terça-feira, 22 de setembro de 2009

Mais do mesmo (ou um pouco mais que isso)

Sabe, cheguei a passar mal nessa segunda-feira, quando assisti aos programas espostivos da TV aberta na hora do almoço. Queria ver os gols do final de semana, já que não pude assitir quase nada da rodada do nosso querido "Brasileirão" sábado e domingo (por conta disso, foram dois dias bastante úteis e saudáveis, devo dizer), quando me deparo com um lance que, se classificado como grotesco, chega a ser suave: o gol de mão do Paraná Clube contra o Ceará, pela Segundona (até a divisão inferior precisa ser nomeada de forma espalhafatosa e grandiloquente, segundo a mente dos maquiavélicos marqueteiros). O tapa que o tal Wellington Silva (foto) deu na bola só não viu quem não quis. Foi uma cortada acintosa, um lance de vôlei de praia, de goleiro, de jogador de peteca, o que seja. Caberia até mesmo um cartão vermelho ao dissimulado centroavante, tamanha a vulgaridade de sua obra. Mas a tal jogada foi validada. Melhor: o ponto ilegal significou a vitória do visitante. E, novamente, vi algo que nos escancara a podridão reinante no esporte tratado de forma leviana pelos profissionais da imprensa. Algo que deveria gerar revolta e indignação vira, automaticamente, motivo para piadinhas e gracejos, e é logo esquecido na sequência. Não se pode estimular o senso crítico/político do espectador - vai que ele resolve se insurgir contra aqueles que o manipulam? Melhor é fazê-lo rir da desgraça para manter tudo na superfície. Dias, semanas, meses, anos se passam - e os mecanismos continuam a girar sempre para a mesma direção.

Mas, se aqui gostamos de fazer analogias com o que vemos dentro de campo àquilo vivido em nosso opressivo cotidiano, o que mais deve ser destacado nesse triste circo de bizarrias é a atitude do atleta, típica em nossos gramados. Ele, logo ao anotar o gol, saiu em disparada para comemorar. Ciente que havia o marcado de forma totalmente irregular, não viu pudores em vibrar como se tivesse acabado de mandar às redes uma perfeita bicicleta. Um pouco depois, não sei precisar se ainda no decorrer da partida ou já em seu término, uma repórter perguntou e ele mandou, de cara limpa: "É, foi com a mão". Ali, o falso malandro não conseguiu nem sustentar sua própria farsa, já que confessou o delito (e nem precisou ser apertado por nenhum "meganha" - o fez de livre e espontânea vontade). Ele que, no lance, parecia tão feliz e confiante em sua desonestidade, afrouxou, não sei se na inocência ou querendo contar vantagem. Só que nem mesmo a certeza da culpa condenou o camisa 9: como o tento foi validado, o camarada saiu de campo como um autêntico Deus da patifaria. Fez um gol de mão, comemorou na cara-de-pau, admitiu que fez errado, ludibriou a autoridade máxima em campo e, mesmo depois de tudo isso, deu a vitória para seu time. Levou vantagem em tudo, como dizia a célebre frase do Canhotinha de Ouro. O errado, o muito errado, transformou-se em certo. Todos esperamos por um momento desses. O humano, essa espécie tão corruptível, vibra mais ainda se a vitória vier por vias tortas ou por meios ilícitos. É parte indissociável da nossa natureza. O futebol, essa coisa tão comezinha, mostrou ali, naquele momento tratado como brincadeira por quem deveria mais do que ninguém levá-lo a sério, a face mais repugnante do mundo em que vivemos e da vida que levamos. E eu, passando mal, com o estômago revirado, fiquei cerca de 20 minutos até conseguir me movimentar de novo. Mas não me recompus até agora desse tão violento choque de realidade.

Um comentário:

  1. Amigo, de tudo, o mais condenável é mesmo a atitude da imprensa especializada. Pra eles, é tudo uma brincadeira. Confundem leveza e humor com irresponsabilidade.

    Abraços

    Fábio

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