante de cascalho injetado massivamente em suas "estrelas" não seja em vão. A concorrência, se existir, se já não surge enfraquecida pelo assustador peso dos gigantes, precisa ser esmagada e humilhada, para manter-se em seu devido lugar. O futebol-dinheiro, assim como no mundo dos arranha-céus e das manobras de escritório, também gera oligopólios - e o retorno do Campeonato Espanhol mesmo em estado agonizante representa como nenhuma outro o quanto as idéias feudais ainda encontram respaldo no ser humano "moderno".

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Desde que os cabelos passaram a ser peça fundamental de um jogador de futebol, e que cabelereiros são contratados por clubes e seleções para dar um trato no visual dos "craques", o fundamento chamado 'cabeçada' sumiu dos estádios. Onde estão os grandes cabeceadores? Desapareceram com um golpe de laquê atrás de algum moicaninho por aí. E fica fácil entender: como desmanchar um topete, que tanto trabalho deu para ser montado, que tanto gel gastou para ser erguido, que tantos "seguidores" encontra arquibancadas mundo afora, com uma cabeçada, essa coisa rude e primitiva? Antes não saber cabecear do que tornar-se um pária que renega os modismos mais quentes dos gramados, não?

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Fico a imaginar o que uma pessoa que leva esse futebol de 2011 a sério, acha "interessante taticamente" um espetáculo de horrores sem precedentes como Avaí x Palmeiras, que aceita um jogador tipo esse Tinga, do Palestra, como "um bom meio-campista", faria se vivesse em outra época. São esses os que costumam dizer que "os jogadores de antigamente não dariam certo hoje". Qual a base de uma frase dessas? O quê um atleta do passado, de qualquer época, não faria agora, nesse mundo de Luans e Mários Fernandes? Na verdade, são os fãs do futebol-dinheiro que não se encaixariam nas toscas assistências do passado, pois não entendem como o futebol um dia já existiu sem chuteiras coloridas ou salários exorbitantes - e seu elitismo é tão abusivo que situam-se acima do espectador de qualquer época sem ao menos entender o seu próprio tempo, e sua função dentro deste, para além do consumo incessante e do marketing desenfreado de idiossincrasias (via Internet, claro, essa ferramenta fundamental para a disseminação do vazio). Assim, eximem-se, inconsciente porém convenientemente, de qualquer responsabilidade perante a morte do jogo. Ver esse tipo de coisa me mostra que ser saudosista pode ser inútil do ponto de vista prático, mas, no corrente ano, é quase uma necessidade vital...

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Alô você, venha bater um escanteio!

http://placar.abril.com.br/bola-de-prata/brasileiro/figueirense/noticias/top-5-e-destaques-da-bola-de-prata-ate-a-22%C2%AA-rodada-do-brasileirao.html

"O escanteio cobrado com perfeição contra o Corinthians desempatou a briga pela Bola de Ouro, que agora é de Ronaldinho Gaúcho".

Atenção você, que é ou não jogador profissional!

Treine muito para bater escanteios, pois isso pode levá-lo a ser o incontestável líder da Bola de Ouro do "Brasileirão", e a merecer toda sorte de elogios por sua visão e categoria! Sua cobrança de córner pode tornar-se um daqueles lances que marcam época, que o elevam a "maior do mundo", como um dia já foram o gol de Zico contra a Iugoslávia e o de Pita contra o Palmeiras no 4x4 do Pacaembu! Essa é a sua chance, caro amigo!

Isso significa a brutal queda de divisas do futebol moderno, no qual um jogador torna-se "bestial" por dominar um fundamento básico e obrigatório que é cobrar corretamente um escanteio? Não, é claro! Significa cara-de-pau de articulistas criados pela vó em apartamento, acostumados a vibrar com VTs do Youtube e a santificar determinados jogadores em detrimento da objetividade? Em absoluto! Significa comemorar, com radicalismo sem precedentes, a vitória da burocracia, do treinamento robotizado, do pragmatismo mais banal, que é a "bola parada" decidindo um prélio neste zumbificado 2011? Pára com isso, vai! Admire a beleza dessa cobrança milimétrica e genial!

