A curiosidade move os homens. Achei o vídeo com narração do
mister Galvão Bueno. Melhor ainda para testemunhar tudo de ruim, que
certamente ocorreria ali, no mundo da distorção e manipulação. E a merda já começa com a “pele” dos "guerreiros", como sussurram dramaticamente nas propagandas. À cancha, os
uniformes em nada têm a ver com sua tradição. O do Brasil, pilhado pela Nike e
Rede Globo, eu não respeito desde pouco antes da deliciosa derrota pra Nigéria,
em 1996. E a Argentina, também, mesmo com seu passado de luta e lágrimas
dramáticas, já não é mais a mesma, não tem mais na força de conjunto – ou algum
camisa 10 encapetado - sua arma. Sim, digo isso na era de Messi! Não esqueçam,
falamos aqui da Seleção. O máximo que ele fez foram excelentíssimos minutos em
2006 (se tivesse entrado no lugar de Crespo, na prorrogação contra os da casa, teríamos vencido a Copa, certeza) e
o título em Pequim, em 2008. Na África, já ao status de Deus, deveria ter
trazido a taça, ou no mínimo jogado bem mais do que seus (vários) passes errados
e postura displicente nos momentos decisivos demonstraram. E assim foi também na Copa América, em terra natal. Mas mídia é mídia.
Sei que há uma verdade intocável pairando por aí. Daquelas que nem mesmo Pelé
ou Maradona seriam capazes de justificar, de tão estupidamente gananciosa e
vendida aos mínimos cuidados na mente da massa que ela é. E ao não justificar –
como acontece com todos, desde o primeiro, o Nazário - eles falham, não demonstram
o valor com que são etiquetados. Ao vivo, é flagrante: o “narrador” sempre
coloca a culpa das falhas em qualquer outra coisa, ou jogador e qualquer
acerto, mesmo que mínimo (já esperado desde sempre na transmissão, servindo de
edição pro telejornal de amanhã), já é vendido da mesma maneira que faz um
feirante, aos berros e repetidamente. E isso dói, pois rebaixa o nível do jogo.
Os brucutus de hoje são terríveis, os zagueiros que colocam a bola para fora e
comemoram idem, mas os superpopstars são a grande marca e pilar do futebol
mercantil. O “eu futebol clube”, sobre qual já debatemos um pouco aqui. Nesse
campo, Messi é perfeito. Com a camiseta argentina, deve muito. Não à toa vivem os
argentinos, também, a era de um só jogador, do nome próprio a frente do
conjunto, da super estrela. É a vez do pulguinha! E assim, comecei a ver o
vídeo – sempre querendo acreditar que vou me decepcionar nas minhas certezas,
que vou ver algo razoável, no mínimo. Afinal de contas, trata-se de Brasil x Argentina!
Será que ainda é possível reconhecer algum traço do que representaram essas
duas camisetas? O local do jogo ser os Estados Unidos ou a Suíça já nem
surpreende, e faz todo o sentido pros negócios. Longe dos verdadeiros adeptos,
da reação das torcidas; perto do dinheiro, do controle das ações, expandindo
territórios, conquistando almas, digo, consumidores... A lista vai embora, o
sistema funcionando, o Império vencendo. Lamentável. E vem os gols. O primeiro
do Brasil surge, claro, de uma falta, após o “incrível” Hulk fugir de mais uma
dividida, típica ação dos modernos. E outra dos modernos foi a burrice do
defensor argentino de se jogar em cima do contrário – saudades de Ruggeri eSensini!
Como faz falta o cérebro e alma no futebol! Ai vem o primeiro de Messi. E engraçado,
falam tanto, mas tanto, mas tanto destes intocáveis ídolos de ouro. Quando eu
penso que ele fez como faziam aqueles de antes, que os de hoje afirmam já terem
sido superados pelo tal novo “gênio”, driblando dois ou três adversários. Mas, não!
O primeiro gol surge com o “gênio” recebendo um passe na cara do gol e tirando
a bola do ângulo do goleiro nada mais do isso. Nada de mais, pra quem já viu
tanto futebol bom na vida. Uma das coisas que mais desagradavam na invenção da
Ronaldo-Mania era isso: a distorção, a bajulação propositalmente exagerada. Ele
recebia uma bola perfeita, após jogada toda dos companheiros, mas quem recebia
todo o credito era só aquele que vendia tudo do lado de fora dos campos. Pois,
o “gênio” iniciava boa tabela e aí, mais uma vez, recebia outra bola na cara do
gol, driblava o goleiro e fazia a virada. Não discuto a qualidade técnica, a
capacidade o jogador com a bola. Isso tudo já é superficial no jogo perto do que
se tem feito nas mesas de edições e cabines de locução. Discuto o todo. O
tratamento da mídia, a fabricação de opiniões distorcidas, a vida distorcida. O
Brasil vira o placar com dois gols, claro, onde se vê a combinação de bola parada
com falhas dos contrários e de toques e mais toques, sem que nenhum marcador
contrário encoste em ninguém. Futebol modernista, ei-lo. Esse é o novo futebol.
