quarta-feira, 13 de junho de 2012

Novos mares


Aconteceu uma coisa bem interessante comigo, sábado a noite. Fui a uma festa familiar e, antes de sair de casa, senti a temperatura gelada. Corri até o armário, encontrando um cachecol da Seleção Argentina. Pouco o uso, de fato. Mas cabia perfeitamente a ocasião. Chagando lá, ninguém acreditava que eu estava, coincidentemente, usando a peça e não pela vitória num jogo que eu sequer lembrei que acontecera. Pois, passa o tempo. Depois de quatro dias, resolvi assistir os gols daquele que tinha sido mais um “jogão”, com “golaços” dos “gênios” Messi e Neymar e etc, etc, etc. Não me decepcionei por ter perdido mais um joguinho do futebol vendido como grandioso. Sabia que não havia muito motivo a me levar pra frente da tela. Na Copa da África, frisamos sobre o caos do futebol atual. O festival dos toques inúteis para os lados, para trás - e pra frente também, pois só assim eles chegam ao gol agora, de toque em toque, que, as vezes, dão certo. Agora, ninguém mais finta ninguém, rara são as vezes que um jogador vence o outro com a bola nos pés. Futebol está a caminho de se tornar um vôlei das gramas! E os gols, sem a criatividade e loucura, saem, quase todos, de bolas paradas, cruzamentos previsíveis, sem marcação ou depois de infantis erros adversários – que, pelo nível técnico horrível, acontecem cada vez mais. Inadmissível aquilo que deveria ser a nata daquele jogo que todos nós praticamos. E justamente, na inversão da realidade, a era de hoje é dos milhões, dos “melhores do mundo”. Já estão colocando este Barcelona como igual ou maior do que o Real Madrid da década de 50; Neymar maior do que Zico; e por aí, vamos...

