quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O medo é a chave

Por incrível que pareça, garanto que não sou eu o culpado pela repetição desta data. Mas foi no catastrófico ano de 1996 que eu vi pela primeira vez um time de futebol reter a bola num dos cantos do campo, para garantir um título sem jogar futebol e, pior, impondo a covardia ao mesmo – no caso, as garotas dos Estados Unidos, nas Olimpíadas de Atlanta. Foram quase cinco insuportáveis e ininterruptos minutos onde meu espírito se encheu de ódio, porque era claro que aquilo vigoraria, e nem sequer deveria existir – como muitas outras sombrias novidades viriam a partir dali. A covardia reina no mundo do futebol. Antes o que contava era a superação, a força, valentia e o espírito de grupo; hoje, isso foi alterado para o medo, a fraqueza, a choradeira e o individualismo. Os vícios relacionados ao futebol modernista são de ordem do segundo grupo. Em pleno ano de Copa do Mundo, o "país do futebol" abarrota seus campos com elementos técnicos de jogo de envergonhar quem viu Márcio Bittencourt, Pintado e Carlinhos jogar. Com a devida complacência dos árbitros e corroboração dos microfonados, algumas cenas já passaram de qualquer limite imaginável.

Uma delas é o artifício da “paradinha” nas cobranças dos penais. Tornou-se quase que regra recorrer a ela, inclusive por celebrados e consagrados “craques”, como fez Fred neste domingo para vencer o goleiro banguense. Antes de pensar em enfiar o pé na bola, ou colocá-la com maestria no ângulo, ou no canto do arco, a grande maioria adota o recurso – que deveria ser exclusivo de situações emergenciais – como garantia de sucesso frente a um arqueiro já batido de ante-mão e que ainda serve de cereja no bolo para os circenses programas televisivos de baixa categoria, como o tal de “É Gol”, do SporTV. Demonstrar tamanha falta de confiança sempre foi um sinal negativo para um player. Hoje, sempre há um jeito de mascarar estas deficiências através do espetáculo. Outra coisa insuportável é a proteção da bola feita por defensores numa disputa perto da linha de fundo. Também assimilada como melhor saída, o que se vê na verdade é uma obstrução clamorosa dos que estão com a bola à frente. Não importa se o atleta de trás complete um círculo em volta do marcador, este segue a sombra do adversário, impedindo-o, assim, de qualquer movimentação, de jogar. Os zagueiros nestes momentos parecem se esquecer da própria pelota, abrindo os braços para impedir os contrários de alcançá-la. Em praticamente todas estas situações, o árbitro anota falta daquele que continuou jogando pela bola, e privilegia o infrator, porque a ordem de hoje é anular a raça, o suor e a loucura de quem não desiste. Claro que todas estas decisões coincidem com a covardia dos microfonados que se utilizam de expressões pífias como “tentou forçar a passagem”, ou “empurrou claramente com os dois braços” para justificá-las. São vários outros elementos que escancaram o apodrecimento da luta e o engrandecimento do medo em campo e (garanto, porque acompanhei o nascimento destes vícios) não existiam na época em que dividida se ganhava com os ombros – para o deleite das torcidas - e os pênaltis se convertiam com o “fuego”, que citou o “Kaiser” Passarella.

Quando fica evidente que a covardia é uma das chaves mestres para o sucesso no futebol, você passa a não se surpreender mais quando um atleta mega milionário, paparicado, que há anos a fio vem pipocando frente aos desafios mais duros, já recebe a benção de todos para que volte à Seleção Brasileira, depois de “humilhar” o “lanterna” de um campeonato. Um jogo, uma imagem, mais uma ressurreição – em nome do lucro, nunca da arte. Jogadores de futebol, seguindo o exemplo “vitorioso” das norte-americanas, e de seus ídolos mimados, não conseguem mais superar o adversário com a dedicação e capacidade; mais fácil do que isso é usar as vias corruptíveis e deformadas que a nova ordem criou. E como este é um processo que se intensifica sem parar, fiquemos atentos, pois pode ser que amanhã mesmo mais uma novidade faça sacudir o esqueleto de Charles Miller lá embaixo.

PS: o tal de Grêmio Barueri já estreou na sua “nova casa”, e o estádio “ultramoderno” que ainda levantam na sua ex-cidade natal deve servir, então, como o castelo do deputado Edmar Moreira, em Minas Gerais. E na camiseta, em meio às dezenas de propagandas, um desenho de um coração com os dizeres: “Obrigado Presidente Prudente”. Faz-me-rir! Aos que ainda levam a sério o futebol, deixem seus nomes nos recados que eu acendo uma vela por suas almas.

3 comentários:

  1. É bom frisar que o "time" (?) do Barueri conseguiu exatamente o que queria: foi inteirinho desmontado, seus atletas foram realocados em times "grandes", e agora sua cartolagem conseguiu reunir outro batalhão de marionetes de empresário que esperam por igual destino no fim desse Paulistão. O lucro acima de todas as coisas agora ameaça até mesmo o tradicional conceito de "time".

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  2. "OBRIGADO PRESIDENTE PRUDENTE " É O CARALHO.

    O E F M

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  3. E assim, morreu el futbol!

    Em pensar que vou a Argentina assistir All Boys x Belgrano! Belissima peleja, de times de verdade!

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