segunda-feira, 12 de março de 2018

Sou brazuquinha, com muito orgulho e muito amor


Quando se começa a entender mais a fundo o que move uma torcida argentina a ser o que é, vemos que não são apenas cantos incessantes ou loucuras na arquibancada que os move: é a valorização do espírito, a criação de uma identidade conjunta time/torcedor, a ideia de honra que alentar até o fim seu clube de coração carrega consigo. Existe responsabilidade do tamanho do mundo em ser "hincha", na visão deles; é como se a plateia e os atletas fossem indivisíveis, unidos pelas cores que defendem, um está ali pelo outro e não se aceitam rupturas. A relação de uma pessoa com seu time diz praticamente tudo sobre seu caráter, na visão platina. É nas horas difíceis que o verdadeiro entusiasta mostra sua cara, portanto: quando um parente está adoentado, a função dos mais próximos é permanecer a seu lado não importa o desfecho, se trágico ou feliz. Honra, lealdade, caráter. Se uma torcida vira as costas para a agremiação ou é gratuitamente acintoso em suas cobranças dentro de campo, será lembrada por isso pelo resto de sua existência - vide o episódio do milho e das fraldas atirados a campo pela torcida do River Plate no episódio do fatídico rebaixamento à B em 2011, que rende achincalhes e vergonha até agora (vergonha que a própria torcida sente por ter sido tão infantil, que fique claro; é de dentro que surge a maior e mais eficaz das críticas).

Aí, nesse fim de semana, me surge uma "torcida" do São Paulo Futebol Clube que se recusa a entrar no estádio e faz "cortejo fúnebre" de sua equipe. Hahahaha.... O que dizer? Vomitar que "ama o SPFC acima de tudo" condiz com uma manifestação idiota dessas? Não entrar no estádio significa que o valor que você atribui ao time que torce é zero - que não significa nada para você pagar ingresso para assisti-lo. E pior: com essa atitude, colocam Leco e o atual elenco acima da instituição - como manter o discurso "jogadores e dirigentes são transitórios, o São Paulo é eterno", sendo que o próprio entusiasta, pelo visto, considera diretor ou atletas mais determinantes para sua presença nas arquibancadas? Que espécie de honra sustenta um cidadão como esse que, na agonia daquele que diz "amar", está orgulhosamente com as costas viradas e antecipando seu funeral? Não há dúvidas que o São Paulo tem problemas - porém torcida acovardada não era, até o momento, um deles.

Quando se encara a torcida argentina como "extremista" ou "exagerada" por nossa imprensa ufanista e/ou zés-pacheco pateticamente xenófobos (normalmente osmose de Galvão Bueno e suas tiradas que "esquentam a rivalidade regional"), é por conta de no país vizinho valorizarem coisas como honra, decência, caráter e hombridade através do futebol. O brasileiro, acostumado exatamente ao contrário, a utilizar o esporte para escancarar sua covardia atávica, nunca entenderá isso.

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