
Um dia, já tão longínquo quanto a extinção dos dinossauros ou a descoberta do fogo, Manoel Francisco dos Santos, o popular Mané Garincha, disse que encarava o seu adversário como um João qualquer. Era uma época na qual o star system do futebol não era tão predatório (apesar de, claro, existiam as incontestáveis estrelas do esporte, afinal nem todos nasceram com o talento de um Garrincha, de um Schiaffino ou de um Puskas); e tal frase, para longe de denotar ingenuidade, mostra que o negócio do nosso maior extrema-direita era a objetividade do jogo, era fazer a bola rolar, pouco importando o adversário que se interpusesse entre ele e a linha de fundo. Status, fama, dinheiro, cartazes, patrocínio, foto em jornal - isso não significava absolutamente nada quando dos confrontos face a face. O contrário também via as coisas de semelhante maneira: não importa se marcarei Garrincha ou o ponta da seleção de Aconcágua; o farei como se ambos fossem a mesma pessoa. O compromisso era com o futebol e com a equipe pela qual suava o brasão - simples, nada mais do que isso. Hombridade em primeiro lugar, e pronto. Morto em 1983, o das pernas tortas não ficou entre nós para ver os zagueiros modernos transformados, definitivamente, sem qualquer pudor e por vontade própria, em verdadeiros "joões" do Cirque du Soleil futebolístico. Hoje, os da retaguarda agem como completos idiotas quando enfrentam uma "estrela": se amedrontam, evitam o corpo-a-corpo, querem distância da responsabilidade de anular aquele que têm como ídolo (vez ou outra, a própria torcida exige isso, veja a bizarria!). No fim da peleja, trocam de camisa com indisfarçável emoção, e até mesmo batem uma "fotinho" com a pessoa que, ali dentro do campo, acabou de tratá-lo como o lixo ignóbil que tal postura faz crer que ele realmente seja. E, enquanto o "mito" vai ao vestiário sem tomar conhecimento de quem acabou de enfrentar, seu oponente, humilhado como profissional e como ser humano, se contenta em levar para casa algumas lembrancinhas para filhos e netos. Mané, um amargo visionário.
E a Copa SP dos Empresários de Futebol segue a todo vapor... São 548392 times participantes, e o prêmio principal vai para o manager que conseguir encaixar mais atletas em times "grandes" - e depois, claro, coroar seu êxito ao exportar "talentos" para a Europa. Antes, o craque que ia ao Velho Mundo era negociado a preço de banana; hoje, são jogadores-banana os que são vendidos por verdadeiras fábulas. A equação se inverteu - e os deslumbrados pibes fazem a sua parte: comemoram os gols para a câmera de TV. Quem sabe não aparecem no Globo Esporte? Isso incrementa depois o DVD que o cappo produzirá, para mostrar a potenciais empregadores, os "melhores lances" do pupilo que fará sangrar até as derradeiras gotas. Ou cairia melhor um clipezinho no YouTube, como fizeram os assessores de Neymar para empurrá-lo ao Milan, ano passado? Você escolhe.
Por isso Diego Lugano se torna um idolo aonde passa. Disse ele, uma vez, que nunca trocava camisa ao fim do jogo, pois achava um desrespeito com o torcedor do time.
ResponderExcluirUma pena que os outros jogadores não vejam que isso os torna idolos. Não canetas ou pedaladas, ou gracinhas para as cameras.. O que ganha o torcedor, é a vontade e o respeito!
e as comemorações de coracaozinho de pato continuam... muita alegria e magia na copinha rumo a europa!
ResponderExcluirSó de ler me lembro do Robinho ciclista da Silva, o maior atleta sem objetivos do mundo, fora é claro do objetivo de se tornar o melhor do mundo...
ResponderExcluirCostuma comemorar seus gols pagando chupeta pra galera, sensacional!