A curiosidade move os homens. Achei o vídeo com narração do mister Galvão Bueno. Melhor ainda para testemunhar tudo de ruim, que certamente ocorreria ali, no mundo da distorção e manipulação. E a merda já começa com a “pele” dos "guerreiros", como sussurram dramaticamente nas propagandas. À cancha, os uniformes em nada têm a ver com sua tradição. O do Brasil, pilhado pela Nike e Rede Globo, eu não respeito desde pouco antes da deliciosa derrota pra Nigéria, em 1996. E a Argentina, também, mesmo com seu passado de luta e lágrimas dramáticas, já não é mais a mesma, não tem mais na força de conjunto – ou algum camisa 10 encapetado - sua arma. Sim, digo isso na era de Messi! Não esqueçam, falamos aqui da Seleção. O máximo que ele fez foram excelentíssimos minutos em 2006 (se tivesse entrado no lugar de Crespo, na prorrogação contra os da casa, teríamos vencido a Copa, certeza) e o título em Pequim, em 2008. Na África, já ao status de Deus, deveria ter trazido a taça, ou no mínimo jogado bem mais do que seus (vários) passes errados e postura displicente nos momentos decisivos demonstraram. E assim foi também na Copa América, em terra natal. Mas mídia é mídia. Sei que há uma verdade intocável pairando por aí. Daquelas que nem mesmo Pelé ou Maradona seriam capazes de justificar, de tão estupidamente gananciosa e vendida aos mínimos cuidados na mente da massa que ela é. E ao não justificar – como acontece com todos, desde o primeiro, o Nazário - eles falham, não demonstram o valor com que são etiquetados. Ao vivo, é flagrante: o “narrador” sempre coloca a culpa das falhas em qualquer outra coisa, ou jogador e qualquer acerto, mesmo que mínimo (já esperado desde sempre na transmissão, servindo de edição pro telejornal de amanhã), já é vendido da mesma maneira que faz um feirante, aos berros e repetidamente. E isso dói, pois rebaixa o nível do jogo. Os brucutus de hoje são terríveis, os zagueiros que colocam a bola para fora e comemoram idem, mas os superpopstars são a grande marca e pilar do futebol mercantil. O “eu futebol clube”, sobre qual já debatemos um pouco aqui. Nesse campo, Messi é perfeito. Com a camiseta argentina, deve muito. Não à toa vivem os argentinos, também, a era de um só jogador, do nome próprio a frente do conjunto, da super estrela. É a vez do pulguinha! E assim, comecei a ver o vídeo – sempre querendo acreditar que vou me decepcionar nas minhas certezas, que vou ver algo razoável, no mínimo. Afinal de contas, trata-se de Brasil x Argentina! Será que ainda é possível reconhecer algum traço do que representaram essas duas camisetas? O local do jogo ser os Estados Unidos ou a Suíça já nem surpreende, e faz todo o sentido pros negócios. Longe dos verdadeiros adeptos, da reação das torcidas; perto do dinheiro, do controle das ações, expandindo territórios, conquistando almas, digo, consumidores... A lista vai embora, o sistema funcionando, o Império vencendo. Lamentável. E vem os gols. O primeiro do Brasil surge, claro, de uma falta, após o “incrível” Hulk fugir de mais uma dividida, típica ação dos modernos. E outra dos modernos foi a burrice do defensor argentino de se jogar em cima do contrário – saudades de Ruggeri eSensini! Como faz falta o cérebro e alma no futebol! Ai vem o primeiro de Messi. E engraçado, falam tanto, mas tanto, mas tanto destes intocáveis ídolos de ouro. Quando eu penso que ele fez como faziam aqueles de antes, que os de hoje afirmam já terem sido superados pelo tal novo “gênio”, driblando dois ou três adversários. Mas, não! O primeiro gol surge com o “gênio” recebendo um passe na cara do gol e tirando a bola do ângulo do goleiro nada mais do isso. Nada de mais, pra quem já viu tanto futebol bom na vida. Uma das coisas que mais desagradavam na invenção da Ronaldo-Mania era isso: a distorção, a bajulação propositalmente exagerada. Ele recebia uma bola perfeita, após jogada toda dos companheiros, mas quem recebia todo o credito era só aquele que vendia tudo do lado de fora dos campos. Pois, o “gênio” iniciava boa tabela e aí, mais uma vez, recebia outra bola na cara do gol, driblava o goleiro e fazia a virada. Não discuto a qualidade técnica, a capacidade o jogador com a bola. Isso tudo já é superficial no jogo perto do que se tem feito nas mesas de edições e cabines de locução. Discuto o todo. O tratamento da mídia, a fabricação de opiniões distorcidas, a vida distorcida. O Brasil vira o placar com dois gols, claro, onde se vê a combinação de bola parada com falhas dos contrários e de toques e mais toques, sem que nenhum marcador contrário encoste em ninguém. Futebol modernista, ei-lo. Esse é o novo futebol. A Argentina empata em outro gol chato. Eu esperando ver golaços, jogadas absurdas, disputa sangrenta pelas bolas, cotoveladas, defesa da honra, o que cresci vendo num clássico desses - algo assim lembram-se? E o que via parecia cada vez mais um vídeo game. Muito mais doque o vídeo game parece real. E Galvão solta, claro, um “que jogão amiiiiigo”. Eu queria fingir que era mesmo um jogão, que a cada gol ali, independente de qualquer critica, fazia me encher de alegria – pois essa é o final da contas, a mágica do futebol, dar prazer, alegria. Mas meus parâmetros vivem acessos, dentro do meu peito. O futebol deoutrora ficou pra trás, mesmo. Mas em mim ele vai sempre viver. Não há como comparar nada de hoje, com algo de antes do dinheiro mandar no esporte, como vem sendo há mais ou menos, 10, 15 anos. E o quarto gol deste novo “gênio”, também não me fez pular da cadeira. Não discuto, novamente: um belo gol, belo chute, bela técnica desse que, só se destacaem demasia, além da magia da mídia, porque os demais estão cada vez mais fracos. A exceção à regra, a lei da contingência determinando o terrível nível técnico do futebol atual. Mas me incomoda ver como sumiu o contato físico viril, aquele que, ao ultrapassado, transformava o futebol no ambiente de suspiros e infartos. Como um verdadeiro gladiador na arena - ali, sim, eram arenas! O sentimento de ver seu ídolo matando “um leão por jogo” foi enterrado. E isso sempre vai afetar meu julgamento. Talvez não do jogo em si. O do contexto histórico que nunca pode se apagar – até porque futebol se joga em qualquer lugar e condição. Pode ser, disparado, o melhor do mundo hoje, assim como o menino Neymar o melhor do Santos e assim por diante. Mas não há como comparar com o que ocorria antes desta geração tomar conta, este novo espírito produzindo cada movimento em campo e fala sua ao microfone. Assim, no lance do gol final, ninguém encostou no “gênio”, tampouco o perturbaram neste novo “golaço da rodada” – coisa, aliás, que esta geração não sabe viver sem. Ainda fizeram aquela corrida acompanhando o movimento, entregando todo o ângulo para o chute, não oferecendo qualquer combate. Porque não há mais falta e carrinhos no futebol. E, também, há cada vez mais visível, esse “respeito” lamentável exatamente por estes superpopstars e Barcelonas modernos. E os “gênios” não podem ser incomodados. E assim vão,aplaudindo essa mentira. Eu nunca!

