terça-feira, 10 de março de 2015

Dá pra ver que o senhor tá fora da onda


Procure aí, é uma mania que se alastra desde a criançada "expert" em futebol de hoje em dia aos comentaristas mais respeitáveis: superou-se o desenho tático (expressão que, utilizada a contento, empresta a qualquer um o vulto de "especialista") simples e direto de um 4-3-3 ou o tão batido 4-4-2, estes já cheirando a mofo, antigos, inertes, inexpressivos; agora temos uma festa de números para explicar como os times se postam em campo, coisas tipo 4-2-1-2-1 ou 3-2-2-1-1-1, ditas preferencialmente com gestos estilo Paulo Calçade, que usam as mãos e o dedo indicador para explicar a movimentação dos atletas em seu vem e vai para "marcar os laterais" e "fazer a parede" (termos estes também bastante utilizados pela molecada no recreio das escolas). É "falso 9" pra cá, é "time compacto" pra lá... Parece que o Barcelona de alguns anos atrás fez o futebol enfim nascer; tudo que veio antes é natimorto e apenas preparou o terreno para esse esquadrão revolucionário.

Ô rapaziada, desculpem essa minha mesquinha tentativa de estragar seus sonhos molhados, mas não foi o Guardiola que inventou isso não! Não foi o Pep que institui o "atacante que flutua" ou essa obsessão freudiana de treinador brasileiro, a de "recompor o meio-campo". A Holanda de 74 se notabilizou também por seus craques não guardarem posições fixas, não sei se vocês sabem; até mesmo a Hungria de 54 entrou para a história com a junção de força ofensiva e inovação tática - e o abismo que separa as duas épocas é exatamente esse: a preocupação antigamente ela colocar o time à frente, a busca de um resultado, ATACAR (palavra sumida do noticiário esportivo de uns anos pra cá, e que merece ser escrita com maiúsculas); a de agora é o pragmatismo sem cara herdado do mundo corporativo, a agonia sem fim do "domínio de bola" para "gerar resultados". Nessa, Rinus Michels foi derrotado por Carlos Parreira - e Guardiola, assim como o tão badalado brazuca Tite, quer vocês queiram quer não, é uma variação deste último, e não do primeiro (portanto, é hora de aceitar que de revolucionários nada possuem).

Sem contar que time abolir centroavante em favor de jogadores "táticos", essa balela de "meia-cancha congestionada" que faz brilhar os olhinhos dos treineiros de discurso empolado e apaixonados por volantes de cá, combinemos, são opções que nada tem de arrojado: apenas evidenciam a covardia e a falta de sentido do inofensivo futebol moderno, esse que não quer ver "organização" e "ousadia" tornarem-se sinônimos - há de sempre privilegiar-se a primeira; o que possa surgir em função disso é consequência, como diria Carlos Parreira, campeão do mundo em 94. A não ser que você considere "ousado" um meio-de-campo que troca passes ad infinitum e que estatísticas de posse de bola sejam mais significativas que o de tentativas a gol...

Tio Cruyff tá lá, rindo a valer dessa frescurada teórica.

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