segunda-feira, 1 de junho de 2015

Vamos colocar o castelo de areia abaixo


Voltemos ao caso dos jogadores mimados - dois acontecimentos recentes exemplificam a frescura:

Ontem, no estádio Beira-Rio, o centroavante Luis Fabiano foi sacado pelo treinador Milton Cruz. Saiu nervosinho. O repórter de campo alertou: "parece que ele não gostou da substituição". Um sujeito de 34 anos, em má fase que perdura há tempos e que nada havia feito em campo, ao ser retirado do time, se comporta feito criancinha birrenta. "Sequer olhou para o treinador", repetia o homem do microfone, enquanto o comentarista craque Neto buscava justificativas (o papo do "tem crédito com a torcida por tudo o que já fez pelo clube" sempre surge nesses momentos, com efeito apaziguador). Não destaco este fato por achar que houve "falta de respeito", tampouco por acreditar que o veterano atacante deveria acatar tudo o que o técnico ordena, mas sim por acreditar que a autocrítica desses excessivamente sensíveis miliardários esteja tão combalida a ponto de colocá-los em situações vexatórias como essa. Fabiano realmente acreditava que sua permanência em campo era imprescindível? O que havia feito no jogo (e, por extensão, na temporada) que o leva a ver-se tão necessário assim? Não é novidade jogador vaidoso que coloque o ego à frente das circunstâncias, mas vivemos um momento no qual a soberba é ela própria o espetáculo. Um aparato de aspones (assessores, agentes, empresários) torna-se mais importante que o jogo, e não só permite que o mau futebol permaneça em campo, mas praticamente exige, afinal é sustentado por ele. Se o mesmo mau futebol enfim o tira do gramado, vem esse escândalo. Existe uma estrutura que parasita o atleta, a seiva que a mantém viva é a bajulação, o tapinha nas costas, a distorção - e a atitude de Fabiano, esse super-homem imaginário que há muito parece ter na bola a sua kriptonita, era não arrogante, mas sim de proteção. Proteger o que viciou o futebol e transformou-o nessa exibição contumaz de vazio: para esses caras, missão dada é missão cumprida.

Sobre o segundo acontecido, começo com uma historinha. Certa vez um primo meu estava em casa, e fomos assistir a um jogo do Barcelona. Isso faz algum tempo, porém já existia um oba-oba em relação a Daniel Alves que eu, mesmo naquela época distante, enxergava como injustificável. Falei pra ele: "esse cara não consegue acertar um cruzamento, se liga". Ficamos de olho. Veio a primeira bola alçada na área: errada. A segunda, também lá longe. A terceira, a quarta. Até onde suportamos assistir, o incensado "Dani" realmente não conseguiu acertar um cruzamento sequer! E eis que o limitadíssimo jogador agora vem a público se dizer "magoado" com o Barça. "Esperava mais reconhecimento", confessa, quase levando nossos solertes analistas às lágrimas, que, claro, concordam com o desabafo do lateral. Aqui, neste sítio, ninguém tem peninha de jogador com esse perfil não: atleta com alma de carreirista deveria saber que comportamento de empresa com relação a seus funcionários é sempre impessoal, em especial com subalternos sem brilho. Que "Dani" Alves cesse sua choradeira e agradeça, pois no fim das contas alcançou muito mais do que seu futebolzinho mixuruca o credenciava - e que seu duvidoso gosto estético mereceria.

(Aliás, quem tentou assistir ao já citado jogo do Inter contra o SP ontem deu de cara novamente com o espetáculo bizarro dos times que não querem vencer jogo. "Quando os craques resolveram não jogar...", diria o profético Fernando Vanucci a respeito da copa de 2006 - mas para o "Brasileirão" de 2015, aquele que encontramos times favoritos de cima a baixo, também serve feito luva.)

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