(Antes de o campeonato começar, cravávamos por aqui Ronaldinho Gaúcho como nome certo para ganhar uma Bola de Prata - e não seria surpresa se também faturasse o troféu máximo, a Bola de Ouro, jogando o que jogasse. Sob o signo da previsibilidade, marca primeira do futebol-dinheiro, que prioriza aquele que paga/recebe mais, e também da indecência descarada dos "crítérios de avaliação", taí a concretização momentânea do vaticínio.)

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Esse 2011, que ano traquinas!

- Em conversa recente com um amigo, chegamos à conclusão de que a covardia do fair play, instituído por Blatter e seus cordeirinhos há um par de décadas, nada mais é do que um dos tentáculos do polvo mercadológico que domina todas as atividades humanas em 2011: trata-se de uma forma de limpar o jogo para vendê-lo melhor. Depois, pensando no assunto, vi que a maciça presença feminina no futebol hoje nada mais é do que um desdobramento dessa política – é uma forma de expandir público e, para usar o termo que deixam molhados tanto os marketeiros quanto boa parte dos analistas esportivos de hoje, “atrair consumidores e vender uma marca”. Pois uma garota sentiria-se interessada por um jogo como a final do Brasileiro de 90, na qual Antônio Carlos, Bernardo e Márcio desandaram a distribuir rasteladas em quem quer que lhes aparecesse à frente? Dificilmente, convenhamos. Amaciar essa selvageria era imperativo para trazer ao shopping center do futebol todos os sexos, todas as idades, famílias, tios bonachões, anunciantes crentes no poder de um sorriso e quetais. Não temos aí uma questão técnica, a balela de "conter a violência nos gramados para melhorar a qualidade do espetáculo" que usaram como argumento para o convencimento da massa, e sim uma parasitária imposição externa a influir diretamente no jogo para dele extrair não jogadas e gols, e sim capital - nada mais 2011 do que isso, portanto.

- Não é à toa que, entre tantos outros motivos que vivemos destacando aqui, desde que o futebol se assumiu como um esporte televisivo acima de tudo, o nível técnico tenha caído tanto. Pois temos câmeras em todos os lados do campo, para captar qualquer movimento, dispostas a engolir os jogadores se for preciso, e diversos seres a narrar absolutamente tudo o que acontece, transformando os jogadores (e a si próprios também, no caso do “jornalismo-stand up” global) em atores sabe-se lá do quê. Pois então: como, cercado de um aparato dessa magnitude, um jogador pode concentrar-se somente no jogo? Independente do talento que possua, não existe mais possibilidade do atleta respirar e pensar o futebol – ele precisa estar constantemente ligado ao já citado aparato, porque este agora se arroga o papel de ser o único meio de lhe emprestar uma vida. Existir, jogar, ser atleta profissional, está intimamente conectado ao desespero de se fazer notar pelo mercadológico/midiático porque estes tornaram-se a única forma de contato possível dessa gente com o mundo. Lembre-se disso da próxima vez que o "craque" do seu time comemorar a marcação de tentos com a câmera de TV.

- Futebolistas modernos são criaturas tão pouco marcantes, tão domadas por aquilo que é externo ao jogo, que necessitam ser chamados por nomes compostos para que sejam identificados até mesmo a si próprios. Isso sempre existiu, claro (Leônidas da Silva, Domingos da Guia, Jair Rosa Pinto, Mauro Ramos de Oliveira, etc.), mas agora assumiu ares de pandemia – e, se antigamente servia como uma deferência, uma forma de evidenciar o respeito adquirido por um craque citar seu nome completo, hoje é uma tática necessária para desembaralhar essa camarilha de seres sem alma que despersonaliza cada vez mais o esporte. Todos os times possuem seus Renans Oliveiras, seus Andrés Santos, seus Maikons Leites, seus Thiagos Ribeiros, seus Fabrícios Carvalhos - e agora a seleção conta com gente tipo Mário Fernandes (foto) e Renato Abreu, tão carismáticos quanto uma folha de alface. Não dê muito, e esses típicos funcionários de repartição do futebol estarão em campo ostentando crachás com seus nomes inteiros, para que possamos saber quem é quem nesse mar de impessoalidade e imbecilização (da qual não são vítimas, e sim agentes diretos porque coniventes).