quarta-feira, 23 de novembro de 2011

É que a maquiagem ajuda um pouco

Aproveitando que Toro reativou este sítio, contarei uma breve historinha aos amigos.

Não via um jogo há umas três semanas. Não havia vontade. O Brasileiro, que todos os envolvidos financeiramente com a competição sacramentam ter "um final emocionante", só me provoca bocejos. Tudo ali recende a morte e oportunismo; cada novo jogo é um velório de 90 minutos com gente a disposta a tudo pela venda do caixão mais caro. Coisa reservada aos nulos de espírito ou aos entusiastas das facilidades modernas (tecnologia, consumismo, conectividade, etc.). Pois bem: fui encarar de assistir Corinthians x Atlético-MG. Não consegui; me perdia em meio a outras coisas mais interessantes. Então o Galo sai na frente - e o Mosqueteiro empreeende uma pressão tão fajuta, tão em acordo com esses tempos de aceitar qualquer carrinho como "raça", que instantaneamente passei a ter nojo daquela vergonha em campo. Era uma pressão desordenada e de fundo medíocre porém já rotulada de antemão como "típica do Corinthians"; a classificação precedia o que acontecia em campo, e assim deveria ser engolida pelos que assistiam, mesmo que esses percebessem ali um time amedrontado com a repercussão da derrota em casa para seus planos pessoais, e não um esquadrão em busca de uma virada a segurar o próprio coração na ponta de uma estaca.

Pois então o orgasmo da mídia (essa entidade que hoje é quem pressiona os jogadores e as agremiações, não mais a torcida) entra em campo: Adriano. Neto já percebe que o "Imperador" não tem condições de jogar, e o diz, até mesmo com certa raiva, no microfone da Band. De repente, Adriano faz o tento que vira a partida. Eu desando a rir, não conseguia parar de gargalhar, tive um acesso de riso como há muito não tinha, pois ali estavam desnudadas as maiores falácias do futebol moderno: um sujeito que, de gordo e aleijado passa a gênio em um piscar de replays; uma torcida que vaiava uma atuação bizarra de seu time e que, em alguns instantes de uma magia que só o hipnotismo coletivo pode proporcionar, passa a considerar aquela uma "virada histórica" (é muita história sendo feita em tempos tão nulos, não?); comentaristas de TV e redatores de sites já com as manchetes prontas, tipo "Adriano salva o Timão", "Virada na raça", "Sofrido como corinthiano gosta" e bobagens assim que não apenas não davam conta da piada que se via em campo, mas que mostravam como nossa época carece (mas não se interessa por isso) de sair do script do lugar-comum... Saí da sala ainda gargalhando; com o cenário todo pronto em minha mente, só precisaria ali continuar se fosse débil mental. No dia seguinte, por prezar minha saúde estomacal, não acessei site algum - somente um, o blog do querido Neto, que, já esperado, mudava seu discurso, agora em prol de Adriano, pois este "calara sua boca". Assim funciona: mude sua opinião de acordo com o lado para o qual o dinheiro e a preguiça mental apontam. Não mais assisti a nada relacionado a futebol ou ao imundo Brasileirão depois disso; e, quando algo surge de surpresa, minha reação imediata é dar risada. Fim.

(Em tempo: o site do garoto Lucas, esse craque que nunca decidiu um jogo, lançado com estardalhaço essa semana, configura-se como um dos capítulos mais constrangedores do futebol em toda a sua história. Não linkarei esse entulho aqui - se tiver curiosidade em ver a maquiagem que o modernismo reserva a seus "meninos de ouro", vá ao Google por sua conta e risco.)

2 comentários:

  1. e lembrar da virada, tambem por 2 a 1, dos mesmos times em 90 e da atuação genial desse gordo Neto.... quanta distancia mermao!

    e outra: to com vontade de tacar fogo em todas essas lojas do corinthians mano! os caras tao vendendo camisas de hj, com patrocinios e td, claro, e os nomes de idolos de antes. aaaaarggh!

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  2. Se você tiver a curiosidade de ir ao blog do Gordo, verá que Neto, SIM, teve o dom de comparar a virada-Adriano em cima do Galo com essa mesma que citaste e que ele protagonizou! Realmente, esses caras perderam todo o senso do ridículo

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