terça-feira, 6 de setembro de 2011

Esse 2011, que ano traquinas!

- Em conversa recente com um amigo, chegamos à conclusão de que a covardia do fair play, instituído por Blatter e seus cordeirinhos há um par de décadas, nada mais é do que um dos tentáculos do polvo mercadológico que domina todas as atividades humanas em 2011: trata-se de uma forma de limpar o jogo para vendê-lo melhor. Depois, pensando no assunto, vi que a maciça presença feminina no futebol hoje nada mais é do que um desdobramento dessa política – é uma forma de expandir público e, para usar o termo que deixam molhados tanto os marketeiros quanto boa parte dos analistas esportivos de hoje, “atrair consumidores e vender uma marca”. Pois uma garota sentiria-se interessada por um jogo como a final do Brasileiro de 90, na qual Antônio Carlos, Bernardo e Márcio desandaram a distribuir rasteladas em quem quer que lhes aparecesse à frente? Dificilmente, convenhamos. Amaciar essa selvageria era imperativo para trazer ao shopping center do futebol todos os sexos, todas as idades, famílias, tios bonachões, anunciantes crentes no poder de um sorriso e quetais. Não temos aí uma questão técnica, a balela de "conter a violência nos gramados para melhorar a qualidade do espetáculo" que usaram como argumento para o convencimento da massa, e sim uma parasitária imposição externa a influir diretamente no jogo para dele extrair não jogadas e gols, e sim capital - nada mais 2011 do que isso, portanto.

- Não é à toa que, entre tantos outros motivos que vivemos destacando aqui, desde que o futebol se assumiu como um esporte televisivo acima de tudo, o nível técnico tenha caído tanto. Pois temos câmeras em todos os lados do campo, para captar qualquer movimento, dispostas a engolir os jogadores se for preciso, e diversos seres a narrar absolutamente tudo o que acontece, transformando os jogadores (e a si próprios também, no caso do “jornalismo-stand up” global) em atores sabe-se lá do quê. Pois então: como, cercado de um aparato dessa magnitude, um jogador pode concentrar-se somente no jogo? Independente do talento que possua, não existe mais possibilidade do atleta respirar e pensar o futebol – ele precisa estar constantemente ligado ao já citado aparato, porque este agora se arroga o papel de ser o único meio de lhe emprestar uma vida. Existir, jogar, ser atleta profissional, está intimamente conectado ao desespero de se fazer notar pelo mercadológico/midiático porque estes tornaram-se a única forma de contato possível dessa gente com o mundo. Lembre-se disso da próxima vez que o "craque" do seu time comemorar a marcação de tentos com a câmera de TV.

- Futebolistas modernos são criaturas tão pouco marcantes, tão domadas por aquilo que é externo ao jogo, que necessitam ser chamados por nomes compostos para que sejam identificados até mesmo a si próprios. Isso sempre existiu, claro (Leônidas da Silva, Domingos da Guia, Jair Rosa Pinto, Mauro Ramos de Oliveira, etc.), mas agora assumiu ares de pandemia – e, se antigamente servia como uma deferência, uma forma de evidenciar o respeito adquirido por um craque citar seu nome completo, hoje é uma tática necessária para desembaralhar essa camarilha de seres sem alma que despersonaliza cada vez mais o esporte. Todos os times possuem seus Renans Oliveiras, seus Andrés Santos, seus Maikons Leites, seus Thiagos Ribeiros, seus Fabrícios Carvalhos - e agora a seleção conta com gente tipo Mário Fernandes (foto) e Renato Abreu, tão carismáticos quanto uma folha de alface. Não dê muito, e esses típicos funcionários de repartição do futebol estarão em campo ostentando crachás com seus nomes inteiros, para que possamos saber quem é quem nesse mar de impessoalidade e imbecilização (da qual não são vítimas, e sim agentes diretos porque coniventes).

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