domingo, 17 de outubro de 2010

Beijim beijim, tchau tchau

Parece que foi de um dia para o outro que as mudanças tomaram o futebol de assalto, mas não foi. Desde a época de João Havelange no poder de sua entidade máxima, a FIFA, na década de 70, já se ensaiavam diversas mudanças que tomariam corpo definitivo na gestão Blatter, no final dos anos 90, para fazer do esporte uma máquina global de render dinheiro, acima de tudo. As bases já vem lá de longe - mas, mesmo neste mundo onde tudo precisa ser moderno, padronizado e lucrativo, certas práticas não caem em desuso entre os "boleiros", por mais que sejam consideradas desatualizadas, ultrapassadas, fora de moda, etc. Porém, como o entorno que cerca os atletas é radicalmente diferente, a maneira como tais atitudes serão recebidas também. E isso pode representar muito mais do que aparenta em dois ou três segundos de um VT de melhores momentos.

Sábado passado, Robinho fez seu primeiro gol pelo Milan. O ex-santista, que tem oscilado entre o time titular e o banco de reservas (de onde saiu nesta última partida), depois de anotar o ponto, foi até um ponto no qual poderia encarar a torcida que o criticava no início da temporada, e também ser fartamente fotografado e filmado pela mídia ali presente, e beijou a camisa do time. Não só precisava dar uma satisfação aos que o criticavam, como também mostrar que ainda pode existir amor à uma camisa nesse mundo canalha, vaidoso e inclemente do futebol moderno, que já o queria vitimar antes mesmo de poder desenvolver seus primeiros seis meses de trabalho por lá. Vindo de qualquer um, já soaria cínico... De Robinho, então, é praticamente uma afronta, até mesmo para quem não é torcedor do Milan.

Não se pode precisar quando surgiu essa atitude de beijar a camisa (eu, pelo menos, não sei), mas ela servia para aproximar o jogador do torcedor. Pessoalmente, acho que nessa tão propalada história de amor à camisa tem muita balela (com dignas exceções, claro, e essas podemos contar nos dedos); mas o ato de mandar um singelo ósculo ao escudo da agremiação ajudava a dizer aos que pagaram ingresso que o jogador é consciente de ser apenas um intermediário entre o clube o torcedor, nada além ou acima disso. É necessário respeito e grande dose de discernimento, antes de tudo, pois é fácil desmascarar o farsante nessa brincadeira; já que todo jogador possui um passado, é acompanhado incessantemente pela mídia, diz coisas que podem ser mal interpretadas, etc. Se tal ato hoje é mal visto, se existe, por exemplo a expectativa do iminente vexame se um jogador beijar o símbolo no novo clube em sua apresentação, por exemplo, é porque isso é demonstração de frontal hipocrisia - não porque não existe mais o tal "amor à camisa", e sim porque o compromisso com o futebol fica em segundo plano para as novas gerações, mais interessadas em ascenção social, celebridade, etc. Assim, o que dizer se é um dos que mais valorizam o culto à personalidade a origem de tal prática?

Robinho está acuado neste início de temporada na equipe rossonera. Tanto a torcida quanto seus companheiros não lhe dão colher de chá. Sem o tão benfazejo refresco do paternalismo, aquele que tem feito os atletas retornarem ao Brasil reclamando de "perseguições" dos técnicos estrangeiros, tem cortado um dobrado. Na comemoração do gol, o atacante comportou-se feito um cordeirinho, quase chorando frente à organizada do Milan, rebaixou-se como poucas vezes pudemos ver, porque ainda quer de qualquer forma ser aceito em um dos "grandes" do Velho Mundo, mesmo com a carreira já em curva descendente. Fez média com a torcida, sequer preocupou-se em considerarem sua atitude populista (pelo contrário, quis que a registrassem, a fez ali, perto de quem a captasse para retransmiti-la depois), porque realmente não se incomoda, pois, sim, ainda acalenta o projeto de ser o "melhor do mundo". Por qualquer lado que observemos, não importa quantas voltas dermos, com Robinho sempre cairemos no individualismo, no personalismo exacerbado, na falsa humildade. Um beijo na camisa é para ele a continuidade desse processo de contínua adoração ao próprio umbigo - e que a trégua com os torcedores do Milan, que não iam com sua cara, venha seguida também de idolatria, é só o que a ele interessa. Durma-se com um barulho desses.

2 comentários:

  1. ...e "esse barulho" nós conhecemos ha uns 14 anos, filhodaputa. com certeza, nao da pra durmir com ele

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  2. Robinho, nunca simpatizei por esse cidadão. Como não simpatizo por Neymar. Jogadores ou atletas para ganhar meu respeito deve ser humilde, além de tudo.

    Se puder, visite meu blog:
    http://futebolcatimbado.blogspot.com

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