segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O jogo dos sete erros

Percebi, nesses últimos tempos, que perdi a generosidade para com o futebol e com as coisas que a ele se relacionam. O que poderia, há um tempo atrás, contar com a minha tolerância (ou até mesmo me agradar), hoje em dia só me causa irritação e descontentamento. Até entendo o porquê de os comentaristas ainda encararem com tanta festa o que acontece nos gramados mundo afora - afinal de contas, eles lá estão porque amam o futebol, e resolveram fazer disso o seu ganha-pão. Só que aí reside o que mais me deixa aterrado: a paixão não pode excluir a razão. No início, fazemos besteira em nome daquilo que amamos, graças à imaturidade e à descoberta; com o tempo, já temos discernimento suficiente para separar o que é certo e o que é errado dentro de uma relação. Pois, vemos hoje, claramente, em qualquer mídia, que a linha que separa o olhar benevolente e carinhoso da calhordice hipócrita é mais tênue que que sequer imaginamos.

Ontem, o tal de Arnaldo Ribeiro, articulista da ESPN Brasil e co-apresentador do Sportscenter ao lado do péssimo André Kfouri (suas fracas piadinhas e falsa descontração chegam a dar vergonha alheia) disse, logo no início do programa, como se fosse um pé no peito à moda do antigo telecatch, que o atual Brasileirão é um campeonato "sensacional". Admito que, se a pessoa pega apenas a tábua de classificação, com suas diversas possibilidades de queda e ascensão das equipes, pode até pensar que trata-se, sim, de um torneio instigante. Mas o que se vê dentro de campo não é, mas nem de muito longe, tão genial quanto os números, sempre frios, possam apregoar. Peguemos o jogo de domingo como exemplo: parecia que tínhamos 22 mortos-vivos no gramado do Palestra Itália. Um Flamengo que fez o necessário para estar à frente do placar, e nada mais; um Palmeiras que parecia se arrastar em campo, com atletas passivos, desmotivados, entregues ao resultado adverso. Um jogo vagaroso, de técnica pobre, totalmente sem atrativos - e falamos de dois dos que ocupam as cabeças da tabela, candidatíssimos ao título! Como um campeonato que apresenta uma partida lamentável como essa pode ser considerado "sensacional"? E nem cito as outras pelejas da rodada, tão deprimentes quanto.

Que o comentarista é apaixonado pelo esporte, por suas variantes, estatísticas, camisas e tudo o que o cerca, é notório. Aplausos para ele, com toda a sua cultura futebolística. Mas o amor também pressupõe crítica. Se você gosta de alguma coisa, precisa também saber enxergar e apontar o que acontece de errado com ela, no intuito de melhorá-la. Engolir lixo não-reciclável e arrotar que trata-se de coisa "sensacional" é o mesmo que a esposa trair o marido continuamente (ou vice-versa), e este(a) permanecer conformado com tal destino, em nome da paixão que nutre pela cara-metade. Nosso amigo Arnaldo, pelo visto, prefere criar ilusões e devaneios a respeito de sua musa, e não enxergá-la como realmente é. Contenta-se em viver num mundinho de ficção, criado para mascarar a sórdida realidade em nome do corporativismo. Tal atitude pode ser classificada com uma quantidade enorme de nomes, a maioria deletérios - mas nunca, JAMAIS, pode ser confundida como generosidade. Faça-me o favor.

5 comentários:

  1. O motivo disso é simples.

    O futebol para eles, é negócio. Precisam vender o produto dele.

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  2. Se ele quer vender produto, não tem feito mais do que propaganda enganosa. E das mais nojentas.

    Hoje o figura aprontou de novo: disse que a Segundona promete "mutas emoções, igual à Série A". Hahaha, ele vê emoção em todas as frentes!

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  3. exato. bury matou fred. em 1988, por exemplo, vc podia vender um jogo entre corinthians e xv de piracicaba como bom, pq provavelmente ele o seria, mesmo com um 0 a 0 chato. pela qualidade em campo, o futebol se vendia sozinho. o q é nojento a respeito da nova ordem do futebol mercantilizado é exatamente vende-lo antes, como acontece com qq produto descartavel nas prateleiras. cerebro foi feito pra usar!

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  4. Emoção na série B? Hahahahahahahahahahaha.

    Sobre a propaganda enganosa, é algo parecido com o que vemos nas transmissões de jogos europeus. Dá nojo ver Éder Luís narrando jogos da Liga dos Campeões e da Eurocopa. Jogos modorrentos se tranformam em "partidas históricas". Isso porque ele narra para TV, e todos vêem que o que ocorre nas quatro linhas é totalmente diferente do que ele narra. Nem narradores de rádio ousariam fazer o que ele faz.

    Em tempo: prepare-se para a campanha "Ronaldinho Gaúcho na Copa"!

    Abraços, Fábio

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  5. Éder Luís é um câncer. Histeria total. Talvez seja o mais insuportável dos narradores - e olha que a concorrência é grande e qualificada...

    E é bom lembrar que a ESPN Brasil não tem nada a ver com a história, já que não transmite o Campeonatão Brasileiro. Devido a isso, deveriam ser muito mais imparciais, para não cair nesse ridículo.

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