Acabei o vídeo, ouvindo o Galvão falando suas besteiras de sempre, justificando ali, masturbando aqui, um verdadeiro manager do dinheiro. De futebol se fala pouco. Não há mais aquele Silvio Luiz dizendo “mas ninguém encostou nele também, pô! Aí até eu!”. Ou algo qualquer que realmente pintasse o quadro que vê, como manda a reza de um jornalista, esportivo ou não. A crítica. O que fazia do jogo algo sério, mais do que a vida e a morte, também não tem mais espaço. Não se pode criticar um produto que é seu. E assim, o jornalista esportivo de hoje veste, como todo orgulho e submissão, o manto da parcialidade. Veem um belo gol, mas não conseguem analisar de onde vem, como veio. O gol de três chapéus do Vivinho, pelo Vasco, contra a Portuguesa, o levaria ao Milan hoje. Só isso tenho a dizer. Não há mais consistência no futebol. Sobrou o reino do superficial, isto é o que sobrou do futebol.  E eu pensando, porque caralho eu ainda perco meu tempo com futebol atual? A novaArgentina, sem aqueles cabeludos insanos, não é mais a Argentina pra mim. Os novos estádios, torcedores. Todos representam a mesma coisa: dinheiro, riqueza, fama e beleza. Isso já não é mais futebol. Sinto muito. A verdade um dia prevalecerá. Vejo Messi como o melhor de todos esses ídolos modernos. E, por favor, não é porque ele é o primeiro argentino deles. Desde meu ódio ao Ronaldo sou acusado de ser antipatriota. Mentira! Era Bury e eu lutando juntos. Ao mesmo tempo em que atacávamos a mentira da Ronaldo Mania, alertávamos sobre como Giovanni era transformado em nada, jogando muita bola. Mas Messi é um dos poucos que não tenho dúvidas se daria certo mesmo enfrentado a pauleira de antes. È na alienação, no exagero, na imparcialidade, na injustiça que mora o perigo. Cria-se um senso comum e se manipula uma sociedade toda. O torcedor de hoje é alienado. É o novo torcedor, de fato. Novas roupas, mentalidade e atitude. Precisa tanto do passado que vive comprando camisas de lá. Enriquecendo os de hoje, claro. Mas é sempre no exagero, na manipulação que mora o perigo. E fazem isso no futebol, ao vivo! Prestem mais atenção, já que não saem da frente da televisão mesmo. Não são só eles que estão ficando sem cérebro. Bueno, sem mais delongas, o tempo vai passando. Um dos grandes problemas. A memória do que era futebol vai ficando cada vez mais distante. Sinto medo. Daqui a pouco o Fenômeno vira presidente. Nem imagino que está por vir. Cuidemo-nos.