A Argentina empata em outro gol chato. Eu esperando ver golaços, jogadas
absurdas, disputa sangrenta pelas bolas, cotoveladas, defesa da honra, o que
cresci vendo num clássico desses - algo assim lembram-se? E o que via parecia cada
vez mais um vídeo game. Muito mais doque o vídeo game parece real. E Galvão
solta, claro, um “que jogão amiiiiigo”. Eu queria fingir que era mesmo um jogão,
que a cada gol ali, independente de qualquer critica, fazia me encher de alegria
– pois essa é o final da contas, a mágica do futebol, dar prazer, alegria. Mas
meus parâmetros vivem acessos, dentro do meu peito. O futebol deoutrora ficou
pra trás, mesmo. Mas em mim ele vai sempre viver. Não há como comparar nada de
hoje, com algo de antes do dinheiro mandar no esporte, como vem sendo há mais
ou menos, 10, 15 anos. E o quarto gol deste novo “gênio”, também não me fez
pular da cadeira. Não discuto, novamente: um belo gol, belo chute, bela técnica
desse que, só se destacaem demasia, além da magia da mídia, porque os demais
estão cada vez mais fracos. A exceção à regra, a lei da contingência
determinando o terrível nível técnico do futebol atual. Mas me incomoda ver
como sumiu o contato físico viril, aquele que, ao ultrapassado, transformava o
futebol no ambiente de suspiros e infartos. Como um verdadeiro gladiador na
arena - ali, sim, eram arenas! O sentimento de ver seu ídolo matando “um leão
por jogo” foi enterrado. E isso sempre vai afetar meu julgamento. Talvez não do
jogo em si. O do contexto histórico que nunca pode se apagar – até porque
futebol se joga em qualquer lugar e condição. Pode ser, disparado, o melhor do
mundo hoje, assim como o menino Neymar o melhor do Santos e assim por diante.
Mas não há como comparar com o que ocorria antes desta geração tomar conta, este
novo espírito produzindo cada movimento em campo e fala sua ao microfone.
Assim, no lance do gol final, ninguém encostou no “gênio”, tampouco o
perturbaram neste novo “golaço da rodada” – coisa, aliás, que esta geração não
sabe viver sem. Ainda fizeram aquela corrida acompanhando o movimento, entregando
todo o ângulo para o chute, não oferecendo qualquer combate. Porque não há mais
falta e carrinhos no futebol. E, também, há cada vez mais visível, esse “respeito”
lamentável exatamente por estes superpopstars e Barcelonas modernos. E os
“gênios” não podem ser incomodados. E assim vão,aplaudindo essa mentira. Eu
nunca!
Acabei o vídeo, ouvindo o Galvão falando suas besteiras de sempre,
justificando ali, masturbando aqui, um verdadeiro manager do dinheiro. De
futebol se fala pouco. Não há mais aquele Silvio Luiz dizendo “mas ninguém
encostou nele também, pô! Aí até eu!”. Ou algo qualquer que realmente pintasse
o quadro que vê, como manda a reza de um jornalista, esportivo ou não. A
crítica. O que fazia do jogo algo sério, mais do que a vida e a morte, também
não tem mais espaço. Não se pode criticar um produto que é seu. E assim, o
jornalista esportivo de hoje veste, como todo orgulho e submissão, o manto da
parcialidade. Veem um belo gol, mas não conseguem analisar de onde vem, como
veio. O gol de três chapéus do Vivinho, pelo Vasco, contra a Portuguesa, o
levaria ao Milan hoje. Só isso tenho a dizer. Não há mais consistência no
futebol. Sobrou o reino do superficial, isto é o que
sobrou do futebol. E eu pensando, porque
caralho eu ainda perco meu tempo com futebol atual? A novaArgentina, sem aqueles
cabeludos insanos, não é mais a Argentina pra mim. Os novos estádios,
torcedores. Todos representam a mesma coisa: dinheiro, riqueza, fama e beleza.
Isso já não é mais futebol. Sinto muito. A verdade um dia prevalecerá. Vejo
Messi como o melhor de todos esses ídolos modernos. E, por favor, não é porque
ele é o primeiro argentino deles. Desde meu ódio ao Ronaldo sou acusado de ser
antipatriota. Mentira! Era Bury e eu lutando juntos. Ao mesmo tempo em que
atacávamos a mentira da Ronaldo Mania, alertávamos sobre como Giovanni era transformado
em nada, jogando muita bola. Mas Messi é um dos poucos que não tenho dúvidas se
daria certo mesmo enfrentado a pauleira de antes. È na alienação, no exagero,
na imparcialidade, na injustiça que mora o perigo. Cria-se um senso comum e se
manipula uma sociedade toda. O torcedor de hoje é alienado. É o novo torcedor,
de fato. Novas roupas, mentalidade e atitude. Precisa tanto do passado que vive
comprando camisas de lá. Enriquecendo os de hoje, claro. Mas é sempre no
exagero, na manipulação que mora o perigo. E fazem isso no futebol, ao vivo! Prestem
mais atenção, já que não saem da frente da televisão mesmo. Não são só eles que
estão ficando sem cérebro. Bueno, sem mais delongas, o tempo vai passando. Um
dos grandes problemas. A memória do que era futebol vai ficando cada vez mais
distante. Sinto medo. Daqui a pouco o Fenômeno vira presidente. Nem imagino que
está por vir. Cuidemo-nos.
Ódio eterno ao futebol moderno!