Li recentemente, em texto colocado no blog de alguns amigos, que o sistema, travestido em palavras nefastas como "politicamente correto" ou "inclusão", tem usado de outra tática para engolfar aqueles que o tentam subverter: ao invés de combatê-los, os absorve. E não pense você que poderão se manter altas (e íntegras) as vozes de quem por ele foram cooptados, já que o interesse de tal ação é justamente o de poder moldar o discurso que antes parecia atrevido e radical, para que atenda aos interesses de seus contratantes e também consiga manter uma falsa imagem de "rebeldia" e "liberdade". A Internet é o pólo difusor de idéias prontas não a serem uma alternativa a esse sistema, como pode aparentar de início, mas a serem aqui expostas com um "venda-se" pregado em seus peitorais, para ver quem chega primeiro, com grana, disposto a levá-las ao mundo das grandes corporações (a situação ainda se mostra tão sufocante que, mesmo com a Web atingido todo e qualquer canto desse planeta, quem aqui se mostra ainda deseja ser "visto" por aqueles que podem bancar, nem que com migalhas, suas ambições - já que a simples exposição e transformação em "celebridade" parece ser bálsamo suficiente para que a pessoa se refestele em sua pobreza social e moral). São poucos os que não se arreganham para esse caminhão de facilidades que o "estrelato" pode proporcionar.
Essa tomografia dos tempos modernos, claro, também pode ser transposta para o futebol - e cai como uma luva nas atitudes do ex-zagueiro e agora técnico Antônio Carlos Zago. O sujeito, que foi um grandíssimo jogador na primeira metade dos anos 90, desandou a fazer besteira no fim de carreira e no início de atividades como engravatado. Havia sossegado como treinador de um time medíocre com mania de grandeza, o São Caetano, e vinha fazendo campanhas igualmente medíocres. Semana passada, conseguiu o maior feito de sua carreira como treineiro até aquela data: derrotou o Palmeiras no Palestra, e de goleada (mais por deficiência explícita do Verde do que por mérito dos 11 mortos-vivos que compunham o time do "Azulão"). Dia seguinte, já era apresentado no time que havia ajudado a humilhar. O que fica evidente, não só com essa atitude, é que AC não pensava no time do ABC paulista: sua cabeça estava voltada, desde o início, a ter uma oportunidade em uma maior "vitrine". Assim como os jogadores modernos, o treinador não focava seu trabalho no presente, e sim em um hipotético e vistoso futuro, no qual poderia ser contratado por um dos "grandes" (e para isso nem precisava mostrar capacidade, bastou a oportunidade certa). Não queria que seu trabalho trouxesse dividendos ao time: pensava somente em si próprio. Ele que, na quarta-feira da semana passada, representava, ainda que incipientemente, uma alternativa fora do pólo central do futebol paulista, uma força emergente que poderia vir a combater sem medo os Golias da capital e equilibrar as ações de um torneio desigual porque também sofre dessa mesma doença que o treineiro (o que é um Paulista se existe um "Brasileirão"? - todos querem o topo sem passar pela base), mostrou que sua real idéia era estar inserido no establishment, e nunca ficar à margem dele (coisa que também pode definir a própria agremiação do SC, clube que não consegue cair na real de seu verdadeiro tamanho). Quando acenaram com a possibilidade de isso acontecer, um trabalho de cerca de 8 meses que ali começava a dar frutos concretos foi descartado como um saco de salgadinho vazio, em prol não só da vaidade e da voracidade que um contracheque gordo traz junto a si, mas também dessa noção importada do american way of life que o momento de real mérito na nossa vida profissional é aquele no qual somos contratados por uma multinacional ou uma empresa "de porte". Lembrei na hora da declaração de Edmundo sobre Antônio Carlos, seu desafeto: "Como jogador nota dez; como pessoa, nota zero". À sombra dos últimos acontecimentos, impossível discordar do Animal.
E agora já tem gente dizendo que o Palmeiras do Antônio Carlos é "melhor que o do Muricy", depois de apenas um jogo. Recalcados, os jornalistas, que viviam tomando (justas) cacetadas do ex-mandatário verde, agora se esbaldam em sua "vingança". Provincianismo e imediatismo, no leva-e-traz contemporâneo.
"Temos chance de fazer história na Libertadores, de ir para a Europa, de chegar à Seleção, de estar na mídia - declarou Bolívar"
ResponderExcluirSim, aquele mesmo que deu o bracinho pro Taison dormir... E o Inter? Nada, segundo o pensamento do jogador.
Está em uma matéria do clicrbs sobre o 'silêncio' de Pato Abondanzieri antes da estréia. Não consegui postar o link aqui...
É isso o futebol hoje.
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