Ódio eterno ao futebol moderno!

terça-feira, 13 de março de 2012

O mundo gira e a planta cresce

"Jogador (insira aqui o nome de qualquer um) é gênio!"

Assim funciona um dos dispositivos mais definidores da moderna assistência de futebol: a criação dos "craques". Mas esta, a um observador atento, é facilmente explicável. Tome um neófito, uma criança de 12, 13 anos, por exemplo: quando toma contato com times de uniformes cuidadosamente atraentes, com design arrojado, jogadores de moicanos e tatuagens (visual agressivo porém palatável), gramados verdejantes que aparentam-se à visão de paraíso, toques de bola exaustivamente ensaiados para não darem a impressão de frieza e mecanicidade, audiências civilizadas que aplaudem cada lance - como desinstalar-se daí? É um mundo perfeito servido de bandeja, construído com esmero (e abundantes recursos) para que as percepções se nublem.

A partir daí dá as caras, então, a ignorância histórica - afinal, é necessário parâmetros para se tecer comparações. Como considerar alguém "craque" ou mesmo "gênio" sem a sombra de outro "craque" ou "gênio" a lhe fazer peso para a análise de seus recursos técnicos? Dali, daquele mundo verdejante e comportado no qual o instalaram, o garoto não deseja sair; como algo pode ser maior do que aquela milionária perfeição?, ele se pergunta. Não volta os olhos a momentos vulgares do futebol, Copa de 74, aqueles cabelos desgrenhados, costeletas, aqueles uniformes que colavam ao suor... Este ser, que já possui em si a a (moderna) tendência a amortizar-se, deita na cama, não busca sair do comodismo de sua época, não quer entender o esporte como um todo. Sua estagnação (em plena "era do conhecimento"!) o obriga, sem traumas ou culpa, a exaltar apenas os de seu tempo que, pela ausência de conhecimento, não sabe serem de plástico. E nessa ele fica, como parte atuante da engrenagem que move a mediocridade.

Muitos gênios, em 2012.

sexta-feira, 2 de março de 2012

O show do vazio

Vivo dizendo a um amigo: os de agora, ignorantes históricos contumazes que chafurdam por opção pessoal (ou mesmo por conta de uma inescapável mediocridade intelectual) no imediatismo mais raquítico, PRECISAM que Messi seja o maior de todos os tempos, pois a quantidade de dinheiro e de massiva publicidade que destinam ao jogador é tão sem precedentes que a necessidade de elevá-lo de qualquer maneira a um patamar de Olimpo é imperativa. O que significam os "recordes quebrados" pelo argentino, em tempos de futebol tão destroçado? Tais números sequer conseguem figurar com maior destaque na biografia do 10 do Barça, de tão frágeis (ou irrelevantes) que são se colocados em um contexto de história - apenas demonstram que a presença de um "craque" de tal magnitude não ajudou a fortalecer o futebol, e sim a enfraquecê-lo, para girar viciosamente em torno dessa grotesca mistificação (mistificação essa que a própria figura de Messi, um sujeito pálido, sem vibração, trata de tornar paradoxal a todo momento).

Se exageros ainda mais absurdos já foram perpetrados nesse desespero, típico dos nossos tempos, em encontrar relevância em si mesmo (como Ronaldinho Gaúcho, por exemplo, figurar em algumas listas de "maiores" feitas por esses asnos corporativistas que são os "especialistas"), o caso Messi apenas coloca a nu o horror de uma época que busca forjar a própria importância em lugar de ser realmente importante. E o vácuo só aumenta.