"Jogador (insira aqui o nome de qualquer um) é gênio!"
Assim funciona um dos dispositivos mais definidores da moderna assistência de futebol: a criação dos "craques". Mas esta, a um observador atento, é facilmente explicável. Tome um neófito, uma criança de 12, 13 anos, por exemplo: quando toma contato com times de uniformes cuidadosamente atraentes, com design arrojado, jogadores de moicanos e tatuagens (visual agressivo porém palatável), gramados verdejantes que aparentam-se à visão de paraíso, toques de bola exaustivamente ensaiados para não darem a impressão de frieza e mecanicidade, audiências civilizadas que aplaudem cada lance - como desinstalar-se daí? É um mundo perfeito servido de bandeja, construído com esmero (e abundantes recursos) para que as percepções se nublem.
A partir daí dá as caras, então, a ignorância histórica - afinal, é necessário parâmetros para se tecer comparações. Como considerar alguém "craque" ou mesmo "gênio" sem a sombra de outro "craque" ou "gênio" a lhe fazer peso para a análise de seus recursos técnicos? Dali, daquele mundo verdejante e comportado no qual o instalaram, o garoto não deseja sair; como algo pode ser maior do que aquela milionária perfeição?, ele se pergunta. Não volta os olhos a momentos vulgares do futebol, Copa de 74, aqueles cabelos desgrenhados, costeletas, aqueles uniformes que colavam ao suor... Este ser, que já possui em si a a (moderna) tendência a amortizar-se, deita na cama, não busca sair do comodismo de sua época, não quer entender o esporte como um todo. Sua estagnação (em plena "era do conhecimento"!) o obriga, sem traumas ou culpa, a exaltar apenas os de seu tempo que, pela ausência de conhecimento, não sabe serem de plástico. E nessa ele fica, como parte atuante da engrenagem que move a mediocridade.
Muitos gênios, em 2012.
terça-feira, 13 de março de 2012
sexta-feira, 2 de março de 2012
O show do vazio
Vivo dizendo a um amigo: os de agora, ignorantes históricos contumazes que chafurdam por opção pessoal (ou mesmo por conta de uma inescapável mediocridade intelectual) no imediatismo mais raquítico, PRECISAM que Messi seja o maior de todos os tempos, pois a quantidade de dinheiro e de massiva publicidade que destinam ao jogador é tão sem precedentes que a necessidade de elevá-lo de qualquer maneira a um patamar de Olimpo é imperativa. O que significam os "recordes quebrados" pelo argentino, em tempos de futebol tão destroçado? Tais números sequer conseguem figurar com maior destaque na biografia do 10 do Barça, de tão frágeis (ou irrelevantes) que são se colocados em um contexto de história - apenas demonstram que a presença de um "craque" de tal magnitude não ajudou a fortalecer o futebol, e sim a enfraquecê-lo, para girar viciosamente em torno dessa grotesca mistificação (mistificação essa que a própria figura de Messi, um sujeito pálido, sem vibração, trata de tornar paradoxal a todo momento).
Se exageros ainda mais absurdos já foram perpetrados nesse desespero, típico dos nossos tempos, em encontrar relevância em si mesmo (como Ronaldinho Gaúcho, por exemplo, figurar em algumas listas de "maiores" feitas por esses asnos corporativistas que são os "especialistas"), o caso Messi apenas coloca a nu o horror de uma época que busca forjar a própria importância em lugar de ser realmente importante. E o vácuo só aumenta.
Se exageros ainda mais absurdos já foram perpetrados nesse desespero, típico dos nossos tempos, em encontrar relevância em si mesmo (como Ronaldinho Gaúcho, por exemplo, figurar em algumas listas de "maiores" feitas por esses asnos corporativistas que são os "especialistas"), o caso Messi apenas coloca a nu o horror de uma época que busca forjar a própria importância em lugar de ser realmente importante. E o vácuo só aumenta.
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