sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O horror nosso de cada dia

Como dizíamos desde o início do ano, Ronaldinho Gaúcho faturou uma Bola de Prata. Apesar de todos os esforços da revista Placar, que tentou por diversas rodadas entregar a Bola de Ouro ao grande "mito" do nosso futebol, o campeonato do ilusionismo não conseguiu forçar a barra tanto assim. Mas aí está: o troféu já estava entregue ao jogador desde antes de o torneio começar; jogando o que jogasse, ele a faturaria. O triste de toda a história é ver que a Bola de Prata, que antes, por ser um prêmio menos circense, proporcionava seu prestígio ao atleta premiado, agora faz o contrário: corre atrás, em mendicância desesperada, daquilo que acredita ser uma "grife futebolística" (não importa se ascendente ou decadente) para que estas lhe emprestem um pouco de "importância" e "relevância". Uma contra-mão que tem como objetivo o famoso (e, neste caso, literal) pote de ouro no fim do arco-íris.

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O Santos logo entra em campo no mundial da pirotecnia - e, apesar de escaldado com os procedimentos do marketing moderno, ainda me causa espécie ver Paulo Ganso, que não jogou esse ano, ser apontado como "craque", ou como "destaque" do time. Uma vez pregada a estrelinha de bom menino na testa da nova geração, é impossível despegá-la. Chega a ser ofensivo dizer aos do atual público do futebol (ou mesmo entre alguns com anos e anos de vivência entre os altos e baixos do esporte) que Pato sequer devia ser convocado para a seleção brasileira, por exemplo. Eles espumam, ameaçam nos morder. Como contestar que Pato é um "craque", um "fenômeno"? Dizer que ele mal entra em campo? Dizer que ele marca uma quantidade irrisória de gols para alguém com sua reputação? Como blasfemar a ponto de falar que o garoto Lucas, do São Paulo, não é um prodígio? Só porque ele nunca decidiu uma partida importante em sua carreira? Não adianta: vivemos em uma redoma de letargia e mistificação barata, e o futebol moderno é um dos agentes mais certeiros para a perpetuação de ambos.

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Kleber "Gladiador" chegou ao Grêmio já com status de "ídolo". É bom lembrar que o sujeito sequer entrou em campo com a camisa gremista. Pelo visto, com todos tão em dia com as obrigações e procedimentos do futebol 2011, nesse círculo vicioso de construções cimentadas com marketing, nem precisaria.