quarta-feira, 6 de abril de 2011

Libertadores pra que te quero

Sou de uma geração que cresceu ouvindo a mesma cantilena: foi somente a partir dos anos 90 que o Brasil passou a se interessar por Libertadores da América com maior seriedade. Sou cético a respeito dessa "verdade" - não é possível que o Santos desse pouco valor à suas duas vitórias continentais, uma inclusive em cima do Boca em Bombonera, e que o Flamengo não soubesse o tamanho de sua conquista ante o Cobreloa nos anos 80. Mas os títulos do São Paulo no início da década de 90 fez esse discurso se estabelecer, pois, premonitório dos atuais tempos das "marcas" e do marketing sufocante, fez elevar-se a torcida e a exposição do time - e, junto com a obsessão de todos em ser o maior da região, veio aquele papinho já tão explorado nas disputas entre seleções tupiniquins e platinas, desde os tempos idos da Copa América (época em que o Brasil era freguês de todo mundo), de que só ganha o torneio quem souber fazer a tal 'catimba'.

Ficou então estabelecido que, se quisesse ser considerado um país sempre vencedor da Libertadores, era necessário ao nativo aprender a catimbar igual a uruguaios e argentinos. Dar apertão, xingar, pisar, socar, dar cotoveladas - jogar sujo mesmo, sem sentimento de culpa. Nossos jogadores, que sempre reclamaram da "truculência" dos platinos, andinos e etc., viram que era hora de tratá-los com a mesma moeda. O segredo estava aí: usar as armas do adversário para destroná-lo. Às favas o "futebol-arte do brasileiro", sua "natural habilidade, criatividade e irreverência", portanto - vamos ser machos e raçudos, chega de ser vítima desse futebol-força ignorante e sem requinte do resto da América do Sul! Somos melhores que eles com a bola no chão, caramba! Isso é notório!

Então, caro amigo, vá tentar ver a atuação de brasileiros na Libertadores hoje. É patético demais assistir a jogadores exercitando a agressão pela agressão, sem a menor malícia para o jogo de milonga, praticando forçadamente e muito mal (pois desejam mais jogar pra galera a imagem de que estão se entregando em campo do que realmente fazer algo de produtivo) algo que não entendem, que foi imposto de fora pra dentro. E, se confundem catimba com violência gratuita, é porque entram no tapete verde movidos por essa xenofobia grotesca pregada pelos meios de comunicação, que estimulam rivalidades da forma mais simplista e rasteira possível (centrada em lugares-comuns do tipo "argentino é arrogante" e "uruguaio só sabe bater"), e não querem se impor pela malandragem: querem é revide. Assim, os jogadores brazucas, com a visão turvada por seu preconceito e total falta de conhecimento das escolas sul-americanas de jogo, jamais desestabilizam o adversário, objetivo principal do catimbeiro - desestabilizam somente a si mesmo e a própria equipe! Confundir estupidez e falta de recursos com "raça", um problema crônico do nosso futebol - e que, a cada dia que passa, torna-se mais risível.

Um comentário:

  1. e seguindo o raciocinio, tem a midia. os "especialistas" da sportv se perdem com as torcidas, com os arbitros, com os jogadores, com os apelidos dos times, com td. a nao ser ficar babando ovo daqueles que menos representam a libertadores e (quase) por coincidencia mais representam a nova ordem. libertadores mesmo, saudades!

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