terça-feira, 21 de junho de 2011

Pincelar bem para pincelar sempre

É legal ver que alguns comentaristas midiáticos (não por coincidência, aqueles que possuem o perfil mais "combativo" ante a malta de cachorrinhos de dondoca que povoa a crônica) compram a idéia do "ódio eterno ao futebol moderno" - mas não adianta achar que essa briga se resume à questão da elitização das arquibancadas e nada mais. É o mesmo que tratar de um ou outro órgão em uma doença que já se espalhou por vários deles. Ora, de que serve a pessoa fazer discursos de repúdio ao estágio atual do esporte, enquanto, ao mesmo tempo, exalta clubes que fizeram (e que continuam fazendo, sem trégua) por matar e enterrar o espírito real do jogo, e trata a pão de ló esses jogadores holográficos que vivem a realidade do futebol-marketing às últimas consequências? Uma coisa não exclui a outra: todos possuem sua parcela de culpa; e, se deseja-se realmente uma mudança, a solução definitivamente não é estapear com uma mão e afagar com a outra.

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Linko vez ou outra aqui alguns textos desses blogs "de esquerda" - mas como é triste dar uma passada d'olhos nos comentários destes sites! Sim, pois tais veículos são, supostamente, direcionados a quem deseja ver desnudadas as artimanhas sujas da mídia monopolista; mas, quando o assunto é futebol, essas mesmas pessoas ditas "esclarecidas" e "conscientes" (em nome, via de regra, da paixão clubística, e, para defender "astros" da profissão, daquilo que existe de mais raso e clichê no discurso patriótico) passam a cordeirinhos do senso comum com velocidade estonteante. Ou seja: tornam-se reféns e vítimas daquilo que acreditam criticar; caem com facilidade na armadilha a qual se crêem alertas; em função de um provincianismo risível que parece esquecer que futebol também é política massiva de controle e manipulação, e que, assim sendo, traz consigo corrupção, tráfico de influência, favorecimento ilícito, etc. Demonstração cabal de que as ventosas do esquemão vigente são tão perniciosas e envolventes que se estendem até onde menos imaginamos.

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Como disse em outro post, o futebol anda cada vez mais previsível - e o título do Santos foi anunciado antes por aqui. Foi também, como o esperado, uma festa que visava, antes de tudo, produzir imagens para a TV. Assustava ver que o que acontecia em campo não existiria sem a intermediação de uma máquina, foi montado em sua função; e, a ela, acima do próprio espetáculo em si, cabia a responsabilidade por guiar as reações e sensações. Quem estava no gramado (até mesmo seres periféricos, como reservas, cartolas, etc.) atuava com o propósito de ser eternizado em fotos e fotogramas; calculava suas poses para melhor aparecer em capas de jornais e esportivos do meio-dia, fornecia bons ângulos de foco e esperava ser correspondido; premeditou as atitudes que tomaria caso o título chegasse com esse propósito, o de produzir efeitos bombásticos pela pose. Como bons veiculos de marketing que são, os jogadores aprenderam a viver o efêmero, e fazem até mesmo a conquista de um título tornar-se evento frio, mecânico, artificial, esquecível dali a algumas horas. Isso caracteriza o futebol moderno: ser ligeiro de espírito; jurar amor aqui e dias depois jurar em outro lugar, sempre sob o signo do consumo. A vaidade e o egocentrismo exacerbados talvez sejam suas únicas manifestações de vida não-programada, não-publicitária - e Neymar dar a volta olímpica sozinho e correr a jornalistas antes de partir para a torcida é a realidade do futebol mundial em 2011 esfregada em nossos focinhos.

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